Falar com as crianças sobre morte, violência e assédio, entre outros assuntos difíceis, não é algo fácil. É comum as famílias optarem por adiar essa conversa como forma de proteger os filhos. Porém, ironicamente, a melhor forma de realmente protegê-los é tendo essa conversa dentro de casa, num ambiente seguro, para acolher os medos e responder as dúvidas de forma gradual e com sinceridade.
A informação é o recurso mais valioso para compreender as dores do mundo. E nessa jornada de aprendizado, a literatura infantil pode ser a aliada das famílias. Atentos a diferentes realidades, existem livros infantis que abordam assuntos difíceis com sensibilidade e respeito à faixa etária do público leitor.

No Clube Quindim, os livros são selecionados por uma equipe de especialistas que têm o cuidado de apresentar livros transformadores, que estimulam a empatia e o desenvolvimento de um olhar crítico para o mundo. Confira uma lista com algumas obras que nossos assinantes já receberam e que ajudam a abordar assuntos que temos medo de tratar com crianças.
livros para ler em família e conversar sobre assuntos difíceis
Ilustrador: Pascal Lemaître
Editora: Nova Fronteira
Faixa etária: 3 a 5 anos
1. O livro das pessoas malvadas
“Este é o livro das pessoas malvadas”, diz o personagem nas primeiras páginas da obra. Em seguida – de forma até surpreendente -, somos apresentados às pessoas que fazem parte da vida dessa criança, como sua família e seus amigos. Mas, então, o que é a maldade para ela?
Escrito por Toni Morrison e Slade Morrison, mãe e filho, e ilustrado por Pascal Lemaître, O livro das pessoas malvadas convida os leitores a revisitar esse adjetivo sob o olhar infantil. A narrativa nos desafia a reconhecer os sentimentos das crianças e a refletir sobre o que nós, adultos em suas vidas, fazemos para desencadeá-los.
Direto do Instagram: Como lidar quando o livro infantil causa estranhamento?
Editora: VR Vergara & Ribas
Faixa etária: 3 a 8 anos
2. Um belo lugar
A morte e o luto são assuntos que muitas famílias têm dificuldade de abordar com as crianças. Se, para nós, adultos, já é complicado lidar com esse sentimento, é natural termos dúvidas de como falar sobre isso com as crianças. Para isso, a literatura infantil pode ser uma grande aliada!
Um belo lugar, de Alexandre Rampazo, é uma dica valiosa de livro que fala sobre a morte de forma sensível e acolhedora. A obra conta a lenda de uma ave que seria responsável por levar as almas das pessoas que partem para um belo lugar. Ao mesmo tempo que a história nos faz refletir sobre o momento da partida, ela também evoca o encanto da vida.
Veja também: Luto infantil: como ajudar a criança a lidar com a morte e os encerramentos
Ilustrador: Odilon Moraes
Editora: Companhia das Letrinhas
Faixa etária: 6 a 12 anos
3. Os invisíveis
Na escola, no trabalho, ou simplesmente andando pelas ruas, nós realmente enxergamos as pessoas que estão ao nosso redor? É com essa premissa que Tino Freitas e Odilon Moraes escrevem Os invisíveis, um livro que convida a expandir nosso olhar para situações que certamente vivenciamos, descortinando uma realidade da qual todos fazemos parte.
Nesta obra, uma criança tem o superpoder de ver os invisíveis. Ele enxerga uma pessoa em situação de rua, um idoso sentado no banco da praça e uma pessoa responsável pela limpeza. Mas o que acontecerá com esse poder quando o menino também crescer?
Ilustrador: Pef
Editora: Editora Cecerelê
Faixa etária: 9 a 12 anos
4. Papai, por que você votou no Hitler?
Mesclando uma história fictícia com eventos históricos reais que culminaram na Segunda Guerra Mundial, o livro Papai, por que você votou no Hitler? convida os leitores a refletirem sobre esse período marcante da história.
Na trama, Otto, um garoto alemão, lembra-se das discussões entre seus pais no dia da eleição que deu ao partido nazista o controle do governo. Seu pai acreditava que isso salvaria o país, enquanto sua mãe, grávida, tinha opiniões contrárias. Pouco tempo depois, com Hitler no poder, Otto começa a presenciar mudanças drásticas, e a violência gradualmente toma conta das ruas.
Veja também: Sobre as dores do mundo: como conversar com as crianças sobre temas difíceis?
Ilustradora: Thais Beltrame
Editora: Abacatte
Faixa etária: 6 a 12 anos
5. Leila
Segundo dados da rede de monitoramento internacional InHope de 2024, o Brasil é o 5º país no mundo em que há mais relatos de abuso sexual online. Também em 2024, a Unicef estima que apenas 10% dos casos são realmente denunciados. Esses são apenas dois motivos que nos ajudam a compreender a importância de falar sobre assédio com as crianças.
A literatura nos permite abordar temas como esse respeitando o repertório e a capacidade de entendimento das crianças. Leila, de Tino Freitas e Thais Beltrame, é um livro que trata sobre o assédio de forma acessível e com muita sensibilidade.
Veja também: Abuso sexual infantil: acolhimento e informação são as melhores formas de prevenção
Ilustradora: Agata Dudek
Editora: Piu
Faixa etária: 9 a 12 anos
6. A garrafa do Papai
Uma pesquisa realizada pelo Datafolha em abril de 2025 aponta que 49% da população brasileira acima de 18 anos costuma consumir bebidas alcoólicas regularmente, sendo que apenas uma a cada cinco pessoas admite exagerar.
Em A garrafa do papai, os autores Artur Gębka e Agata Dudek falam sobre o consumo compulsivo de álcool em uma história poética que, ao mesmo tempo, provoca reflexões sobre o que significa lidar com situações difíceis como essa e a importância de buscar e receber ajuda.
Editora: Caixote
Faixa etária: 6 a 12 anos
7. Eu devia estar na escola
Violência não deveria ser assunto de criança. Mas, para muitas delas, essa é a realidade. O livro Eu devia estar na escola foi escrito pelas crianças moradoras de favelas da Maré, no Rio de Janeiro. Com desenhos e textos de autoria das crianças, elas nos contam a violência das operações policiais que acontecem na favela e como enfrentam essas situações.
Editora: WMF Martins Fontes
Faixa etária: 9 a 12 anos
8. Uma longa caminhada até a água
De acordo com a Agência da ONU para refugiados (ACNUR) até o final de 2024, mais de 123 milhões de pessoas foram forçadas a sair de seu país natal e buscar refúgio em outros lugares do mundo. Desse número, estima-se que 49 milhões sejam crianças e jovens menores de 18 anos. Se essa realidade faz parte da infância de tantas crianças, como não conversar com nossos filhos e filhas sobre o assunto?
Para iniciar esse diálogo em família, trazemos como dica o livro Uma longa caminhada até a água. Baseado em uma história real, a obra de Linda Sue Park aborda os sofrimentos causados pelas guerras ao longo do tempo e as profundas consequências que afetam os povos impactados.