Todos os dias, ela acordava cedinho e tecia, com amor e cuidado, do nascer ao pôr do sol. Escolhia as cores claras para apreciar o amanhecer, grossos fios cinzentos para abrandar o sol ardente, fios de prata e pontos largos para convidar a chuva a refrescar a tarde quente e belos fios dourados para aquecer os dias gelados.
“Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer”
Um dia a trama do destino trouxe o nó da solidão. Pela primeira vez desejou ter companhia e, seguindo seu coração, dedicou-se com entusiasmo em uma nova trama da vida. Escolheu lãs, cores especiais e seguiu tecendo...
“Aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado.”
Com a arte do tear conquistava tudo que precisava. Trabalhava dia após dia, tecendo caminhos, tramando sonhos, construindo sua própria história, criando vida. Era feliz! E continuou, até o dia em que seu amado descobriu o poder do tear e toda simplicidade se transformou em vaidade e opressão: sem reclamar, ela tecia os sonhos do rapaz. Tecia e entristecia.
Este conto de fadas moderno de Marina Colasanti, uma das mais importantes e premiadas escritoras brasileiras vem acompanhado de delicadas ilustrações de Demostenes Vargas e bordados reais das irmãs Angela, Antônia, Marilu, Martha e Sávia Dumon, transformados em linguagem gráfica. Um conto que remonta o encantamento e o maravilhoso da literatura clássica nos coloca de frente com uma belíssima metáfora da tecitura da vida. Nascemos, crescemos e para cada etapa, propósitos de vida e felicidade. Sem dúvida, a moça tecelã soube destrinchar os nós da vida e do amor, (re) adequando sonhos e convenções sociais.