O livro ilustrado contemporâneo para crianças tem se mostrado um intrigante palco de criatividade para os artistas que têm domínio sobre a palavra e a imagem — e aqui vale navegarmos com exemplo de Vanina Starkoff, uma espécie de crônica visual que descreve o cotidiano e a diversidade de embarcações em rio representado pela extensão horizontal das páginas continuamente abertas do livro e pela ostensiva cor amarela.
Resgatando a linguagem da pintura naïf, a obra apresenta intensa riqueza de detalhes numa festa para os olhos, permitindo o leitor observador navegar de capa a capa. São muitos elementos transportados pelos barcos: frutas, água potável, tecido de chita ou chitão, artesanato, galinhas vivas, plantas em vaso, especiarias, doces, bolos, sucos, comida feita na hora. Contudo, não é apenas o comércio flutuante que se faz presente nas águas de um rio vivo: além de lojas e bares-restaurante, a vida é transportada com arte e instrução. Existe mesmo a Escolinha da Felicidade pelo rio que segue.
Essa aventura começa com a dedicatória da autora: “Para todas as belas almas que eu encontrei pelo rio...” abrindo uma sequência de bonitos pensamentos a respeito do movimento da vida. Existe um fluxo, existe também a sucessão das estações marcando a paisagem e temperando as pessoas. Embora não haja expressamente uma história a ser contada, diversas pequenas narrativas podem ser vistas e adivinhadas através das imagens, das relações de trabalho à diversão, das amizades e namoros! E o livro também carrega um interessante jogo que é a inserção de dizeres, frases e lemas dentro da ilustração: são os nomes dos barcos, as placas dos estabelecimentos, lousas e quadrinhos que mostram o que pensa, exorta e defende essa população mágica ribeirinha.