DIFERENTE DO QUE PODEMOS PENSAR, A LITERATURA FANTÁSTICA NÃO COMEÇOU COM OS SUPER-HERÓIS MODERNOS E JÁ PODE SER VISTA HÁ MILÊNIOS, DESDE A MITOLOGIA CLÁSSICA.

Você sabe o que é “literatura fantástica”? Para além de ser algo esplêndido e fenomenal, a denominação refere-se à literatura de fantasia, o que, em sua definição mais simples, corresponde às histórias sobre coisas impossíveis de acontecer no mundo real, neste mundo em que vivemos.

A literatura de fantasia é a literatura da imaginação, da invenção de ambientes, criaturas e acontecimentos que não precisam existir fora do livro. Seu lugar é no livro, sua função é fazer parte de uma história, sem a necessidade de estar conectada com a realidade – e é justamente aí que moram seu encanto e sua beleza.

Literatura fantástica: entenda sua influência desde a antiguidade até as histórias de super-heróis

Super-Homem, Homem Aranha e Capitão América devem estar entre os mais lembrados quando pensamos em literatura fantástica (nada contra o Batman, mas como ele não possui nenhum poder sobre-humano, não se enquadra na lista). Porém, você sabia que há exemplos de literatura fantástica desde a mitologia greco-romana, lá pelos idos de 700 A.C.?

Acompanhe a leitura para entender melhor sobre as raízes desse universo fantástico e toda a sua importante implicação na literatura infantil e juvenil.

O real versus o imaginário

Imaginar a vida, imaginar o mundo, faz parte das nossas estratégias de sobrevivência. A própria Ficção Científica, cujo nome a faz parecer uma professora severa, rodeada de laboratórios e de fórmulas algébricas, precisa da imaginação. A ciência não consiste apenas em fornecer respostas, mas em imaginar perguntas.

O fantástico alarga as possibilidades de nossa mente, mesmo quando está lidando com situações impossíveis de acontecer com o nosso corpo.

Quer entender isso na prática? Então, vamos para um exercício de pensamento. O que aconteceria se…

  • Um objeto pudesse armazenar em si os sentimentos das pessoas a quem pertenceu?
  • Alguém descobrisse que era o único ser vivo no mundo inteiro e todos os outros tinham desaparecido sem explicação?
  • Duas pessoas, vivendo no mesmo local, mas em séculos diferentes, pudessem se comunicar em pensamento?
  • A nossa imagem saísse do espelho e passasse a agir por conta própria?
  • Alguém fosse capaz de viajar para o passado e trazer de lá um único objeto?
  • Alguém conseguisse viajar 800 mil anos para o futuro e visse como estaria a civilização naquela época?
  • Alguém fosse capaz de atravessar paredes e objetos sólidos e sair intacto do lado oposto?
  • Um animal doméstico fosse capaz de falar com seu tutor?
  • Animais habitantes de uma fazenda tomassem o lugar e começassem a administrar o local por conta própria?
  • Uma pessoa fosse capaz de acessar instantaneamente todas as lembranças que acumulou na vida?

É bem provável que você tenha lembrado de alguns exemplos de literatura fantástica enquanto lia essas suposições, de A Máquina do Tempo, de H. G. Wells, à A Revolução dos Bichos, de George Orwell. Essas são situações que a literatura realista não poderia explorar. A literatura imaginativa, porém, abarca tanto o real quanto o fantástico.

Ela narra histórias que podem acontecer em nosso mundo, e também histórias que só podem acontecer em nossa mente.  E nesse caso o poder acontecer é o de menos, porque quando uma história é bem contada, o leitor sente que ela está acontecendo.

E, acima de tudo, a literatura fantástica tem o poder de tornar reais (mesmo que apenas no “mundo da história”) certos estados mentais que todos nós experimentamos em algum momento, tudo isso através de autores da literatura fantástica que nos permitem participar dessas magníficas viagens.

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Quem são os autores da literatura fantástica?

Todo mundo imagina ter um lado bom e um lado mau, mas Ítalo Calvino achou uma maneira divertida de explorar isso em O Visconde Partido ao Meio.

E se os nossos sonhos se tornassem realidade? Isso pode acabar não sendo uma boa ideia, como descobre o protagonista de A Curva do Sonho, de Ursula K. Le Guin.

Qualquer um de nós pode acordar deprimido, sentindo-se insignificante, mas foi Franz Kafka quem nos mostrou um rapaz que acorda pela manhã transformado num inseto gigante, em A Metamorfose.

Muitas crianças, órfãs e abandonadas no mundo adulto, foram amparadas por pessoas estranhas porém bondosas: Neil Gaiman criou uma versão sobrenatural disso em O Livro do Cemitério.

A poeta norte-americana Marianne Moore disse que para ela a poesia era “um jardim imaginário, mas com sapos de verdade dentro dele”. A literatura fantástica é um pouco assim: as histórias podem ser bizarras, impossíveis – mas os sentimentos são verdadeiros, os perigos são reais, o suspense, o mistério, o encantamento… tudo isso é real durante a leitura. E é o que importa.

Além desses exemplos de autores da literatura fantástica e dos que foram mencionados na seção anterior, outros que se destacam são George R. R. Martin, Robin Hobb, C. S. Lewis, J. K. Rowling e Stephen King. O Brasil também tem nomes neste meio, como Eduardo Sporh, Carolina Munhóz e Raphael Draccon – os dois últimos, inclusive, assinaram o roteiro de “O Escolhido”, série da Netflix.

A imaginação literária não é um devaneio gratuito, não é um passatempo que não deixa marcas. Ela é tão importante quanto a literatura da observação realista dos usos e costumes.

Da antiguidade às histórias de super-heróis entenda a influência da literatura fantástica nas obras para crianças e jovens.

Inclusive, lendo os clássicos da Antiguidade, vemos as duas coisas lado a lado. Do lado realista, vemos as descrições das vestimentas, das armas, das refeições, do trabalho na agricultura ou no pastoreio; e do lado imaginativo vemos essas mesmas pessoas sendo ameaçadas por criaturas monstruosas (esfinges, centauros, harpias) ou desembarcando em ilhas remotas onde a vida é diferente, é maravilhosa ou é terrível, mas é sempre extraordinária.

Nesse ponto do imaginativo, é importante reforçar que a literatura fantástica já existe desde a antiguidade. A filosofia de Platão (algo entre 428 a.C. e 347 a.C., sem tanta certeza acerca do período exato) influenciou muito no gênero fantástico, com o “Panchatantra” – coleção de fábulas indianas provavelmente composta no século III a.C. por Vishnu Sarma – que é o produto literário mais traduzido da Índia.

Precisamos dessas experiências mentais fora do comum, assim como nossos corpos, para terem saúde, precisam ser submetidos a esforços fora do comum: correr, nadar, fazer trilhas na montanha, subir em árvores, pular obstáculos. Uma mente sedentária, alimentada apenas com o que não lhe exige muito esforço, envelhece depressa.

Julio Verne começou a publicar sua longa série de romances de aventuras em 1863, com Cinco Semanas Num Balão. Ele deu a essa série o nome de “Viagens Extraordinárias”, que resume um dos atrativos da literatura fantástica. Eram viagens à Lua, viagens submarinas, viagens aos polos ou ao deserto, viagens a continentes pouco explorados.  Toda a literatura de viagens interplanetárias deriva desse impulso de adentrar espaços desconhecidos e (do ponto de vista de quem escreve) imaginar o que pode existir por lá.

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O papel dos super-heróis: de onde vem a fascinação por esses personagens e como eles se relacionam com a literatura fantástica?

As mitologias da Antiguidade (grega, romana, nórdica etc.) também são um enorme banco de dados à disposição de quem quiser criar novos heróis, dotados de superpoderes. Ou, quem sabe, de inventar monstros híbridos de várias espécies, inventar feitos heroicos de proporções extraordinárias, jornadas e batalhas cheias de drama e de mistério.

Nossas narrativas contemporâneas de super-heróis trazem para o mundo tecnológico a grandiosidade e a ação intensa dessas aventuras. Histórias que, há milhares de anos, dão à mente dos leitores um novo conjunto de símbolos e de fábulas que os ajudam a entender melhor a vida real.

Por outro lado, os super-heróis contemporâneos, que encontramos nas histórias em quadrinhos, no cinema e nos videogames, adquiriram com o tempo uma complexidade que os traz mais para perto da vida real. Não são apenas indivíduos fortões que distribuem pancadas e salvam o Universo. São heróis e heroínas com problemas, que experimentam tanto a adoração quanto a rejeição das pessoas à sua volta. Têm medo, também; têm fraquezas, podem ser arrogantes num momento e inseguros no outro.

Por outro lado, heróis e heroínas estão sujeitos à lei não escrita de que “grandes poderes acarretam grandes responsabilidades”, parafraseando o Tio Ben, tio do Peter Parker, o Homem Aranha – outro belíssimo exemplo da literatura fantástica.

O herói não é um homem qualquer, uma heroína não é uma mulher como as outras – cada um é uma síntese de todas as possibilidades de uma pessoa. Daí a fascinação que despertam, principalmente em quem é jovem, em quem está começando a experimentar, na sua vida de verdade, um pouco das emoções comprimidas nessas vidas “de mentira”, mas onde os valores são reais, as emoções são verdadeiras.

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Literatura fantástica: um deleite à imaginação de crianças e jovens (e adultos, claro)

Das histórias do folclore brasileiro àquelas que conhecemos de outros países, sejam antigas ou mais novas, de super-heróis ou de criaturas sobrenaturais, a literatura fantástica vai muito além de “apenas” divagar por mundos e territórios desconhecidos e inabitados: ela nos permite popular um dos mais fantásticos territórios existentes, que é a nossa mente.

Introduzir tais histórias para as crianças, com os clássicos da literatura infantil ou obras mais recentes, conecta a literatura com o lúdico, tornando-a ainda mais palatável e agradável para os pequenos. Com isso, seu ímpeto pela leitura tende a ser ainda mais intenso, o que certamente as formará como jovens e adultos com maior capacidade criativa e imaginativa – o que, por sua vez, ajuda a descortinar um futuro ainda mais brilhante.

Para ter ainda mais contato com literatura fantástica de qualidade, o Clube Quindim está à sua disposição. Assim, você poderá receber os melhores livros infantis todos os meses, sem ter que sair de casa.