“Agora a mamãe fica só com esse bebê” é a queixa da garotinha que acaba de ganhar um irmão. Enquanto sua mãe cuida do pequenino João, a protagonista precisa se haver com os seus brinquedos, a cachorra de estimação e os novos sentimentos que migram da euforia à raiva. Com seu jeito mandão, ela cria as brincadeiras e ordena como as coisas devem seguir: “É muito fácil. Vocês só precisam fazer tudo o que EU mandar.”.
As cenas que seguem mostram as suas tentativas de se adaptar ao novo, as suas falas expressam os seus sentimentos confusos que ainda não sabe nomear. Só sabe que se sente muito sozinha. Ora ela brinca de balanço no quintal, ora veste a roupa de João em sua cachorrinha, sempre se referindo ao irmão como algo que incomoda. Ah, e não se pode fazer o barulho de antes em casa! A nova rotina da família exige um ritmo que necessita calmaria para que João possa dormir bem. Afinal de contas, os bebês precisam de silêncio.
“Eles não querem mais brincar comigo. Mas eu nem ligo...” é o que a garotinha diz após a sua pelúcia ter a barriga costurada e necessitar de descanso. Por meio da brincadeira, ainda que fique triste, ela recria um cenário vivido no plano do real com a mãe, e busca estar em outro papel que não o de filha para sentir novas emoções e ensaiar o tornar-se irmã, apontando que laços familiares também é algo que se aprende, assim como o amor.
As cores predominantes nas ilustrações são preto, branco e lilás, nos remetendo ao lugar do sono, do silêncio e, ao mesmo tempo, da tensão. Os cenários são bem enxutos, destacando alguns objetos e personagens. O traço dos desenhos evoca a infância, o momento de aprendizagem. Vale frisar aqui a imagem da garotinha com a cabeça baixa no canto esquerdo inferior de uma página em branco. Sua cabeça está um rabisco só, de tão confusa. A chegada de um novo membro na família, “da noite para o dia”, será vivida por cada um de maneira muito particular, a partir de como cada família representa e vive este momento.