Muitos pais enfrentam dificuldades na hora de apresentar alimentos aos filhos, mas, até os dois anos, é normal algumas crianças recusarem determinados ingredientes. Essa seletividade alimentar deve ser distinguida da seletividade alimentar extrema, ou Distúrbio Alimentar Pediátrico (DAP), que é definido como ingestão oral prejudicada que não é apropriada para a idade e está associada ao comprometimento nutricional, além de disfunção psicossocial.

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“Estudos mostram que 30% de crianças típicas e 80% daquelas com alteração no neurodesenvolvimento podem apresentar DAP”, explica a fonoaudióloga Rosana Magagnini, certificada no Tratamento das Dificuldades Alimentares Infantis pela Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa). Segundo ela, alguns sinais de alerta devem ser observados para identificar um problema mais sério, como a recusa alimentar por mais de três meses, se as refeições são prolongadas por mais de 30 minutos e se há estresse durante as refeições. “Também é importante verificar se existe resistência ou dificuldade na aceitação de determinadas texturas ou mesmo marcas diferentes de alimentos e se falta independência para comer”, completa.

Rosana ainda ressalta que é necessário observar se há alimentação noturna excessiva e se a criança apresenta dificuldade em deglutir, com movimento de cabeça demonstrando certo esforço ou desconforto, ou ainda se mastiga e cospe alimentos, como carnes, por exemplo. “Pode-se checar se há necessidade de distração para aumentar quantidade ou variedade de alimentos. Quando se trata apenas e simplesmente de preferências alimentares, que todos nós temos inclusive, não encontramos esses sinais evidentes”, reforça.

Quais são as possíveis causas da seletividade alimentar extrema?

A causa da seletividade alimentar extrema é multifatorial e é recomendado o envolvimento de uma equipe interdisciplinar para o diagnóstico. “Algumas condições médicas, como refluxo gastroesofágico, constipação intestinal, intolerâncias ou alergias alimentares, como também questões cardiorrespiratórias, entre outras, podem afetar o apetite e a disposição para comer com conforto.”

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Além disso, experiências negativas com determinados alimentos, como vômitos, alergias ou náuseas, podem fazer que as crianças evitem alguns alimentos no futuro. “E a inabilidade motora oral é outra possível causa de seletividade alimentar em crianças. Isso ocorre quando a criança tem dificuldade em coordenar os movimentos orais para se alimentar adequadamente. Essa dificuldade pode afetar a capacidade da criança mastigar, engolir, beber e respirar adequadamente durante as refeições.”

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Caso não seja rapidamente identificada, quais são os reflexos da seletividade alimentar extrema na vida adulta?

O encaminhamento precoce para uma avaliação médica é fundamental. “A seleção extrema de alimentos pode levar a uma dieta desequilibrada e deficiente em nutrientes essenciais, o que pode acarretar em problemas de saúde a longo prazo, como deficiências nutricionais, anemia e osteoporose. Pode tornar difícil a socialização em eventos que envolvam alimentação, como jantares, viagens e festas, o que pode afetar negativamente a vida social e profissional em casos extremos.”

Quais são os tratamentos para o Distúrbio Alimentar Pediátrico?

Qualquer profissional da área de saúde pediátrica pode ajudar no encaminhamento da criança para uma avaliação fonoaudiológica especializada e consequentemente o diagnóstico precoce de DAP. “O fonoaudiólogo avalia as habilidades motoras orais e tudo que se relaciona a elas, desde a amamentação, introdução alimentar complementar e desafios alimentares”, explica Rosana.

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A depender do quadro clínico da criança, pode ser necessária ainda a participação de outros profissionais como psicólogo, que pode ajudar no diagnóstico e tratamento de questões emocionais e de ansiedade da criança ou da família, e de pediatras, que diagnosticam e tratam condições orgânicas que possam afetar a alimentação, como intolerâncias alimentares, alergias respiratórias e alimentares, doenças gastrointestinais, cardiorrespiratórias. “Também há o terapeuta ocupacional, que auxilia no desenvolvimento de habilidades motoras e sensoriais relacionadas à alimentação, além de nutricionista e fisioterapeuta.”

Como a rotina familiar pode auxiliar ou atrapalhar a relação das crianças com a comida?

A alimentação responsiva é uma abordagem que busca promover uma relação saudável entre a criança e o alimento, permitindo que ela desenvolva um paladar diversificado e saudável, sem pressão ou restrições excessivas. De acordo com essa abordagem, os pais ou cuidadores devem estar atentos aos sinais de fome e saciedade da criança e permitir que ela decida o quanto quer comer. Isso significa que os pais não devem forçar a criança a comer ou incentivar a comer mais do que ela realmente deseja. Da mesma forma, os pais também não devem impedir a criança de comer quando ela está realmente com fome.

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“Esse conceito também envolve permitir que a criança experimente diferentes alimentos e respeitar as suas preferências. A família ou cuidadores devem oferecer uma variedade de alimentos saudáveis, permitindo que a criança escolha o que quer comer, dentre as opções ofertadas por eles, e garantindo que ela experimente novos alimentos com segurança, tranquilidade e conforto”, define. A fonoaudióloga também alerta para restrições ou proibições impostas de alimentos específicos, uma vez que isso pode gerar menos interesse ainda.

Boas práticas que podem ser aplicadas em casa

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Horários regulares de refeições podem ajudar a criança a ter uma rotina alimentar mais consistente, evitando o excesso de fome e a compulsão alimentar. “Os pais podem auxiliar na construção de hábitos alimentares positivos, incentivando as crianças a experimentarem novos alimentos e a terem uma atitude positiva em relação à comida. Usar a comida como fonte de conforto ou recompensa pode levar a comportamentos alimentares emocionais e pouco saudáveis”, acrescenta.

A pressão para comer pode fazer as crianças rejeitarem alimentos ou desenvolverem aversão à comida. “É importante permitir que as crianças tenham autonomia, respeitando suas preferências e limitações. Assim, uma alimentação responsiva pode ajudar a prevenir a seletividade alimentar e a promover uma relação positiva com a comida. Ela permite que a criança desenvolva um paladar diversificado e saudável, sem pressão ou restrições excessivas, e pode ajudar a prevenir problemas de saúde relacionados à alimentação, como obesidade, transtornos alimentares e prejuízos na qualidade de vida da família como um todo.”