Uma banheira vira barco e os braços, velas abertas ao vento. O corpo reto é uma prancha ou jacaré; brinquedos de borracha, uma dezena de peixes: aventuras no mar, na pororoca, no rio, no pantanal... Ainda que a mãe precise berrar uma dezena de vezes, a hora do banho é essa uma batalha diária para Edson, Edilson, Edmilson e Ednalva: ir ou não ir, qual o motivo de tanta enrolação? Porém, com doses de boa imaginação, a hora se transforma em uma aventura atrás da outra dentro do banheiro. E é tudo tão intenso que os quatro irmãos até esquecem o tempo... e lá aparece a mãe na porta, uma onça!
O livro de Mariana Massarani opera com todo o humor possível, nos planos da palavra e da imagem narrativa, ao tratar de situações cotidianas em muitas casas, como a dificuldade de convencer a criança tomar o próprio banho ou desligar o chuveiro, criando uma rotina fatiada por horários, deveres e prazeres: cuidar de si, ver televisão, jantar etc. As ilustrações não apenas mostram a fantasia inundando a realidade, mostram com naturalidade os pequenos corpos nus vestidos com a fantasia de aventuras em mares, rios, lagos e pororocas. A imagem também brinca com a figura da mãe que é retrata de relance como uma onça pintada, num trocadilho puramente visual, e tramam também outra equivalência com o personagem do pequeno Edmilson, em meio à folia dos irmãos. Ele parece ser o mais quieto — será mesmo? e possui autonomia de leitura e de fazer xixi, cocô já sozinho.
Mas... quem disse que a criança quieta é a mais obediente?