Publicado originalmente em 1982, este livro de Marina Colasanti reúne treze contos de fadas modernos que passeiam pelo mistério dos sonhos e da realização dos desejos humanos, numa linguagem leve, cheia de símbolos e imagens surpreendentes, revelando o esforço de construção de nossas identidades e nossos valores mais profundos. Não há um só detalhe na vida dos personagens destes contos que não traga um espanto ou encantamento mágico.
A moça tecelã, personagem do primeiro conto, tornou-se uma figura emblemática na literatura para crianças e jovens, ao longo dos anos, ao oferecer uma chave de leitura sobre o papel da mulher em relação ao mundo e ao homem amado. Enquanto a jovem tece e destece os sonhos que aprisionam ela mesma, há a mulher ramada que apenas floresce quando se vê livre do jardineiro e das mãos que constantemente a podavam. Contudo, não é somente uma visão feminista que Marina Colasanti condensa e traduz. Em outra história, a autora descreve a agonia do Tempo em carregar as obrigações sempre as costas, sem tempo, para cuidar de si. Ou então trama Marina a disputa amorosa entre duas amigas ou a rivalidade fraternal, irmãos que desejam cada um ser o outro, a inveja, a promessa quebrada, o permanente feitiço, a cobiça, a busca da própria identidade em todas as margens, oceanos e desvarios que se abrem sob nossos pés.
Os contos maravilhosos de Marina Colasanti não resgatam somente fadas, nem apenas reis e rainhas, nem gentes de ofícios simples como a tecelã e o jardineiro no cotidiano em torno de antigos palácios. Com sua escrita poética, partimos também para ilhas distantes onde residem ninfas a receberem náufragos, mundos alados e reinos marítimos, vozerio e música, enlaçando elementos medievais e mitológicos. E, juntamente a essas narrativas bastante visuais, o leitor espiará as ilustrações da própria autora que é escritora e artista plástica de formação; a técnica empregada é a gravação em metal, tão cheia de traços como teias de aranha em sombra e luz.