Quando pensamos na pandemia da Covid-19 e em tudo o que ela acarreta, fica difícil não imaginar como as gerações anteriores sobreviveram a contextos semelhantes. Ainda que a maioria de nós não tenha registros de uma situação de saúde tão grave e em tão larga escala, envolvendo todo o planeta, fato é que elas aconteceram, e trouxeram consigo a necessidade de um sistema de saúde amplo e estruturado para atender a população integralmente.
Em tempos difíceis, em que o grito “Defenda o SUS!” se faz tão presente e tão necessário, vamos conversar sobre a criação do Sistema Único de Saúde e falar da sua importância e dos serviços oferecidos que, inclusive, são utilizados por todos nós – até mesmo aqueles que têm o privilégio de usufruir de um plano de saúde particular.
O que é o SUS?
Para começar, vamos explicar o que significa a sigla SUS: Sistema Único de Saúde. Nascido em 1988, com a Constituição Federal Brasileira, o SUS surgiu a partir do momento em que foi atribuído ao Estado o dever de garantir saúde gratuita para todos os brasileiros. No entanto, a efetiva criação do sistema é fruto de muito esforço e luta de grupos que saíram em defesa dos direitos sanitários da população durante os anos 1970 e 1980.
Em 1990, a Lei Orgânica da Saúde detalhou os preceitos que o SUS segue até hoje, além de ter indicado também como deveria ser o funcionamento da rede. A partir de então, todos que precisam de cuidados preventivos de saúde, de tratamento e atendimento de urgência ou emergência são recebidos nas unidades de saúde pública.
No ano 2000, foi aprovada uma Emenda Constitucional que tornou a administração e os recursos do SUS tripartite, ou seja, o orçamento disponível é oriundo da União, dos Estados e dos Municípios. Em cada instância, os gestores ficam responsáveis pela distribuição dos recursos, implantação e qualidade dos serviços prestados.
O SUS é o responsável direto por 98% do mercado nacional de vacinas, disponibilizando gratuitamente todas aquelas que são recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Além disso, é por meio do SUS que funciona o sistema público de transplante de órgãos e os programas de assistência aos portadores de doenças crônicas, como HIV, pacientes renais, cardíacos, com câncer, hanseníase e tuberculose.
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Qual a importância do SUS e por que defendê-lo?
O SUS é o maior sistema de saúde pública do mundo. Cerca de 80% das pessoas que procuram a rede de atendimento não teriam qualquer acesso a cuidados básicos de saúde se não fosse pelo SUS. Isso, por si só, já seria motivo mais do que suficiente para demonstrar a importância do SUS no Brasil e reafirmar por que defender o SUS é tão fundamental. Mas há muitas outras razões!
Vamos ver, a seguir, 12 motivos para a valorização do SUS. Nos arriscamos a dizer que você vai se surpreender bastante com os serviços oferecidos pelo SUS ao longo da leitura, e que vai finalizar esse artigo entendendo ainda melhor como defender nosso sistema público de saúde e por que fazer isso é tão importante.
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12 motivos para defender o SUS
Para não deixar dúvidas sobre o que é o Sistema Único de Saúde e qual a sua importância em nossa vida como sociedade, vamos listar 12 motivos bem concretos. A ideia é que, depois de conhecê-los, você se sinta ainda mais capacitado e confiante para falar sobre a importância do SUS, e ajude outras pessoas a defendê-lo também.
1. Líder e referência mundial em vacinação
Como dissemos, 98% do mercado de vacinas no Brasil é responsabilidade do SUS. Desde que nascemos e durante a nossa vida adulta temos acesso garantido a todas as vacinas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde, que são disponibilizadas, gratuitamente, nos postos de todo o país.
Isso significa assegurar a proteção contra doenças graves e potencialmente fatais para toda a população, além de prevenir novas epidemias e o retorno em massa de enfermidades que já assolaram o mundo, como o sarampo e a poliomielite. Ainda que a maior quantidade delas seja tomada na infância, vacina não é só coisa de criança: há disponibilização de imunizantes para adolescentes, adultos e idosos também, que são imprescindíveis para manter a proteção ao longo de toda a vida.
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2. SAMU
O Serviço de Atenção Móvel de Urgência é o responsável por prestar socorro e assistência para toda a população. São as ambulâncias do SAMU que fazem o transporte de pacientes e vítimas que necessitam de atendimento de urgência e emergência, levando-os até os hospitais.
Ainda que você tenha plano de saúde com cobertura nacional, é para o SAMU que vão ligar caso você sofra um acidente de carro, ou caso caia na rua e quebre uma perna, por exemplo, precisando de atendimento urgente.
3. Transplantes: levando vida para quem precisa
O SUS é responsável por mais de 90% dos transplantes de órgãos realizados no Brasil. Além de oferecer assistência durante todo o processo de diagnóstico e tratamento, também realiza os procedimentos e acompanha o paciente e seus familiares antes e depois da cirurgia.
A gestão da fila dos transplantes é feita de acordo com cada órgão ou tecido a ser substituído. A fila é única, organizada por ordem de chegada, e considera critérios técnicos, de urgência e geográficos em sua organização, todos regidos por lei.
4. Prevenção, tratamento e controle de doenças crônicas
Doenças como câncer, tuberculose, HIV e hanseníase, que requerem medicação frequente, são tratadas gratuitamente pelo SUS. Em muitos países de primeiro mundo esses remédios não são garantidos aos pacientes, que em vários casos morrem por não ter condições de arcar com os custos de comprá-los.
5. Vigilância Sanitária
A fiscalização de estabelecimentos diversos, como restaurantes, bares, lanchonetes, supermercados, lojas de cosméticos e farmácias é apenas uma parte do que o SUS realiza. Enquanto entidade responsável pela garantia e cumprimento das normas sanitárias em locais públicos, a Vigilância Sanitária também verifica aeroportos e rodoviárias, além de garantir a qualidade da água potável que chega em nossas casas.
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6. Vigilância Sanitária de Zoonoses
A Vigilância Sanitária de Zoonoses é a responsável por procedimentos como imunização e castração de animais, controle de pragas e de doenças em animais no campo e na cidade, visando à preservação da nossa saúde.
7. Vigilância Epidemiológica e Campanhas de Vacinação
As doenças que precisam ser tratadas no campo da saúde coletiva, como aquelas que podem ser transmitidas em larga escala, são de competência do SUS. As campanhas de conscientização, de vacinação e o registro dos índices de contaminação dessas doenças infectocontagiosas são fundamentais para prevenir, tratar e combater surtos, epidemias e pandemias.
8. Medicamentos gratuitos
Enfermidades crônicas, como diabetes e hipertensão, tornam o uso de medicamentos diários imprescindível para o paciente se manter bem e com a condição controlada. Ainda que esses remédios estejam disponíveis em farmácias comuns, eles podem ser retirados gratuitamente nas farmácias do SUS, ampliando assim o acesso para todos os brasileiros, e não apenas para aqueles que podem pagar.
9. Atendimento à população do campo e regiões de rios e florestas
Para a maioria de nós, que vive nas grandes cidades, muitas vezes é fácil esquecer que nosso país tem dimensões continentais e que um enorme número de brasileiros reside no campo, e também nas regiões dos rios e das florestas.
Assim como a população das metrópoles, essas pessoas também precisam ter seu direito à saúde assegurado, com consultas preventivas, tratamento e acompanhamento das mais diversas doenças, além da participação em campanhas de vacinação. Quando pensamos em quais serviços o SUS oferece, esse é um deles.
No caso das populações ribeirinhas, existem as Equipes de Saúde Fluvial e as Unidades Básicas de Saúde Fluviais. Já para atendimento aos povos indígenas, existe o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena e as Unidades Básicas de Saúde Indígena.
No entanto, esses serviços ainda são insuficientes para atender toda a demanda com a agilidade necessária. É preciso ampliar a capacidade de atendimento com urgência.
10. Procedimentos realizados todos os anos
O volume de procedimentos realizados pelo SUS, como consultas, exames, cirurgias e internações, chegou a quase 2 bilhões ainda em 2018. As equipes de Saúde da Família, responsáveis por fazer o atendimento primário aos pacientes, conseguem resolver até 80% dos problemas e necessidades relativas à saúde da população.
Essa atenção primária se dá por meio do atendimento de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde. Nos demais atendimentos, estão incluídos também os psicólogos, os fisioterapeutas e os dentistas.
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11. Sem SUS, sem acesso à saúde
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 65% da população brasileira não possui acesso a um plano de saúde particular. Na prática, isso quer dizer que se não houver o SUS, essas pessoas não têm como garantir os cuidados básicos com a sua saúde, tanto em consultas de rotina como nos casos em que uma intervenção cirúrgica se faz necessária, por exemplo.
Se há algo que a pandemia da Covid-19 nos mostra todos os dias é a importância do coletivo sobre determinadas questões individuais. Somente por meio do pacto coletivo estamos conseguindo avançar com a vacinação em larga escala da população, e isso só está sendo possível graças ao SUS.
12. Direito constitucional
Por fim, mas não menos importante, o SUS é garantido a nós pela Constituição Federal. Os princípios que regem o Sistema Único de Saúde são:
- Universalidade: todos devem ser atendidos sem qualquer tipo de restrição ou distinção.
- Integralidade: o atendimento deve ser integral, com prioridade para atividades de prevenção de doenças.
- Equidade: os recursos e serviços devem servir a todos, dedicando maior atenção aos que mais necessitam.
- Participação social: a sociedade tem o direito e o dever de participar da gestão do SUS, direito esse que deve ser assegurado pelo Poder Público.
- Descentralização: as responsabilidades e os recursos são compartilhados pela União, pelos Estados e pelos Municípios.
Todos nós usamos e precisamos do SUS
Agora que você já sabe como funciona o SUS, está ainda mais preparado para se juntar a outros brasileiros na luta pela manutenção dos serviços e ampliação dos investimentos na saúde. Como defender o SUS é uma prioridade, procure ficar sempre atento a respeito de Emendas Constitucionais que de alguma maneira afetem e comprometam os investimentos de que falamos.
Só assim conseguiremos manter a rede pública funcionando e cuidando de todos nós, mas especialmente dos brasileiros que mais precisam.
APROVEITE ESTE MOMENTO PARA INCENTIVAR A LEITURA!
Excelente texto sobre o assunto! Gostaria de aproveitar e deixar uma leitura complementar sobre Plano de vacinação do SUS, caso queira saber um pouco mais: https://planodesaude.net.br/blog/plano-de-vacinacao-do-sus-confira-o-calendario-normal-e-o-da-covid-19/