Quantos livros com representatividade negra você leu com os pequenos e as pequenas nos últimos meses? A cultura e a identidade brasileiras combinam uma série de influências. Certamente a que vem da população negra é uma das maiores. Apesar disso, o racismo em nossa sociedade muitas vezes invisibiliza a presença e a importância da cultura afrobrasileira.

Além de reduzir essa cultura a estereótipos, ainda é responsável por tornar a população negra a maior vítima de violências no país. Então, nesse contexto é que se torna fundamental celebrar e gerar reflexões em torno do Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro. Data em que teria morrido Zumbi dos Palmares, um dos maiores líderes da libertação do povo negro contra o sistema escravista.

Entretanto, dedicar somente o dia da Consciência Negra, ou o mês de novembro, a debates sobre o racismo no Brasil e sobre a potência da cultura afrobrasileira nos parece insuficiente. Esse é um tema urgente e deve fazer parte de nosso cotidiano para que possamos ter uma realidade mais justa e igualitária para todos. O Clube Quindim tem esse princípio como norte. Por isso, consolida sua seleção de livros buscando representar a diversidade cultural brasileira. Tanto na temática, quanto na autoria.

Representatividade negra na literatura infantil
Imagem do livro Quando me descobri negra, de Bianca Santana e Mateu Velasco.

5 motivos para falar sobre a representatividade negra na literatura infantil o ano todo

  1. Fortalece a autoestima das crianças negras.
  2. Amplia o número e o tipo de narrativas presentes na literatura.
  3. Dissemina a ideia de respeito a todos os tipos de pessoas.
  4. Consolida a sensação de pertencimento a uma cultura variada, que se originou na mistura de diferentes povos.
  5. Amplia a consciência das próximas gerações sobre os problemas do país…

… e a ideia de que ele foi construído sobre uma base de escravização de pessoas e a não integração dessas pessoas depois que foram libertas, provocando heranças sociais que perduram até hoje.  

Dessa maneira, obras para crianças que abordem a identidade negra, o racismo e que tenham sido escritas por autores e autoras negros são constantemente parte da nossa curadoria de livros. É dessa maneira que concretizamos na prática nossa missão de entregar o melhor da literatura infantil brasileira para as crianças de todo o Brasil. Levando sempre em conta a realidade do nosso país e critérios como diversidade e, além disso, responsabilidade social. Veja, a seguir, 10 livros que fizeram parte dessa seleção nos últimos anos:

10 livros enviados pelo Quindim para falar sobre representatividade negra com os pequenos

Livros para crianças de 3 a 5 anos
Escritor: Emicida
Ilustrador: Aldo Fabrini
Editora: Companhia das Letrinhas
Faixa etária: 0 a 8 anos

1 – Amoras

A primeira obra de nossa lista para você aproveitar e discutir sobre representatividade negra na literatura, mesmo que não seja dia da Consciência Negra, é Amoras. Esta é uma obra cheia de sons e com uma intertextualidade que reverbera em nossa mente. Uma obra de tema atual, de representatividade negra, de diversidade, de orgulho, de autoestima.

Livros que tematizem e problematizem as relações étnico-raciais são extremamente necessárias para desfazer ideias enraizadas, como aquelas que trazem os personagens negros em papéis de submissão e/ou retratando o período escravista. É fundamental que crianças e jovens não convivam somente com uma representação eurocêntrica de personagens, para isso, nada melhor do que o texto do rapper Emicida, que transporta todo o talento e sensibilidade com que compõe suas músicas para este livro encantador que nos faz lembrar do olhar infantil sobre o mundo que um dia já tivemos.

Cadê (escritora Graça Lima, editora Nova Fronteira)
Autora: Graça Lima
Editora: Nova Fronteira
Faixa etária: 0 a 2 anos

2 – Cadê?

Onde foi parar esse menino? Num safári? No Polo Norte? Nas ilustrações da premiada Graça Lima, vamos nos perder no olhar lúdico da criança, que transforma um lugar ou objeto em muitos outros. O livro Cadê? traz uma deliciosa brincadeira para crianças e adultos. Ao mesmo tempo, tem o potencial de desenvolver em nós, leitores, o autoconhecimento e a empatia. Essa obra também traz em seus personagens mais da representatividade negra que precisamos na nossa literatura.

Veja também: Podemos falar de protagonismo negro nos livros infantis?

O menino que comia lagartos (escritora Mercê López, editora SM)
Autora: Mercè Lópes
Editora: Edições SM
Faixa etária: 3 a 12 anos

3 – O menino que comia lagartos

Você conhece alguém mais rápido que o vento, que conversa com crocodilos e come lagartos? Não? Então, você não conhece o Tikorô, esse menino mora ali do lado, na África.

Na obra O menino que comia lagartos, existe a metáfora do lagarto que perde sua cor e, com muita beleza e sensibilidade, ela é usada para discutir a importância de preservarmos nossa cultura. Conversar com as crianças sobre seus antepassados, sobre as histórias familiares, ajuda na construção da própria identidade e autoestima, além disso, a diversidade de histórias contribui na compreensão e no respeito sobre diferentes culturas.

Caderno de rimas do João (escritor Lázaro Ramos, ilustração Maurício Negro, editora Edições Pallas)
Escritor: Lázaro Ramos
Ilustrador: Mauricio Negro
Editora: Pallas
Faixa etária: 3 a 12 anos

4 – Caderno de rimas do João

Todo mundo tem seu caderno de anotações. O que será que encontramos no caderno de rimas de João? Um olhar poético com temas da infância, com palavras que ele vai descobrindo, com relações que estabelece com outras crianças e com o adulto.

Lázaro Ramos entrega, já nas páginas deste livro, algumas memórias do seu universo infantil e outras tantas das observações do seu filho. Além disso, na obra Caderno de rimas do João também encontramos alguns diálogos sobre amizade, leitura, amor e autoestima… e outros com temas bastante complicados, como perda, arte, política e diversidade cultural e étnica.

Historias da Preta
Escritora: Heloisa Pires Lima
Ilustradora: Laurabeatriz
Editora: Companhia das Letrinhas
Faixa etária: 6 a 12 anos

5 – Histórias da Preta

Outro livro incrível com representatividade negra e para falar sobre diversidade – e não só no dia da Consciência Negra – é Histórias da Preta. Quem inventou o nome da cor das pessoas? Como é ser uma criança negra? “Preta”, é assim que sua tia Camila a chama e é sua tia quem lhe conta as histórias que ouviu, viveu e imaginou. Histórias dos povos da África, de menino japonês, de menina transparente, são diferentes histórias e histórias de diferenças.

Nesta obra, Preta nos conta histórias de um povo africano que veio ao Brasil como escravo e que sofreu, mas construiu aqui um novo lar. A personagem conta assim histórias sobre a sua ancestralidade, “histórias sobre a sua própria história”. Trata da importância de preservarmos as nossas histórias como uma forma de não perdermos nossa memória e nossa identidade, e assim a nossa autoestima.

Veja também: Conheça algumas palavras de origem africana muito comuns no dia a dia

Livros para trabalhar na educação infantil. Quando me descobri negra (escritor Bianca Santana, ilustrador Mateu Velasco, editora SESI-SP)
Escritora: Bianca Santana
Ilustrador: Mateu Velasco
Editora: SESI-SP
Faixa etária: 9 a 12 anos

6 – Quando me descobri negra

“Tenho 30 anos, mas sou negra há 10. Antes, era morena.” É com essa afirmação que Bianca Santana inicia uma série de relatos sobre experiências pessoais ou ouvidas no círculo de mulheres negras que organizou. Com uma escrita ágil e visceral, denuncia com lucidez – e sem as armadilhas do discurso do ódio – nosso racismo velado de cada dia, bem brasileiro, de alisamentos no cabelo, opressão policial e profissões subjugadas.

Quando me descobri negra traz uma série de situações de racismo que parecem sutis para quem não as vivencia, dando margem a uma interpretação ambígua. Mas, para quem as vive, são situações dolorosas. Certamente, falar sobre a consciência negra nos ajuda a compreender e nomear o que é racismo, tanto para quem o vivência quanto para quem o observa ou o comete.

Ombela, de Ondjaki e ilustrações de Rachel Caiano. Editora: Pallas Mini
Escritor: Ondjaki
Ilustradora: Rachel Caiano
Editora: Pallas
Faixa etária: 3 a 8 anos

7 – Ombela

Por que chove? Como isso acontece? De onde vem a água doce dos rios, lagos, lagoas e a água salgada do mar? Este lindo conto africano apresenta a mágica história de Ombela e seus sentimentos.

O escritor Ondjaki buscou nesta lenda africana uma linda maneira de apresentar os diversos sentimentos que cabem em uma pessoa e, sobretudo, o que eles podem representar. Outro ponto interessante é que, independente dos nossos sentimentos, eles nos ensinam a perceber o nosso lugar e o quanto podemos contribuir para o universo.

Pelo rio (autora Vanina Starkoff, editora Pallas Mini)
Autora: Vanina Starkoff
Editora: Pallas
Faixa etária: 0 a 12 anos

8 – Pelo rio

Pelo rio de Vanina Starkoff é nossa próxima dica de livro com representatividade negra. Nesta obra, fazemos uma viagem pelo rio, onde todos buscam o próprio ritmo para navegar. E não é assim na vida?

O tema deste livro não é a diversidade, mas justamente por isso é interessante que ele tenha personagens com diferentes características, diferentes cores de pele. Não precisamos apresentar personagens de diferentes etnias apenas quando estivermos falando dessa pluralidade. Afinal, vivemos em um país diversificado, e representar essa diversidade na literatura infantil é um passo na direção de uma sociedade cada vez mais igualitária.

Uma escuridão bonita (autor Ondjaki, ilustrador Antônio Jorge Gonçalves, editora Pallas)
Escritor: Ondjaki
Ilustrador: António Jorge Gonçalves
Editora: Pallas
Faixa etária: 9 a 12 anos

9 – Uma escuridão bonita

Este livro mergulha no olhar livre dos jovens e no seu fascínio pelas novas descobertas, pelos sentimentos que começam a brotar dentro de si. Acompanhamos uma noite de conversas entre dois pré-adolescentes que, no meio de um apagão, assistem os carros passarem enquanto se divertem com a simplicidade dos momentos juntos.

Uma escuridão bonita é um livro com representatividade negra e mais um dos casos que não aborda o tema da diversidade em seu texto, mas ela ainda está presente através de seu autor. Ondjaki é um escritor angolano que traz uma representatividade negra importante para a obra, pois não precisamos apenas ver a diversidade representada no texto, também precisamos vê-la entre os autores que lemos, os ilustradores que acompanhamos, e qualquer outro ramo com que tenhamos contato.

Pra que serve um dedo (escritora Paula Taitelbaum, ilustrações Julie Rambaud, editora Piu).
Escritora: Paula Taitelbaum
Ilustrador: Julie Rambaud 
Editora: Piu
Faixa etária: 0 a 5 anos

10 – Pra que serve um dedo?

A última obra da nossa lista de livros com representatividade negra para você contemplar mesmo fora do dia da consciência negra, é Pra que serve um dedo?, de Paula Taitelbaum. Afinal, você sabe quais são as funções de um dedo? Pois, este livro brinca com elas ao apresentar os mais diferentes modos de utilizar… um dedo. Além disso, ao trazer essas respostas, faz um passeio por situações cotidianas de toda criança. Quando ler a sinopse dessa obra, o leitor pode não se dar conta da representatividade que ela carrega. Isso ocorre porque, mesmo sem abordar o tema explicitamente, as ilustrações de Julie Rambaud transbordam diversidade, afinal, ela deve estar presente mesmo que esse não seja o tema principal da trama.

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