2020 está sendo um ano atípico. As mudanças causadas pela pandemia e as adaptações com as aulas on-line estão prejudicando não só o desempenho das crianças, mas causando mudanças de comportamento. Especialista explica ao Clube Quindim como pais podem ajudá-los a enfrentar situações como essa.

O isolamento social começou oficialmente em março no Brasil e nesses sete meses é difícil encontrar quem não tenha vivido gangorras emocionais. Não apenas adultos mas também as crianças têm sofrido com a adaptação a esse período. O fechamento de escolas, a discussão sobre o retorno das atividades escolares, assim como o distanciamento dos colegas e parentes do grupo de risco foram elementos que impactaram o comportamento dos pequenos.

Num primeiro momento da pandemia, as crianças estiveram mais próximas dos pais e dos irmãos, o que fez o novo momento ser entendido como descanso, ou férias. Ao longo do tempo, eles entenderam que não estavam de férias, pois muitas atividades continuaram a ser executadas, agora com mais pressão. Muitas crianças apresentaram um comportamento mais irritado e até intolerante.

Como a psicopedagogia tem acompanhado essas mudanças de comportamento? Para Mônica Pessanha, psicopedagoga e psicanalista de crianças e adolescentes, a maior mudança de comportamento é a da concentração. “A criança tem ficado mais intolerante às telas e, por conta disso, não consegue se concentrar por muito tempo, principalmente para fazer uma atividade escolar”, analisa.

Uma das causas, de acordo com a especialista, pode ser o uso excessivo das telas – para estudar, para contato com outras pessoas, para lazer. A luz azul das telas de forma geral é prejudicial, por cansar mais o cérebro, além de inibir a liberação de melatonina (substância produzida pelo nosso corpo que regula o sono e participa da reparação das nossas células, expostas a estresse, poluição e outros elementos nocivos).

Uma das consequências, claro, é a privação do sono. “Se a criança demora mais para dormir, toda sua rotina automaticamente muda. Ela demora para acordar, altera o horário da alimentação, o que prejudica seu desenvolvimento. Quanto mais organizada uma criança está, mais propícia ao aprendizado e ao desenvolvimento ela está também”, avalia. Dessa forma, com a desestrutura causada pela pandemia, a criança fica mais dispersa e menos ativa, o que, é claro, reflete no seu comportamento.

Veja também: Meu filho não quer dormir e outros problemas com o sono

A maior dica da especialista para os pais, seja de crianças ou adolescentes, é: compreensão. “É necessário entender que seu filho passa ou passou situações de medo, tristeza, tédio, e, em alguns momentos, podem até apresentar agressividade”, pondera. Além disso, a psicopedagoga e psicanalista atenta para o fato de que as crianças estão sem contato social com crianças da mesma idade, o que as torna mais sensíveis.

O caminho mais adequado é esse acolhimento e até aumentar a frequência dos momentos de lazer. “Uma recomendação é que, ao perceber essas mudanças, os pais permitam que a brincadeira e o lazer ocupem mais tempo que as obrigações e responsabilidades que possam existir nesse momento. Quanto mais livre para brincar, mais saúde mental essa criança vai ter”, explica.

Diferentes idades, diferentes relações sociais

mudanças de comportamento em crianças e adolescentes

De acordo com a especialista, a idade dos filhos também interfere nas diferentes estratégias que podem ser associadas para enfrentar essas mudanças de comportamento. A chave deve ser entender o nível de relação social de cada um. “Uma criança de 8 anos com certeza brinca muito mais que uma mais velha. Um adolescente, por exemplo, já é mais acostumado a estar sozinho, com conexões mais virtuais que presenciais. Naturalmente eles tendem a ficar mais dentro do quarto, ouvindo música ou jogando videogame”, enumera. Essa é a fase de elaboração emocional, então, os adolescentes tendem a estar mais acostumados a se comunicar mais pelo mundo virtual, sentindo menos a falta dos amigos.

A psicopedagoga ainda atenta para a necessidade de adaptação das crianças e adolescentes na volta às aulas. Como as escolas não receberão as crianças de uma vez, é preciso exercitar a compreensão também para a equipe escolar, que funcionará em uma dinâmica diferenciada. “A rotina na escola não será a mesma de antes, é diferente, o que dará mais trabalho para os pais para lidar com a nova rotina”, esclarece Mônica.

A compreensão, finaliza ela, será sempre o melhor caminho. “É o caminho do meio, entre o que acreditamos que é certo e aquilo que o outro com quem nos relacionamos acredita que é certo. Então, quando compreendemos que os dois lados têm importância, fica mais fácil caminhar e ajudar os outros, nesse caso os filhos, a superar as dificuldades”, finaliza.

Assine o Clube Quindim

APROVEITE ESTE MOMENTO PARA INCENTIVAR A LEITURA!