Pergunte para a sua criança: quando há um terremoto, quais os lugares mais seguros para se proteger? Algumas, talvez, tenham visto em um filme que os batentes das portas são os locais mais indicados. E quando há uma tempestade com raios, o que devemos fazer? Ficar longe das árvores, dos campos abertos, da piscina e do mar. Mas... E quando há tiroteio?
A obra organizada por Ananda Luz e Isabel Malzoni traz uma série de trechos de cartas e desenhos de crianças moradoras das favelas da Maré, no Rio de Janeiro, que nos contam o que fazem nesses momentos. Enquanto umas se escondem sob a mesa ou a cama, atrás da máquina de lavar, outras já aprenderam com os pais a procurar abrigo nos cômodos onde não há janelas.
Se estão em casa, é lá que permanecem. Perdem dias de aula, seus familiares perdem dias de trabalho. Se estão na escola, se abrigam nos corredores, enquanto a professora conta histórias para ajudar o tempo a passar. Se estão nas ruas, buscam encontrar um equilíbrio impossível entre não correr e não ficar parado, pois tudo pode transformá-las em alvo, mesmo que estejam com uniforme da escola.
São muitas as notícias e os relatos de pessoas que perderam a vida durante as incursões da Polícia Militar nas favelas da Maré e em várias outras da capital carioca. Ainda que o intuito seja coibir ações criminosas e relacionadas ao tráfico de drogas, a entrada policial, como vemos nas páginas deste livro e nas dos jornais diários, resulta em ações frequentemente truculentas, transformando em vítimas moradores inocentes, de todas as idades, cuja única relação com os criminosos é habitar a mesma favela.
Uma obra dolorosa, revoltante e necessária para provocar questionamentos, indignação e adesão à luta por mudança por parte de quem não convive com essa realidade diariamente, mas nem por isso acha que é normal.