Conheça a teoria da exterogestação e entenda como seu pequeno se sente durante os primeiros meses de vida.
Você sabe o que é exterogestação? Essa é uma palavra complicada e que você pode nunca ter ouvido, mas se tem filhos ou já se relacionou com bebês, provavelmente já sentiu seus efeitos na prática.
Já é de conhecimento geral que os bebês ficam em torno de 9 meses na barriga de suas mamães (ou 40 semanas, em uma unidade de medida que as mamães costumam dominar, mas que quem escuta tenta fazer os cálculos de cabeça para entender).
Porém, fisiologicamente, este tempo deveria ser maior.
Não queremos dizer aqui que nossos professores nos ensinaram errado a vida toda ou que os obstetras estão fazendo contas equivocadas, mas, sim, que a evolução da espécie humana fez que esse tempo fosse encurtado – o que pode ser explicado cientificamente.
Porém, embora o tempo que os bebês ficam dentro das barrigas de suas mães tenha sido reduzido pela evolução, a necessidade de continuar dentro da barriga não deixou de existir nos pequeninos, e é aí que começamos a entender um pouco sobre o período de exterogestação.
Ficou curioso? Então acompanhe o Clube de Leitura Quindim neste artigo para entender, de forma simples e clara, mas com todo o embasamento necessário, a teoria da exterogestação e porque este é um assunto que merece ser mais divulgado e conhecido, já que traz consequências diretas às vidas dos bebês.
O que é exterogestação?
O termo deriva do prefixo “extero-”, que significa “fora” ou “externo”, acompanhado de “gestação”. Portanto, na prática, é exatamente o que o nome parece: uma gestação externa, que ocorre fora da barriga.
Quando falamos sobre isso, pode ser que você associe à gravidez ectópica, que acontece quando o óvulo fertilizado fica fora do útero, em outras estruturas, como nas trompas. Porém, a exterogestação é diferente: ela acontece, de fato, fora da barriga, depois que o bebê já nasceu.
A semelhança com os bebês canguru
Como comentamos no início do artigo, fisiologicamente, a gestação dos bebês teria de ser maior. Inclusive, temos um exemplo no reino animal que pode servir como comparação, guardadas as devidas proporções: os cangurus.
Resumindo, a gestação dos bebês cangurus é muito rápida, o que ocorre por processos naturais. Ele nasce tão pequeno quanto uma jujuba e, então, escala o pelo da mamãe até chegar ao marsúpio, nome técnico para a “bolsa” em que eles ficam contidos.
Ao sair do útero, comparativamente, o bebê canguru está no estágio de um feto humano de 7 semanas. Então, ele chega ao marsúpio, onde estão os mamilos, e passa outros 200 dias mamando e se desenvolvendo.
Este processo dura de 8 a 11 meses, de acordo com a espécie do canguru, quando ele já não cabe mais ali, então não consegue mais entrar, embora ainda coloque sua cabeça para dentro para continuar mamando por mais uns 6 meses, até que se torne um canguru mais “independente”.
A exterogestação nos bebês humanos
Nosso foco aqui não são os cangurus, mas o que queremos dizer é que, no momento em que eles saem do útero, ainda não estão completamente desenvolvidos, assim como também acontece com os bebês humanos.
Embora a gestação pareça separar a mãe e o bebê, os pequenos não querem que essa separação aconteça. A natureza entende que eles deveriam continuar seguros nos corpos de suas mães mesmo depois de nascer, mas isso se torna fisiologicamente impossível.
De acordo com um ótimo artigo do site da Boba (em inglês), bem didático e com várias referências, o rápido crescimento dos bebês acontece durante os três últimos meses da gestação. Porém, quando nascem, eles ainda não estão completamente maduros.
Seus cérebros terminam de crescer quando os bebês estão fora do útero. Isso, em conjunto com o fato de os seres humanos serem bípedes e, portanto, andarem sobre dois pés (consequentemente demandando um rearranjamento e um estreitamento da pelve), faz que os bebês nasçam menos maduros que o ideal.
Portanto, podemos dizer que a teoria da exterogestação está alinhada com o desenvolvimento da espécie humana. Porém, isso não significa que os bebês não conseguirão se desenvolver como precisam, mas, sim, que este processo acontecerá depois do nascimento, quando estão fora do útero.
Maiores informações também podem ser encontradas no livro Human birth: An evolutionary perspective (1987), de Wenda Trevathan.
Se você quiser saber mais sobre o crescimento dos bebês nos primeiros anos de vida fora do útero, pode conferir mais em nosso blog sobre picos de crescimento do bebê: saiba o que são e quando acontecem.
Veja também: Picos de crescimento do bebê: saiba o que são e quando acontecem
Quanto tempo dura a exterogestação?
Este é um ponto bem curioso, já que é possível encontrar várias respostas para a pergunta, as quais variam de acordo com o que se considera como o final da exterogestação e qual foi a fonte consultada.
O “4º trimestre” – o período mais aceito
Você já deve ter ouvido falar sobre o “4º trimestre”, uma crença de que a nutrição da gestação não termina ao nascimento, mas continua durante os três primeiros meses de vida do bebê. Este, inclusive, costuma ser o período da exterogestação mais aceito.
Embora nomeado de 4º trimestre, ele pode durar de 3 a 4 meses depois do nascimento, período em que o bebê ainda está se ajustando ao seu novo habitat. Afinal, o contraste entre a vida dentro do útero e fora dele é muito grande, o que torna o processo desafiador.
Este é um período superimportante para o desenvolvimento neurológico dos bebês, além de seus sistemas circulatório, respiratório, endócrino e digestivo.
As palavras do antropólogo e humanista inglês Ashley Montagu, em seu livro Touching: The Human Significance of the Skin (1986), descrevem bem este momento de mudança:
O nascimento não constitui mais o início da vida de um indivíduo do que o fim da gestação. O nascimento representa uma série complexa e altamente importante de mudanças funcionais que servem para preparar o recém-nascido para a passagem pela ponte entre a gestação dentro do útero e a gestação continuada fora do útero.
Essa tese de Montagu ganhou ainda mais notoriedade graças ao pediatra estadunidense Harvey Karp, que criou um livro super famoso entre as mamães e papais de todo o mundo: The Happiest Baby on the Block (2002), traduzido como O Bebê Mais Feliz do Pedaço.
Imagine só: o bebê estava sempre quentinho no útero, acomodado no fluído da bolsa amniótica. Ouvia os sons do sangue correndo pelas veias, dos batimentos cardíacos da mamãe, de vozes e também os ruídos da digestão.
Ele se movia em condições limitadas, com uma parede macia ao seu redor que o protegia. Além disso, era continuamente nutrido pelos nutrientes da corrente sanguínea entregues pelo cordão umbilical e ficava em um ambiente escuro, bem confortável.
Então, de uma hora para outra, ele sai dessa bolsinha de amor e vem para o mundo do lado de fora. Isso deve ser desconfortável, mesmo que eles ainda não consigam falar o que sentem – ou somos nós que não entendemos, afinal.
Com tantas mudanças e um desenvolvimento tão intenso em um período tão curto, a teoria da exterogestação se aplica ao máximo durante os primeiros meses de vida de um bebê.
9 meses dentro, 9 meses fora – outra abordagem
Para alguns especialistas, porém, o período da exterogestação ainda não foi plenamente cumprido nos três ou quatro primeiros meses de vida.
Em 1944, Adolf Portmann, um zoólogo suíço, sugeriu que para que um bebê recém-nascido atingisse o estágio de desenvolvimento de um macaco recém-nascido, a gestação total teria que ter aproximadamente 21 meses.
Bostok, porém, teve uma ideia diferente. Ele relatou que a gestação ideal para um bebê humano recém-nascido seria no início da locomoção quadrúpede (ou, em outras palavras, rastejar-se), que permitiria ao bebê escapar do perigo por conta própria.
O curioso é que, de acordo com Ashley Montagu, no mesmo livro de que comentamos antes, o tempo médio que uma criança leva para começar a rastejar é de 266,5 dias (pouco menos de 9 meses), exatamente o mesmo período que dura a gestação dentro do útero!
É disso, inclusive, que também surge um termo bem interessante: 9 months in, 9 months out (9 meses dentro, 9 meses fora), que inclusive deu nome a um livro. Nesse contexto, porém, o sentido é o da teoria da exterogestação, que indica quando o bebê terá, enfim, concluído sua gestação fora da mamãe.
18 meses? – Uma “exterogestação estendida”
Inclusive, há pessoas que consideram um período de exterogestação ainda maior, como Darcia Narvaez, professora de psicologia porto-riquenha, citou em um artigo no site da revista Psychology Today.
De acordo com ela, um bebê humano não se parece com outros animais recém-nascidos (com ossos endurecidos e no lugar, além da capacidade de se auto-prover) até que tenha 18 meses. Logo, seria necessária uma incrível gestação de 27 meses, algo em torno de 120 semanas!
No final das contas, o período da exterogestação pode variar de 3 meses (mais intenso) a 18 meses (menos intenso) de acordo com a fonte consultada, mas fato é que a teoria da exterogestação existe e precisa ser assimilada e praticada para o melhor desenvolvimento possível por parte dos bebês.
Você também pode conferir mais sobre os saltos de desenvolvimento do bebê: o que são e como lidar com as mudanças em nosso blog!
Veja também: Saltos de desenvolvimento do bebê: o que são e como lidar com as mudanças
O que fazer durante a exterogestação?
Lembra quando mencionamos Harvey Karp e o seu livro? Pois bem, em um artigo no site da revista Parents, o próprio Karp compartilhou 3 dicas indispensáveis e que certamente podem ajudar durante o período de exterogestação, especialmente o 1º trimestre de vida do bebê fora do útero. Veja só:
1 – Existe um 4º trimestre.
O 4º trimestre requer abraços, abraços e mais abraços. “Um recém-nascido certamente gostaria de passar mais alguns meses dentro do útero se tivesse esta opção”, afirma Karp.
Ele diz que criar um ambiente que faça o bebê achar que ainda está no útero é o ponto principal. Para isso, é possível usar as técnicas que ele chama de “os 5 S’s”, que explicaremos adiante e fazem que o bebê ative seu reflexo calmante.
2 – O ritmo
O ritmo que um bebê sente dentro do útero ativa um reflexo calmante que o mantém relaxado. Ele pode ser considerado como um botão que desliga o choro e liga o sono, diz Karp.
Ele relembra o que aprendeu dos !Kung, parte do povo San, do Deserto Kalahari. “As mães carregam e embalam seus bebês o dia todo”, diz ele, e perceber como isso fez os bebês se acalmarem foi o gatilho para desenvolver os “5 S’s”.
3 – Usar os 5 S’s é essencial.
Depois de aprender o que é exterogestação, você deve ter se perguntado sobre o que fazer para ajudar o bebê, e aqui está um conjunto valiosíssimo de dicas, que podem fazer você atingir o seu objetivo de uma maneira mais tranquila e confortável para ambas as partes. Veja só:
- Swaddle (enfaixar). Enfaixar os bebês, aconchegando-os de um jeito bem firme em um lençol, deixa-os acomodados, assim como no útero. Dessa forma, eles se tornam mais responsivos aos outros S’s e ficam calmos por mais tempo. Cada bebê é diferente, mas é preciso tentar o “tudo ou nada”, pois se acertá-lo no joelho em um lugar específico, você terá um reflexo, mas se acertar alguns centímetros para o lado, isso não vai acontecer.
- Side-Stomach (estômago de lado). Para acalmar um bebê, nunca deixe-o de costas. Ao invés disso, segure-o nos braços para que ele se deite de lado, ou sobre seus ombros, para que esteja apoiado em sua barriga. Porém, esse é um cuidado para momentos do dia, já que o recomendado é que os bebês durmam de barriga para cima.
- Shush (fazer “shhh”). Fazer “shhh” em alto e bom som pode parecer uma má ideia, mas ao pensar que este som imita o do útero, começa a fazer sentido, diz Karp. Ele também afirma que não é por acaso que nos acalmamos quando ouvimos as ondas do oceano ou ficamos com sono com o ruído de um avião. O Dr. Karp ainda explica que a melhor forma de imitar os sons de dentro do útero é com o uso de algum ruído como esses.
- Swing (balançar). Use movimentos rápidos, mas curtos, para acalmar um bebê que está chorando. Isso demanda prática, mas pode trazer ótimos resultados.
- Suck (sugar). Bebês agitados relaxam com a sucção, a amamentação. De acordo com o Dr. Karp, a sucção é “a cereja do bolo” quando se trata de acalmar um bebê.
Se você tem problemas para acalmar o bebê, talvez o artigo do nosso clube de leitura sobre o que é hora da bruxa em bebês? Entenda e saiba o que fazer possa te ajudar!
Veja também: O que é hora da bruxa em bebês? Entenda e saiba o que fazer
Exterogestação: uma verdadeira gestação fora do útero
Esperamos que você tenha entendido a teoria da exterogestação, quanto tempo dura a exterogestação e mais uma série de informações relevantes sobre esse momento tão significativo no desenvolvimento dos bebês.
Inclusive, sabendo que ouvir sua voz é algo que acalma o bebê, que tal aproveitar a oportunidade para conhecer o clube de assinatura infantil do Quindim? Assim, além da ternura de suas palavras, você introduz desde pequenino o amor à leitura e à literatura. Você pode conferir algumas dicas de livros para bebês em nosso blog também!
Agora que você já sabe o que é exterogestação, prepare-se para viver momentos únicos e especiais com o seu bebê, que fortalecerão ainda mais um elo tão intenso. Acredite: da mesma forma que ele sente falta do útero da mamãe, você também sentirá da gestação, quer dentro do útero ou fora dele!
APROVEITE ESTE MOMENTO PARA INCENTIVAR A LEITURA!
Existem algumas razões pelas quais os bebês humanos nascem tão imaturos. Uma delas está relacionada ao tamanho da cabeça em relação à pélvis da mãe. Devido à evolução da capacidade cerebral humana, os bebês têm cabeças maiores em proporção ao tamanho da pélvis, o que dificulta o parto se eles já estiverem completamente desenvolvidos. Portanto, nascer prematuramente permite que os bebês sejam entregues com segurança.
Outro fator importante é o ambiente em que os bebês humanos nascem. Ao contrário de muitos outros animais, os seres humanos têm uma cultura complexa e dependem muito do aprendizado social e cultural para sobreviver. Nascimento prematuro permite que os bebês entrem em contato direto com o ambiente externo, onde podem aprender e se adaptar às normas e práticas da sociedade em que vivem.
É essencial observar que o período de exterogestação não é apenas sobre a imaturidade física dos bebês, mas também sobre sua dependência emocional e necessidade de cuidados intensivos. Os bebês humanos requerem apoio contínuo e afeto dos pais ou cuidadores para atender às suas necessidades básicas de alimentação, proteção e conforto.