“Divertida Mente 2”, o novo filme da Pixar, estreou no Brasil em 20 de junho e já se tornou a animação de maior bilheteria brasileira. Não por acaso. Ao mesmo tempo que o longa metragem diverte as crianças e ensina sobre a importância de saber nomear as emoções – assunto que já falamos por aqui – , ele dialoga facilmente com os adultos ao trazer as antigas, e também novas emoções, que todo mundo já sentiu pelo menos uma vez na vida. 

Na nova trama, o botão da puberdade surge no centro de controle da mente da adolescente Riley, um dia antes de ela ir a um acampamento mostrar seu talento no hóquei, no time dos sonhos, em busca de continuar praticando o esporte no ensino médio. Só que, ao entrar nessa nova fase, a Ansiedade, a Inveja, a Vergonha e o Tédio chegam para dividir o espaço com a Alegria, a Tristeza, a Raiva, o Medo e a Nojinho, apresentados no primeiro filme da saga.

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O filme traz a importante reflexão de que todas as emoções são válidas, mesmo as negativas, para formar quem a pessoa é. Essa também é a proposta da seleção destes 12 livros, já entregues pelo Clube Quindim, para conversar com as crianças sobre os sentimentos apresentados na animação. Confira! 

*A seguir, a matéria contém spoilers de “Divertida Mente 2” 

Para falar sobre ansiedade

1. “Tá chegando?”, de Aline Abreu 

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Imagem do livro “Tá chegando“. Crédito: Clube Quindim

Alaranjada, com o cabelo bagunçado e bastante acelerada: é assim que ‘Divertida Mente 2’ apresenta a Ansiedade para o público. Embora o filme reflita sobre os perigos de se sentir demasiadamente ansioso, o longa-metragem mostra que essa emoção também faz parte do dia a dia.

Assim como Riley não vê a hora de chegar ao acampamento de hóquei para ter a oportunidade de impressionar a treinadora e as outras jogadoras e, assim, quem sabe conquistar um lugar no time no ensino médio, no livro Tá chegando?, de Aline Abreu, o fio condutor da história é a típica pergunta das crianças ansiosas que dá nome ao livro.

Na trama, é dia dos pequenos saírem de casa e irem até a pracinha para brincar entre amigos. Embora não seja a primeira vez que o passeio acontece, é como se fosse, trazendo a ansiedade de querer chegar logo ao local da diversão. Nesse meio tempo, o livro narra histórias paralelas, como a do tio minhoca e seu sobrinho, da mamãe gata e seu sobrinho, entre outras.

A obra literária infantil é ideal para conversar com os pequenos sobre tempo, distância, como saber esperar e, claro, sobre a ansiedade. Essa pode ser uma emoção difícil de ser reconhecida por estar ligada facilmente a outros sentimentos como o medo, a insegurança, a angústia… Portanto, quanto mais cedo os pais falarem sobre ela com os filhos, maiores são as chances de conseguir identificá-la com clareza e não cair em suas armadilhas de controle – como Riley vai logo perceber. 

2. “A vida secreta das emoções”, de Tina Oziewicz e Aleksandra Zając

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Imagem do livro “A vida secreta das emoções“. Crédito: Clube Quindim

“Divertida Mente 2” nos apresenta a ansiedade com uma aparência meio maluca, a voz acelerada e as atitudes estabanadas não por acaso. Sentir-se ansioso pode ser (bastante) desconfortável. Só que, ainda assim, é uma emoção que faz parte de quem somos. 

O livro A vida secreta das emoções, de Tina Oziewkcz e Aleksandra Zając, fala exatamente sobre isso: acolher todos os sentimentos – não só aqueles que julgamos serem bons. Para isso, eles são retratados como a ansiedade no longa-metragem: com formas e características únicas, hábitos e até mesmo aquilo que eles gostam de fazer no seu tempo livre. Tudo para que a criança compreenda rapidamente o que aquela emoção representa.

É uma obra literária infantil para entender que, embora as emoções sentidas possam ser negativas, ainda continuamos sendo nós mesmos – às vezes, só precisamos colocá-las em uma poltrona confortável e oferecer um chá para elas né, Ansiedade?

3. “Quando você sai”, de Gastón Hauviller

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Imagem do livro “Quando você sai”. Crédito: Clube Quindim

A trama de Quando você sai começa a partir do que o título já nos conta: a mãe precisa sair para trabalhar logo pela manhã, deixando o filho em casa. Com o sistema “abandono” acionado, o garotinho coloca a casa para baixo para lidar com a falta que a figura materna faz.

No filme da Pixar, entendemos que a Ansiedade, na tentativa de evitar situações negativas, começa a usar de todos os recursos que possui, mesmo que eles não sejam positivos ou até mesmo machuque quem está ao redor. Não é diferente com o pequeno protagonista da obra literária infantil de Gastón Hauviller. 

Só que o livro, assim como o filme, traz uma reflexão importante sobre por que é necessário as crianças aprenderem a se frustrar desde cedo. É a partir da frustração que elas conseguem criar habilidades para ultrapassar as decepções, sem que elas a paralisem ou criem a falsa crença de que o indivíduo é fracassado. Em outras palavras, o pequeno se torna mais resiliente e sua autoestima fica mais fortalecida. 

Para falar sobre vergonha 

1. “Quem soltou o pum?”, de Blandina Franco e José Carlos Lollo

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Imagem do livro “Quem soltou o Pum?“. Crédito: Clube Quindim

A obra literária infantil de Blandina Franco e José Carlos Lollo é recheada de trocadilhos que ajudam as crianças a entenderem, de forma divertida, sobre o que o nosso corpo elimina, os barulhos que são soltos nesse processo e até mesmo a respeito de privacidade – termo fundamental para os pequenos que estão começando a frequentar ambientes compartilhados no âmbito escolar. 

Essas reflexões são possíveis, porque o enredo do livro é sobre um garotinho que tem um cachorro chamado Pum, e ele não pode deixá-lo fugir em momentos inapropriados para que não venha a passar vergonha na frente de outras pessoas. 

Entre boas gargalhadas, o livro abre espaço para pais conversarem com os filhos sobre a vergonha, uma das novas emoções de “Divertida Mente 2”. Ao nos sentirmos envergonhados, como o personagem do filme, a vontade é de puxar o capuz e se jogar no chão para se esconder.

Só que a vergonha é um mecanismo de sobrevivência, que atua como um termômetro em relação às nossas atitudes sociais. E, assim como a Vergonha decidiu ajudar a Tristeza para além do que a Ansiedade pensava ao longo do filme, é importante mostrar para as crianças que, mesmo com vergonha, é importante ser fiel ao que se acredita e seguir em frente.

2. “Por que choramos?”, de Fran Pintadera E Ana Sender

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Imagem do livro “Por que choramos?“. Crédito: Clube Quindim

Fazer as pazes com o sentir. Essa é a bonita proposta que Fran Pintadera e Ana Sender trazem em Por que choramos?. A história começa a partir da indagação que um filho faz para uma mãe e dá título ao livro. 

Ao longo das páginas da trama, ela vai explicando ao filho que os motivos que levam as pessoas a chorarem são diversos. As lágrimas podem rolar por tristeza, raiva, angústia, solidão e até mesmo por aquilo que silencia as pessoas, como a vergonha.

Como o personagem Vergonha de “Divertida Mente 2” passa a maior parte do filme sem dizer uma palavra sequer, as lágrimas podem ser a única forma que o indivíduo consegue se comunicar ao ser inundado por essa emoção – e está tudo bem! 

3. “Bicho bolota”, de Olga de Dios 

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Imagem do livro “Bicho Bolota“. Crédito: Clube Quindim

Bicho nasceu no alto de uma montanha, mas nunca viu ninguém como ele. Isso fez com que o simpático personagem tentasse se adaptar a quem encontrasse pelo caminho. Ele ouviu a lagarta, comeu bastante, mas não virou a borboleta. Dormiu profundamente como as joaninhas, mas não acordou com a pele viçosa como a delas. Chegou até a tentar ser paciente como as formigas para que suas patas crescessem e, assim, poderia ir para longe, só que nada aconteceu. 

Sem conseguir se identificar com nenhuma espécie que encontrou pelo caminho, Bicho foi inundado pelo sentimento de vergonha. Só que o que ele não esperava era descobrir que, na verdade, isso o fazia único e que ele só precisava ser fiel a si mesmo e a mais ninguém para ser feliz

A obra de Olga de Dios abre espaço para dialogar com as crianças sobre a vergonha de se sentir diferente, de não se encaixar e, assim, acolhê-las. Ao mesmo tempo, o livro reflete sobre a potência que existe em ser quem é e a coragem que é necessária para conseguir abraçá-la. Afinal, vale a pena!

Leia também: 7 livros transformadores de Olga de Dios 

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Para falar sobre inveja 

1. “Eu nem ligo”, de Márcia Leite e Jean-Claude R. Alphen

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Imagem do livro “Eu nem ligo“. Crédito: Clube Quindim

Ganhar o posto de irmã mais velha pode ser incrível para quem está do lado de fora. Já para a criança que vê sua rotina ser bagunçada e toda a atenção que era dela ser dividida, as emoções tendem a mergulhar em um turbilhão

Um dos sentimentos que podem surgir nessa bagunça é a inveja que, assim como em “Divertida Mente 2”, chega azulada, baixinha e com os olhos brilhando, desejando aquela atenção que o bebê agora está recebendo (e que, antes, era só dela!). Só que, sem saber lidar com essa emoção, não é incomum que a criança passe pela fase da negação, como acontece com a protagonista da obra literária infantil de Márcia Leite e Jean-Claude R. Alphen.

“Eles não querem mais brincar comigo. Mas eu nem ligo…” é uma das frases marcantes que a irmã mais velha usa ao falar sobre os pais que não parecem ter mais tempo para ela com a chegada do recém-nascido enquanto usa do mundo lúdico, com brincadeiras que retratam o mundo real, para tentar administrar suas emoções. 

O livro traz a importante reflexão de que relações familiares também precisam ser construídas e o processo exige dedicação, o que não é diferente entre entender que é possível amar seu irmão mais novo apesar das transformações que sua chegada acarretou na família

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2. “Fábulas ao contrário”, de Jorge Miguel Marinho e Rafael Antón

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Imagem do livro “Fábulas ao contrário“. Crédito: Clube Quindim

Como o próprio nome do livro diz, os autores Jorge Miguel Marinho e Rafael Antón brincam de inverter as tradicionais fábulas. Inclusive, muitas dessas trocas refletem a inveja dos personagens envolvidos. 

Por exemplo, e se a tartaruga passa a querer atazanar a lebre e não o contrário? E se a rã desejar ser o touro para expandir, expandir e expandir até estourar? E se as formigas e as cigarras passarem a ser amigas? Essa obra literária infantil é um mergulho profundo no “e se?” e a chance de fazer um exercício de imaginação ao se colocar no lugar do outro

3. “Eu também!”, de Patricia Auerbach e Isabela Santos

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Imagem do livro “Eu também!“. Crédito: Clube Quindim

Tuca e Lipe são o retrato dos irmãos que dividem todas as vivências do dia a dia, o que pode acabar gerando conflitos também. Às vezes, eles querem o mesmo brinquedo, pedaço de pizza e até sentar no mesmo lugar dentro do carro. Atitudes motivadas por um misto de ciúmes e inveja

Só que o cenário se transforma quando Tuca vai para a casa de um amigo e Lipe vive o dia como se fosse filho único. Em lugares separados, eles conseguem se divertir apesar da ausência um do outro. Mas, ao mesmo tempo, aprendem o que é saudade e como tudo fica mais divertido ao ter um irmão parceiro. Riley e suas amigas do hóquei entendem bem esse sentimento também no filme da Pixar. Afinal, sentimentos são complexos, podem vir acompanhados de outros, e os pequenos ainda estão desenvolvendo as habilidades para decodificá-los e, assim, saber lidar melhor com o que surgir.

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Para falar sobre tédio

1. “Nunca acontece nada na minha rua”, de Ellen Raskin 

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Imagem do livro “Nunca acontece nada na minha rua“. Crédito: Clube Quindim

Andando a passos lentos, de cara fechada e entediado com a vida… Se fosse roxo, estaríamos falando do personagem Tédio, da nova animação da Pixar, mas esse é o protagonista Luís Rodolfo de “Nunca acontece nada na minha rua”. 

Ao mesmo tempo que o livro mostra o descaso do protagonista em relação a todas as aventuras que acontecem na rua onde mora, como uma perseguição policial ou um incêndio, o leitor mirim vai se divertir com as inusitadas vivências que vão instigá-lo a querer ao menos passear na Rua das Amoreiras.

Assim como o Tédio de “Divertida Mente 2” mostra, Nunca acontece nada na minha rua traz a importante reflexão de que algo se torna atrativo para nós a partir da forma que olhamos para aquilo.

Veja também: A importância do tédio para a saúde e a criatividade

2. “Domingo”, de Marcelo Tolentino 

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Imagem do livro “Domingo“. Crédito: Clube Quindim

O tédio faz parte das emoções que inevitavelmente crianças, adolescentes e adultos vão sentir em diversos momentos de sua rotina. Mas olhar a vida só a partir da perspectiva dele pode nos fazer perder grandes momentos. O protagonista Martim, de Marcelo Tolentino, mostra isso ao decidir se aventurar pela casa dos avós em um domingo corriqueiro para os mais velhos.

Ele decide passar pelos lugares mais inusitados do mundo, como as florestas mais fechadas, o mar mais agitado e o deserto mais seco que há. Como ele faz isso? Usando a boa e fiel escudeira: a imaginação.

Para desenhar esses cenários, Domingo é composto por ilustrações de móveis antigos e varais que se transformam nos grandes obstáculos que Martim decide percorrer. Só que o avô assistindo a televisão, a avó passando roupa e os pais do garotinho fazendo um bolo para depois do almoço nem sequer conseguem ver tamanha aventura que o pequeno está vivendo. 

É preciso cuidado para não acabarmos sempre deitados no sofá, com o controle da vida em mãos, mas sem vivê-la. Não concorda, Tédio? Talvez a Alegria responda melhor! 

3. “Buscar”, de Olga de Dios 

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Imagem do livro “Buscar“. Crédito: Clube Quindim

O protagonista de Buscar é Bu, que estava sempre indiferente ao que acontecia ao seu redor. Ele nem sequer cumprimentava quem passava ao seu lado, como Coelho Branco, a Ursa Ramona, Rosita e outros seres. Tudo muda quando um passarinho deixa cair um “presente” em sua cabeça e, então, ele passa a admirar o mundo que o cerca.

Às vezes, para sair da inércia do tédio, é preciso que alguém “roube” o controle da vida e coloque em perspectiva o que tanto se procura, mas nunca parece achar. É preciso coragem para dar esse passo para fora do comodismo e viver esse processo.

Além disso, outra reflexão importante trazida pela obra literária infantil é: será que o que parece ruim, de primeiro momento, realmente não tem nada de bom para agregar na vida? Como “Divertida Mente 2” mostra, até mesmo as emoções mais desafiadoras são fundamentais para enfrentar a complexidade do que é viver.