Jogos, redes sociais e vídeos podem ser formas de entretenimento para passar o tempo livre, mas exigem olhar atento dos pais para garantir uma internet segura para os pequenos.

Considerado por muitos o game do momento, o Among Us é um jogo on-line que se popularizou no Brasil nos últimos meses, principalmente por causa da pandemia do novo coronavírus. Por ser um jogo multiplayer, só é possível jogar com outras pessoas – que podem ser amigos ou pessoas desconhecidas. Há pais e mães que não fazem ideia de como o jogo funciona – ou mesmo que seus filhos jogam. O Clube Quindim entrevistou uma família que conta mais sobre como é o jogo e como lidam com o monitoramento de atividades on-line. Também apresentamos aqui dicas de especialistas e instituições sobre segurança de crianças e adolescentes para tornar a internet segura para eles.

Um jogo em que você interage com outros usuários

internet segura. O seu filho jogar among us

Para jogar o Among Us, é necessário que tenha pelo menos quatro jogadores e no máximo dez, formando um grupo cheio. Pode ser jogado por meio de computador ou celular e, para acessar uma das salas, é preciso criar um nome de usuário. Você pode criar um apelido novo por acesso, não se trata de um usuário fixo que você usa sempre. O jogador também não insere e-mail ou qualquer outro dado para entrar.

No game, a tripulação precisa solucionar uma série de pequenas tarefas espalhadas em uma nave espacial e retornar à Terra. Mas um deles é o famoso impostor. Esse “vilão” tem como objetivo sabotar a missão e matar os outros jogadores sem ser descoberto, porque ninguém (além dele próprio) sabe quem é. O desafio do impostor é matar o maior número de tripulantes; já os demais membros precisam resolver todas as tarefas, não ser eliminados e descobrir quem é o impostor. Cada um pode se tornar um impostor em uma partida diferente, sem poder escolher esse papel no jogo.

Mas por que o jogo exige atenção? No Among Us, a interação entre os usuários acontece por meio de um chat visível a todos da sala (não é possível enviar mensagens privadas a outros jogadores). Como é possível que a criança ou adolescente divida a sala com pessoas desconhecidas, elas podem enviar mensagens pelo chat solicitando informações, compartilhando ou pedindo número de telefone e perfis em redes sociais, por exemplo.

Adolescentes que jogam o Among Us contam detalhes

Helena* é mãe de Victor*, 13 anos, e Clara*, 11, que jogam Among Us há pelo menos 1 ano (Victor conhece o jogo há dois anos) para socializar com amigos. “É um jogo em que não dá para confiar em ninguém, tem que prestar atenção no comportamento de todo mundo para descobrir quem é o impostor, mas não é um jogo para fazer amizades”, ressalta Victor.

Mesmo assim, Clara revela que já passou por momentos em que desconfiou de atitudes nas salas. “Já aconteceu de entrar em uma sala e ver um jogador com um nome meio estranho. Ou ver no chat que o jogador está perguntando coisas como nome real dos outros membros. Quando aconteceu isso, eu e meus amigos já percebemos que havia algo de errado e mudamos de sala na hora”, relembra ela, que acrescenta que há casos em que usuários com nomes impróprios podem ser reportados.

Para Clara, naquele momento chamou a sua atenção que alguém fizesse perguntas que não tinham a ver com o jogo, como o nome real (a adolescente e os amigos costumam escolher nicknames que não têm a ver com a identidade real, assim como termos em inglês, piadas internas ao grupo de amigos etc). “Essa atitude [de sair da sala ao ver isso] não foi influência de ninguém, só desconfiei que eram más intenções porque o jogo não é para isso”, diz. É muito difícil, segundo os adolescentes, que exista uma “perseguição” de um usuário a outro quando você muda de sala, porque não há qualquer forma de alguém rastrear outro jogador dentro das inúmeras salas existentes e é raro permanecer na mesma sala após as partidas. “No Xbox, por exemplo, já é mais comum eu receber solicitações de amizade”, aponta Victor. Os dois consideram o Among Us um jogo seguro, porque o chat é visível para todos e o game não sugere uma interação maior do que o objetivo da partida. “Não dá para conversar de assunto que é fora do objetivo do jogo”, definem.

Acompanhamento do conteúdo e tempo para dormir

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Durante a semana, Victor e Clara jogam no máximo 30 minutos por dia, geralmente no intervalo dos treinos (os dois praticam esportes em um clube). Hoje eles explicam que jogam menos do que no começo da quarentena. “A gente costumava jogar para interagir com os amigos, agora parece que acabou o assunto”, brincam. No final de semana, costumam jogar um pouco mais, mas, pelo fato de praticar esportes, eles não costumam ficar muito tempo no celular ou no computador.

A mãe conta que não há uma regra de tempo estabelecida para jogos ou uso de aparelhos eletrônicos, porque escolheu estabelecer limites de outra forma. “Eles fazem várias atividades além da escola, principalmente esportivas. Antes da tecnologia, acho que isso era condenado, mas hoje eu considero que é uma válvula de escape para que eles não fiquem só on-line”.

De acordo com ela, os filhos são bastante críticos ao tempo de uso. “Às vezes reclamam que exageraram no celular, porque estão com dor de cabeça”. A única “patrulha” necessária, segundo ela, é na hora de dormir. “Faço rondas à noite depois que eles vão para a cama, porque faço questão que eles preservem o tempo de sono. Se escuto eles mexendo no celular, eu chamo a atenção, mas é muito difícil tirar o celular deles por conta disso”, avalia.

Helena conta que ficou um pouco assustada quando descobriu que no Among Us havia um objetivo de “matar” outros jogadores, no caso da pessoa definida como impostor. Para ela, que está sempre por dentro das atividades dos filhos e tendências entre os jovens, entretanto, os jogos on-line não são tão prejudiciais como o YouTube, embora também exijam atenção. “Eu acompanho os youtubers que os dois assistem e costumo alertar quando estão assistindo demais. Como me interesso pelo que faz sentido para eles, estou por dentro, curto o que eles gostam, sei dos memes, por exemplo. Assim, o acesso para discutir com eles algumas questões problemáticas fica mais fácil”, enumera. Você pode conferir mais sobre os perigos do uso excessivo de tablets e celulares pelas crianças em nosso blog!

* Os nomes dos entrevistados foram trocados para preservar suas identidades.

Veja também: Os perigos do uso de tablets, celulares e telas por crianças

Veja abaixo algumas dicas para o acompanhamento e garantia de uma internet segura no uso das tecnologias

internet segura e jogos online

Diálogo franco e sincero ajudam a criar um ambiente de internet segura

Para os especialistas, entender o que seu filho conhece ou entende por segurança na internet, como Helena decidiu fazer, pode ser uma ótima abordagem. A recomendação é que os pais estejam conectados minimamente com os interesses de seus filhos, sem desrespeitá-los. Assim, é mais fácil falar sobre os prós e contras da tecnologia, sem focar apenas nos possíveis problemas da internet. É importante que os pais falem, sim, que celulares e computadores são legais para se divertir, passar o tempo, entrar em contato com familiares e amigos que estão longe mas também é um ambiente com questões prejudiciais e, para isso, são necessários alguns cuidados e regras. Dessa forma, é mais fácil a criança entender a necessidade desses limites.

Supervisão, e não espionagem, é o que ajuda a tornar a internet segura

Acompanhamento das atividades on-line é fundamental. Embora existam vários programas que prometem “espionar” toda a experiência on-line do seu filho (a partir do espelhamento do acesso), o ideal é que os pais consigam estar junto de outras formas, como prestar atenção nas páginas que ele acessa e o que interessa mais a ele. Os softwares espiões podem ser uma escolha infeliz, já que quebram o vínculo de confiança entre pais e filhos. Além disso, a criança pode acessar o conteúdo por meio de aparelhos de colegas, por exemplo, o que se torna ineficiente para o objetivo de acompanhamento integral.

É possível criar uma regra em casa de que a criança pode acessar celulares e computadores apenas na presença de um adulto no ambiente, sem fones. Deixar aparelhos como computadores e televisões smart em locais de uso comum da casa também pode ajudar na tutela. Já para os adolescentes, que costumam ficar mais tempo no quarto, é interessante que os pais visitem o quarto e acompanhem esporadicamente o acesso. É possível conferir em nosso blog mais sobre os benefícios e consequências do volume excessivo de tecnologias em nosso cotidiano.

Veja também: Estamos conectadas demais? Benefícios e consequências do excesso de tecnologia

Informações e comportamentos a serem observados para garantir uma internet segura

internet segura para as crianças

Saber em que sites seus filhos navegam, com quem eles conversam em aplicativos de mensagens é importante para orientar até sobre o tipo de informações que eles podem compartilhar (desde fotos, vídeos e até dados) e o risco dessa exposição. Durante o acompanhamento, os pais podem observar qual é o comportamento do seu filho nesses ambientes (ele se comporta de uma maneira diferente do habitual?). É importante analisar ainda se a criança sofre bullying ou mesmo o pratica contra outras pessoas. Explicar à criança o impacto do que expõe numa mensagem ou postagem, que pode ser visualizada por um grande número de pessoas, ou mesmo encaminhada e compartilhada, é importante para que ela tenha informações suficientes para fazer boas escolhas e garantir uma internet segura.

Limitar o tempo de acesso

Estabelecer limites de tempo de uso pode ser importante para que a criança se dedique a outras atividades e para facilitar a supervisão e acompanhamento dos adultos. O ideal é que o tempo seja delimitado pela família, sem excessos. É importante que à noite esse tempo seja menor, para não afetar o sono.

Helena, a mãe entrevistada pela reportagem, conta que decidiu estimular os filhos, que já são adolescentes, a encontrar mecanismos de disciplina próprios. “Procuro dar o exemplo, planejar minhas tarefas, mostrar que estou aproveitando meu tempo de lazer de forma equilibrada. E dou a oportunidade para que eles se conheçam e entendam quais são suas tentações e como eles podem controlá-las. Mas esses mecanismos não precisam ser os mesmos que os meus”, detalha.

Outro ponto importante a respeito do exemplo é que os pais não devem expor a intimidade dos filhos em suas redes sociais. Além do exemplo de se preservar, esse cuidado é essencial para não divulgar informações e dados privados.

Mas quais são os riscos?

internet segura

O uso excessivo da Internet pode colocar em risco a saúde física e psicológica dos seus filhos, atrapalhar o rendimento escolar e afetar a vida social. Como ainda estão em período de formação de personalidade, as crianças estão desenvolvendo habilidades emocionais, como lidar com a opinião, a desaprovação ou, até mesmo, o desprezo dos demais. No caso das redes sociais, há uma questão de saúde mental, uma vez que o compartilhamento de imagens envolve a expectativa de como elas serão recebidas e poderá ser frustrante caso as postagens não sejam “curtidas” rapidamente ou, ainda, se receberem comentários negativos.

Especialistas e instituições ligadas à segurança de crianças e adolescentes no meio digital apontam ainda que o uso da internet sem acompanhamento dos pais também gera riscos graves como acesso a conteúdos inapropriados para a idade, como pornografia ou imagens de violência; exposição da privacidade em redes sociais; cyberbulling; aproximação e contato com criminosos, o que pode resultar em sequestros, aliciamento, chantagem e pornografia infantil.

Além disso, existem na internet ondas de “desafios”, em que são estimuladas práticas perigosas que também podem colocar em risco a integridade física dos seus filhos.

A dica é: oriente seus filhos a jamais fornecer dados pessoais como nome ou telefone para pessoas com quem ele interage na internet, mesmo que aparentemente sejam crianças ou adolescentes da idade dele. Nos jogos, use sempre apelido. É importante que esse nome de usuário não contenha informações pessoais como nome real ou idade.

Outro tópico importante para dialogar e garantir a segurança do pequenos tanto dentro quanto fora das redes é a educação sexual infantil, assunto já discutido anteriormente aqui em nosso blog!

Veja também: Educação sexual na infância: tudo o que você precisa saber

Dicas para uma internet segura em DIVERSAS plataformas

YouTube – a dica para evitar o acesso de conteúdo adulto ou inapropriado pelas crianças é selecionar o modo YouTube Kids, no botão Aplicativos do YouTube. Na configuração, você escolhe controles de segurança que quer aplicar. Você pode criar um perfil para cada um de seus filhos.

Netflix – é possível acessar a versão customizada especialmente para crianças, bloqueando o acesso de conteúdos inapropriados.

Redes sociais (como Instagram, Facebook, Tik Tok, Snapchat) – acompanhe se a criança possui conta nessas redes sociais. Esta deve ser privada (e não pública). Alguns pais costumam apontar que a conta é acompanhada por eles na bio. Deve haver o cuidado de adicionar apenas pessoas que a criança (ou no máximo os pais conhecem) e não compartilhar informações pessoais (fotos com uniforme da escola, por exemplo, ou lugares que ela frequenta no dia a dia). No Facebook, é importante usar as ferramentas que a plataforma oferece, como selecionar que a publicação esteja sempre visível apenas para amigos (e não público).

O que fazer se eu ou meu filho sofrer algum crime cibernético?

internet segura para os pequenos

Estabeleça com seu filho um espaço seguro para que ele saiba como reagir a alguma interação desrespeitosa ou sinal de violação de privacidade. Oriente seu filho a interromper o contato e procurar ajuda – com os pais ou até seus professores. É importante que a reação dos responsáveis não seja de repreensão ou de atribuir culpa a criança, mas entendimento da situação e ação rápida. Se for preciso, procure uma delegacia de crimes virtuais e comunique o que está acontecendo. Um outro canal de suporte é o Help Line, da Safernet, que oferece orientação e apoio. O atendimento é realizado por um profissional, com sigilo sobre as informações. 

Outros materiais que podem ajudar

internet segura, como proteger seu filho online

Guia Internet Segura para Crianças

O portal Internet Segura reúne iniciativas de conscientização sobre segurança e uso responsável da Internet no Brasil. A iniciativa, idealizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), divulga guias de acesso para diferentes públicos, incluindo as crianças. 

Guia Internet Segura para Adolescentes

No mesmo portal, é possível conferir dicas para adolescentes, como o Fik Dik, que explora questões como riscos da exposição excessiva nas redes sociais, danos à reputação e cyberbulling. Outra publicação é o Internet com Responsa. Também há orientações para os adolescentes usarem o espaço de forma segura e responsável.

Internet Sem Vacilo

A campanha é uma iniciativa do Unifef em parceria com Google, Safernet Brasil, Agência Fermento e Produtora Digital Wavez, e tem o objetivo de fazer todo mundo pensar a respeito de como usar a internet. A iniciativa tem vídeos de youtubers, dicas e até memes.

Nethics Educação Digital

Nethics Educação Digital é uma empresa voltada à educação de crianças e adolescentes sobre o uso ético e seguro da Internet, com o objetivo de firmar e inspirar comportamentos positivos e saudáveis na interação com as tecnologias da informação e comunicação. 

Como evitar que crianças tenham acesso a conteúdo adulto na internet

Você pode conferir algumas dicas do site Techtudo para colocar filtros nas buscas dos navegadores, assim como na utilização de dados, para criar um ambiente de internet segura.

Por fim, vale lembrar também que os livros são uma ótima alternativa às telas. Acesse nosso site para conhecer um pouco mais do Clube Quindim, um projeto que incentiva a leitura nos lares brasileiros enviando obras selecionadas por grandes autores e especialistas da área como Ziraldo, Ana Maria Machado, Marina Colasanti e vários outros!

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