No Brasil, não é raro que a cultura estrangeira seja mais valorizada do que a nossa. É o que acontece, por exemplo, quando comemoramos mais o Halloween do que o Dia do Folclore. E acontece também com o meio ambiente. Repare como nos livros infantis acabamos encontrando mais ilustrações de rosas, que não são flores brasileiras, do que de bromélias ou vitórias-régias. E qual o bicho de pelúcia que a maioria das crianças tem? Um urso ou uma onça-pintada?
A importância da representação da biodiversidade brasileira
Por muito tempo, o referencial para a infância foi construído baseado em produções estrangeiras, estejam elas na literatura, nos desenhos animados ou nos filmes e séries televisivas. Fazer com que a criança se reconheça na representação da flora e fauna brasileira fortalece também a sua autoestima, contrapondo a ideia de que o brasileiro é inferior ao europeu ou ao norte-americano, um preconceito que pode afetar a autoconfiança, prejudicando a busca por autonomia e autoconhecimento. Aqui na Revista Quindim já falamos sobre como a descolonização cultural é um tema urgente para educar as novas gerações.
Vale lembrar ainda que vivemos no país que abriga a maior biodiversidade do planeta, com 20% das espécies da Terra. Com uma natureza admirável, o Brasil tem biomas diversos, que vão da Amazônia aos Pampas, passando pela Mata Atlântica, pelo Cerrado e pela Caatinga. Nossa variedade climática e geográfica faz que apareça, em um só país, um leque amplo de plantas e bichos, sem falar nas populações que habitam essas localidades. Uma biodiversidade que nem sempre é retratada na literatura infantil.
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Flora e fauna brasileira nos livros infantis
Levar para os pequenos literatura infantil de qualidade que represente nossa fauna e nossa flora contribui para a construção da identidade da criança como brasileira. Com essas referências, ela não só se vincula ao seu país como consegue entender melhor de que forma o contexto nacional se integra à construção de sua vida individual. Conhecer a biodiversidade brasileira, ou qualquer que seja o lugar em que viva, ajuda a ver sentido na preservação do meio ambiente.
É muito comum vermos uma criança brasileira desenhando, por exemplo, uma macieira quando quer retratar uma árvore e fazendo um edifício com telhado triangular e chaminé ao desenhar uma casa, algo muito diferente do que ela encontra em seu entorno. Tratam-se porém de representações predominantes de árvores e casas das produções que a criança tem contato: desenhos animados norte-americanos, filmes hollywoodianos, livros infantis europeus.
Uma criança que conheça obras com ilustrações que representem seu entorno terá maior possibilidade de se expressar também por meio de uma jabuticabeira, uma palmeira, uma casa com telhado reto – um cenário comum ao seu olhar investigativo, auxiliando-a no processo de apropriação de sua própria realidade e reconhecimento de seu lugar no mundo.
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Daí a importância de não se apresentar apenas modelos que não são de seu cotidiano e que, quando colocados em nosso contexto, assumem tom caricatural. Ao conhecer e valorizar a fauna e flora do seu entorno, a criança poderá contribuir com a preservação do meio ambiente, pois verá a biodiversidade brasileira como parte importante da sua vida, algo que deva proteger. Incentivar a literatura que represente nossa identidade é, portanto, fortalecer nossa cultura.
Por todos esses motivos, o nosso clube de leitura se preocupa com a representação da flora e fauna brasileira nas obras que envia à Família Quindim todos os meses.
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Biodiversidade brasileira: 9 autores que representam a flora e fauna brasileira em suas obras
Muitos artistas brasileiros têm esse cuidado na busca por desenvolver uma arte que represente a nossa natureza. Trata-se de um cuidado que o Clube Quindim sempre teve em sua seleção. Conheça a seguir nove desses importantes ilustradores e alguns livros deles que nossos assinantes já receberam.
1. Ciça Fittipaldi
Ciça nasceu em São Paulo e estudou Desenho e Plástica na Universidade de Brasília. É uma artista ativista das questões indígenas desde os anos 1970, quando viveu entre os Nambiquara. Seu ativismo está presente nas suas ilustrações, ao retratar as culturas indígenas, africanas e afro-brasileiras. Foi ganhadora do prêmio Jabuti de ilustração três vezes, além de ter recebido o APCA – Associação Paulista dos Críticos de Arte em 1984, um dos mais importantes prêmios de arte do Brasil, e ser candidata ao Prêmio Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura infantil.
2. Fernando Vilela
Fernando Vilela é artista plástico, ilustrador e autor. Possui obras em importantes coleções: MoMA, de Nova York, Museu de Arte Contemporânea, de São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo e Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Como autor e ilustrador, teve livros publicados em oito países e recebeu diversos prêmios, como o Jabuti e o Bologna Ragazzi Award.
3. Graça Lima
Graça Lima nasceu no Rio de Janeiro, em 1958. É formada em comunicação visual pela Escola de Belas-Artes (UFRJ) e mestra pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ). É professora universitária e trabalha com design gráfico desde 1985, já tendo escrito e ilustrado mais de 50 livros, aqui e no exterior, muitos deles premiados. É também parceira e curadora do Clube Quindim, contribuindo na seleção dos melhores livros infantis.
4. Laurabeatriz
Laurabeatriz nasceu no Rio de Janeiro, em 1949, e mora em São Paulo. Como artista plástica, começou a expor em 1966, participando de diversas mostras individuais e coletivas, com obras em desenho, pintura e xilogravura. É ativista em campanhas de proteção de animais, que estão muito presentes em suas obras, assim como o meio ambiente brasileiro.
5. Mariana Massarani
Mariana nasceu e mora no Rio de Janeiro. Ilustrou mais de 150 livros infantis de diversos autores. Também é escritora de histórias como Victor e o Jacaré, Marieta Julieta Raimunda da Selva Amazônica da Silva e Sousa, Banho!, Adamastor o Pangaré, Aula de surfe, Salão Jaqueline, Os Mergulhadores, entre outras. Ganhou o Prêmio Jabuti de Literatura em 1997 e 2003, na categoria ilustração de livros infantis e juvenis, e seu trabalho já foi exposto e incluído em catálogos e em mostras de ilustração nacionais e internacionais.
6. Marilda Castanha
Marilda Castanha é uma ilustradora muito reconhecida no Brasil e no mundo e tem obras publicadas aqui e no exterior, além de muitos prêmios. Em suas imagens, encontramos influência da arte afro e indígena, com seus traços e cores característicos.
7. Mauricio Negro
Maurício é um artista bastante identificado com temas mitológicos, ancestrais, ecológicos, populares, identitários e relacionados às expressões e raízes da cultura brasileira. Já recebeu diversos prêmios no Brasil e no exterior, além de representar o país em diversas feiras importantes.
8. Roger Mello
Nasceu em Brasília e é o primeiro ilustrador da América Latina a vencer o Prêmio Internacional Hans Christian Andersen – 2014, na Categoria Ilustrador. O prêmio é concedido pelo International Board on Books for Young People (IBBY), considerado o prêmio nobel da literatura infantil e juvenil. Roger também é um dos autores que recebeu mais prêmios Jabuti e é considerado Hours Concours pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).
9. Taisa Borges
Taisa nasceu e vive em São Paulo. Cursou artes plásticas na mesma cidade e depois se mudou para a França, dando sequência aos seus estudos de pintura na faculdade de Beaux-Arts de Paris, além de cursar estilismo no Studio Berçot. Duas vezes indicada ao Prêmio Jabuti, finalista do HQMix e vencedora do Melhor Livro Imagem da FNLIJ, atua como ilustradora desde 2006, tendo já publicado cinco livros de imagem e uma HQ.
[…] de cabelos vermelhos e pés virados para trás que protege a fauna e a flora, assobia e deixa pegadas com seus pés virados, confundindo quem o persegue, já que acha que ele […]