Veja uma seleção de livros do Clube Quindim com protagonistas femininas
Como o Clube Quindim valoriza a representatividade e a pluralidade na literatura infantil e juvenil, reunimos uma lista de livros da nossa curadoria em que as personagens femininas têm papel de destaque.
Já falamos aqui no blog sobre a importância de protagonistas femininas nas páginas de um livro, para consolidar a identidade da criança, romper preconceitos e estereótipos e contribuir na formação da autoestima. A literatura infantil e juvenil também é um espaço de representação, em que as várias perspectivas sociais devem ser apresentadas como expressões legítimas. Isso é essencial não apenas para a formação de leitores, mas, como já sabemos, para o processo de construção de suas identidades.
Estudos sobre as narrativas infantis e juvenis
A pesquisadora Leda Cláudia da Silva, mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília (UnB), analisou narrativas infantis e juvenis brasileiras contemporâneas, com foco na representação feminina. Em artigo publicado em 2010, baseado na análise de livros retirados do acervo do Programa Nacional Biblioteca da Escola, a autora refletiu sobre quem eram as personagens – femininas e masculinas – retratadas nos livros.
Questões como cor/raça, classe, profissão e até os espaços em que essas personagens circulavam – assim como as relações sociais que estabeleciam –foram objeto de análise. Entre as 53 obras avaliadas, a maioria publicada entre 2000 e 2005, a percepção da autora do estudo é que, nas narrativas, a atuação da mulher enquanto protagonista era inferior à dos homens, seu espaço social é reduzido a ambientes privados e, consequentemente, suas relações interpessoais são restritas a esses espaços. Confira o artigo completo aqui.
O fato de as personagens femininas serem nomeadas ou não – nesse caso tornando-se apenas uma representação genérica de um grupo e não um ser com identidade própria – também foi levado em consideração. Como as personagens femininas agiam, quais ambientes frequentavam e quais as funções desempenhavam foram outros dados levantados. Uma personagem feminina que tem nome, que existe de forma independente e autêntica dos outros personagens e que circula em espaços externos além do doméstico, com certeza tem maior relevância para a formação cultural das crianças e jovens.
Em sua curadoria, o Clube Quindim leva em conta todas essas questões nas seleções de histórias, priorizando enredos que apresentem a pluralidade de personagens, cenários e perspectivas. Hoje você vai acompanhar alguns livros já selecionados que apresentam personagens meninas e mulheres, bastante diferentes entre si, protagonizando as tramas. Veja abaixo.
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Livros infantis com personagens femininas
1. A colecionadora de cabeças
Rosália, nossa primeira protagonista da lista de personagens femininas, coleciona cabeças e, além disso, estuda com carinho cada uma delas e os elementos fascinantes que nelas passeiam. Uma história que nos permite uma viagem pela mente de diferentes personagens e arquétipos, como o botânico, em cuja cabeça encontramos 12 nomes populares para a mandioca, ou a arquiteta, com seu medo de entortar as linhas retas. São características que, apesar de específicas a cada personagem, revelam um pouquinho da natureza humana, nossos medos, nossas saudades, nossos afetos. E o que será que Rosália destacaria em cada um de nós?
2. Andreia baleia
Nessa história, a personagem principal é uma menina chamada Andreia, que se sente desconfortável com o próprio corpo e sofre com as colegas que a tratam mal. Até que um dia a menina tem uma conversa com o seu professor, que a ajuda a ressignificar sua visão sobre si mesma. Olhar para nós mesmos com mais carinho, apesar da pressão estética que sofremos, é um exercício diário. E essa obra ajuda os pequenos a lidarem com diferentes perspectivas sobre si, iniciando uma conversa sobre a autoestima na infância.
3. Clarice
Neste livro, a personagem principal, Clarice, narra as suas angústias e curiosidades em um período de forte opressão e censura. É um livro recheado de suspense, que não nos entrega mensagens claras, mas nos convida a decifrá-las. De repente, Clarice precisa jogar livros no lago. Sua mãe não está mais lá. Nem o pai. A palavra “subversivo” é repetida sem que seu significado venha à tona. Quando se é criança, o que podemos fazer para fugir do controle constante dos adultos? Uma obra que se passa no período da ditadura militar no Brasil e pode nos ajudar a refletir sobre as mais diversas questões.
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4. Momo e o senhor do tempo
Este livro conta a história de Momo, uma menina que consegue realmente ouvir as pessoas. Logo, porém, chegam os homens cinzentos, seduzindo a todos para a importância de se poupar tempo para o futuro. Mas o tempo pode ser poupado? A obra aborda as relações entre o tempo e o dinheiro na sociedade contemporânea. Um livro que traz à tona questões sobre o consumismo, sobre o tédio, sobre a instrumentalização das brincadeiras da infância e até mesmo o papel da escola na criação dos pequenos.
5. Minha família enauenê
Essa história se passa em uma aldeia do povo Enauenê-nauê, em que uma família adota uma menina da cidade. Durante a leitura, diversas questões sobre a construção de gênero em diferentes culturas são abordadas. Na aldeia do povo Enauenê-nauê, por exemplo, os papéis dos meninos e das meninas desde a infância são muito definidos. As meninas cuidam dos bebês e os meninos brincam. Como fisicamente os meninos e as meninas são muito parecidos, a personagem, que gosta muito mais dos papéis que os meninos desempenham, escolhe ficar no grupo deles. Temos muito a aprender com a relativização desses estereótipos de gênero.
6. A princesinha medrosa
A personagem principal desta história tem medo de tudo: do escuro, da escassez e da solidão. Então, com seu poder de princesa, tenta controlar a ação de todos à sua volta para se proteger. Isso até que se perde em um passeio e conhece um menino que gosta de contar estrelas à beira do rio. A partir daí, ela vai aprender a enxergar o mundo com outros olhos, descobrindo que pode encontrar força dentro de si mesma.
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7. A moça tecelã
A moça tecelã que dá título à obra é a última protagonista dessa lista de personagens femininas. Ela torna real tudo o que tece: o amanhecer, as cores da natureza, um lar. Um dia, sente-se só e tece um homem com chapéu emplumado. Ele lhe pede para tecer uma casa, depois um palácio, colocando o tear mágico aos seus caprichos. Por fim, a moça se vê presa naquela situação. Mas a personagem lembra que pode tecer e destecer o seu destino e ganha autonomia em relação ao ambiente no qual esteve enredada.
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