Apelidada de preta por sua tia, uma menina levanta questões como: "ser negra é como me percebem? Ou como eu me percebo? Ou como vejo e sinto me perceberem?" e "quem inventou a cor das pessoas?". Reunindo informações históricas, relatos pessoais e reflexões críticas, os textos abordam aspectos relevantes sobre a diversidade cultural e religiosa, o entendimento do senso comum a respeito da África e da afrodescendência, a representação do negro/preto na literatura, o racismo, a infância, entre outros assuntos. As ponderações da personagem são necessárias. Ela embasa sua fala tanto na vivência quanto no estudo, e apresenta ao leitor ideias, que, dependendo qual seja o lugar de escuta, talvez não sejam familiares e, por isso mesmo, são tão importantes. Antirracista e imprescindível, essa leitura questiona o uso da palavra "etnia", que é socialmente compreendida com um sentido neutro. Também apresenta lendas sobre a criação do mundo dos povos africanos Shilluk, Bambara e Dogon, ressaltando a quantidade de povos com histórias e culturas diferentes que costumam ser reduzidos a um só. De qual África as pessoas negras descendem?, ela se pergunta e tenta resgatar as raízes. Em um dos capítulos, a escritora chama a atenção para a representação dos negros/pretos nas histórias contadas nas escolas. Quando aparecem, costumam ser apresentados como dominados. Falta protagonismo negro, ainda mais com figuras bem sucedidas, o que é relevante para o empoderamento negro, além de ampliar a concepção do que é ser negro.