Preste atenção nos livros infantis que você tem em casa e nas histórias que lê para seu filho ou sua filha. Quantas delas têm protagonistas femininas? E como são essas protagonistas? São meninas de todos os tipos, com todos os aspectos físicos, empenhando todo tipo de profissão? Oferecer um arsenal rico e variado de personagens meninas e mulheres para a nova geração é fundamental. Para entender por que, confira a seguir:
Representatividade importa
É importante para a consolidação da autoestima e da identidade da criança que ela possa se ver nas páginas de um livro. Assim, quando a menina se depara com protagonistas femininas, entende inconscientemente que ela também pode conduzir as próprias narrativas. Mas essas histórias não são recomendadas apenas para as meninas: ao encontrarem protagonistas femininas, os meninos passam a construir um imaginário mais completo e respeitoso das meninas e mulheres.
Quebra ideias preconceituosas
Existe coisa de menino e coisa de menina? Vivemos em uma sociedade que motiva as pessoas, desde crianças, a seguirem determinados papéis de gênero. Assim, os meninos são incentivados a serem corajosos e ousados, a falarem pouco sobre seus sentimentos e a não chorarem, por exemplo. Já as meninas são induzidas a serem delicadas, românticas e mais contidas. Sabemos, entretanto, que há meninos e meninas de todos os tipos, que poderão ter uma jornada mais feliz e autêntica se puderem ser eles mesmos.
Os meninos também aparecem em maior proporção, especialmente como protagonistas – de acordo com uma pesquisa publicada em 2012, mais de 60% dos personagens da literatura brasileira contemporânea são homens. Oferecer aos pequenos histórias com personagens e protagonistas femininas variadas ajuda a quebrar esse padrão, mostrando que há meninas e meninos de todos os jeitos e em todos os lugares.
Meninas podem ser fortes
Pensando nos estereótipos de gênero, é raro vermos meninas ocupando posições de destaque ou de heroísmo. Por exemplo, nas histórias clássicas, como os contos de fada, as meninas costumam ser as princesas, que apenas são salvas dos desafios por meio da figura de um príncipe. Raramente são as heroínas ou que resolve os conflitos em suas jornadas. Isso pode contribuir para que se fortaleça a ideia de que ter um relacionamento amoroso é a ação central da vida de uma mulher, ou de que ela precisa de um parceiro para lidar com desafios e se sentir completa. Mostrar histórias em que as protagonistas femininas sejam ativas e corajosas é importante para romper com essa ideia.
Meninas podem desempenhar qualquer função
Ainda não há uma quantidade igualitária de mulheres em posições de destaque nas ciências, na política, na tecnologia e em outras áreas. Entre outros fatores, isso é reflexo da nossa construção histórica. Afinal, as mulheres tiveram acesso à educação muito depois que os homens, assim como puderam se dedicar a uma carreira política muito depois também.
Ao longo do tempo, passou-se uma mensagem de que algumas atividades, como fazer engenharia ou jogar futebol, eram somente destinadas aos homens. Para se ter uma ideia do quanto isso é recente, a prática esportiva profissional do futebol feminino só foi liberada em 1979, antes disso ela havia sido proibida por um decreto com o argumento de que a prática feria a chamada “natureza feminina”. Desse modo, quando a literatura coloca protagonistas femininas desempenhando esses papéis transmite a ideia de que as mulheres podem sim ser o que quiserem.
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Cuidado com a formação da autoestima
Sabemos que há um padrão de beleza muito presente na nossa sociedade por meio da mídia. Ele transmite a ideia de que a mulher deve buscar sempre um corpo magro, ou de que mulheres loiras e de cabelo liso estariam mais próximas de um ideal de beleza. Tudo isso contribui para criar uma pressão que segue as mulheres por toda vida, começando na infância e minando sua autoestima e a aceitação de sua aparência individual. Trazer protagonistas femininas de todos os tipos, com todas as formas de cabelo, todas as cores e todos os corpos, ajudaria também a ampliar a representatividade e a fortalecer a autoestima das garotas.
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1. A bolsa amarela
O que fazer com um desejo que é difícil de entender? Raquel tem três desses desejos: a vontade de crescer, de ser garoto e de ser uma escritora. Como não sabe lidar com tudo isso, entra em conflito consigo e com a sua família, escondendo sua fantasia numa bolsa amarela. Enquanto tenta entender seus anseios e lida com desafios do mundo real, ela se descobre como pessoa.
2. A curiosidade premiada
O encantamento diante do mundo e o desejo por descobrir como tudo funciona são traços característicos da infância, mas Glorinha é um caso à parte! A garota enche todos à sua volta com perguntas, deixando seus pais, familiares, vizinhos e até a professora loucos. Mas será que curiosidade demais faz mal? Com delicadeza e sensibilidade, as páginas deste livro nos mostram que é fazendo perguntas que reciclamos a admiração pelo mundo e pela vida.
3. Alice
Uma menina que corre atrás de um coelho atrasado. Um chá que nunca termina. Uma Rainha Vermelha e outra Branca. Alguém com cabeça de ovo. Parece maluquice? Falando em cabeça, é melhor você ler o livro antes que a Rainha de Copas ordene, “Cortem-lhe a cabeça!”. O que acontece quando Alice tem de enfrentar os medos de ser pequena e as responsabilidades de ser grande?
Ao cair na toca do Coelho Atrasado, Alice se aventura por um país que questiona a lógica tradicional da sociedade. Uma história que inaugura um novo olhar sobre várias questões, além de provocar no leitor a percepção de que estamos em constante processo de transformação.
4. A moça tecelã
A moça tecelã é uma das mais importantes obras da literatura infantojuvenil brasileira. Essa história apresenta uma mulher que torna real tudo o que tece: o amanhecer, as cores da natureza, um lar. Um dia, sente-se só e tece um homem com chapéu emplumado. Ele lhe pede para tecer uma casa, depois um palácio, colocando o tear mágico aos seus caprichos. Por fim, a moça se vê presa naquela situação. Mas a personagem pode tecer e destecer o seu destino.
Um lindo livro escrito por Marina Colasanti e que as irmãs Dumont majestosamente bordaram com os belos desenhos de Demóstenes Vargas.
5. Doze Reis e a moça do labirinto do vento
Esta obra traz uma antologia de contos de uma das maiores autoras contemporâneas de literatura infantil e juvenil: Marina Colasanti. E mais, uma escritora brasileira que traz, por meio do simbólico dos contos de fadas, questões humanas extremamente profundas, repletas de temas associados a vivência feminina.
Como a própria Marina diz, os contos de fadas são uma preparação para a criança entrar no mundo dos sonhos, ou seja, o mundo interior. Seus símbolos substituem uma ideia, uma forma de sentir. Nem sempre a criança capta as camadas de leitura mais profundas. Mas a literatura deixa suas pistas, e se num momento inicial a criança lê apenas o aspecto concreto da história, obras como as de Marina Colasanti começam a abrir caminho para a compreensão de novas camadas mais adiante.
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5. Histórias da Preta
Quem inventou o nome da cor das pessoas? Como é ser uma criança negra? “Preta”, é assim que sua tia Camila a chama. É sua tia quem lhe conta as histórias que ouviu, viveu e imaginou. Histórias dos povos da África, de menino japonês, de menina transparente. Diferentes histórias, histórias de diferenças.
Nesta obra, Preta nos conta histórias de um povo africano que veio para o Brasil como escravo, que sofreu, mas construiu aqui um novo lar. A personagem conta assim histórias sobre a sua ancestralidade, “histórias sobre a sua própria história”. Trouxe-as, junto de seus costumes e crenças, por meio da oralidade, passada de geração a geração. Trata assim da importância de preservarmos as nossas histórias como uma forma de não perdermos nossa memória e nossa identidade, e assim a nossa autoestima.
7. Malala
O que uma menina que nasceu no Paquistão tem a ver com as meninas no Brasil? A menina Malala, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, nos mostra a importância da Educação para o desenvolvimento de uma sociedade sem intolerâncias e que valoriza o outro. A voz dela ecoou pelo vale de Swat, no Paquistão, atravessando fronteiras e relatando o sofrimento de uma população que foi reprimida por questões culturais e religiosas. Malala ganhou o prêmio de Melhor Livro Informativo e Adriana ganhou o prêmio de escritora revelação pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ.
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8. Molicha
Ser irmão ou, ainda mais, ser irmão gêmeo não significa ser igual ou parecido. Este livro desconstrói, com humor, a caixinha de padrões onde muitas vezes somos colocados, enquanto revela página a página algumas dinâmicas cotidianas tão comuns aos que vivem em família. Nesta obra, ao contarem um pouco sobre si, os personagens demonstram a personalidade e a identidade de cada um, que nem sempre é aquela que se espera para cada gênero, como o fato de o menino gostar de balé, e a menina gostar de futebol.
9. O caderno vermelho da menina Karateca
A história apresenta a personagem que se intitula “N” (a segunda letra do seu nome), e que questiona o fato de ser uma menina e não poder fazer coisas que os meninos fazem. Apesar de durona, a sua fragilidade também aparece na história. Ser forte e frágil independe de gênero. Às vezes somos fortes em determinadas situações e em outras somos totalmente frágeis. Em todas as fases da vida nos questionamos sobre as coisas. Mas na fase da adolescência esses questionamentos parecem ser mais latentes. A personagem se pergunta sobre futuro, profissão, amor, religião, família e muitas outras questões. Como ela mesmo diz, “a dor do crescimento”.
10. Ombela
Por que chove? Como isso acontece? De onde vem a água doce dos rios, lagos, lagoas e a água salgada do mar? Este lindo conto africano apresenta a mágica história de Ombela e seus sentimentos. Os mitos, geralmente, trazem histórias baseadas nas tradições orais e nas lendas que foram criadas para explicar o universo, a criação do mundo e os diferentes fenômenos naturais. É importante que a criança tenha acesso às várias lendas e culturas para entender que existem diferentes olhares para o universo e diferentes formas de decifrá-lo.
11. O monstro monstruoso da caverna cavernosa
Clássico da literatura infantil brasileira, este livro de Rosana Rios já foi lido por gerações e ganhou diferentes interpretações de ilustradores. Nesta obra, a autora desconstrói clichês ao apresentar modelos de personagens alternativos àqueles estereótipos associados à masculinidade: um monstro que não gosta de comer princesas, uma princesa que não gosta de castelos e um príncipe que não gosta de lutar.
12. Quando me descobri negra
“Tenho 30 anos, mas sou negra há 10. Antes, era morena.” É com essa afirmação que Bianca Santana inicia uma série de relatos sobre experiências pessoais ou ouvidas no círculo de mulheres negras que organizou. Com uma escrita ágil e visceral, denuncia com lucidez – e sem as armadilhas do discurso do ódio – nosso racismo velado de cada dia, bem brasileiro, de alisamentos no cabelo, opressão policial e profissões subjugadas.
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