Este livro é literalmente um álbum ilustrado, no sentindo de uma coleção de ideias e imagens, retratos de pessoas que não são vistas por fora: cor dos olhos, forma do nariz, tamanho da boca ou jeito dos cabelos. Nada disso. Rosália, a colecionadora de cabeças, observa e anota como diferentes pessoas sentem, pensam, guardam recordações e informações.
Por exemplo, Rosália encontrou um passarinho que chorava pela floresta amazônica na cabeça de um botânico e, na cabeça da arquiteta, ainda está a planta de um projeto que nunca foi realizado, junto ao desejo de ter nascido no tempo dos jardins suspenso da Babilônia. São dois retratos que dialogam entre si. Na cabeça do músico resta um pouco de silêncio, enquanto na cabeça da bebezinha palavras que falam apenas com duas sílabas e muitos objetos sem nome.
A autora Ana Matsusaki apresenta as cabeças sempre aos pares. Os retratos têm uma inspiração cubista e são feitos em técnica mista de colagens, massas coloridas e garatujas. A linguagem verbal é impregnada de sugestões que evocam conhecimentos variados, numa brincadeira com o sentido das palavras ou reminiscências históricas e sociais, convidando igualmente o leitor a participar da exposição de cabeças, desenhando o retrato do que guarda dentro de si e escrevendo algumas frases curtas.