Antes mesmo de o bebê nascer, já pensamos sobre o sono dele: montamos o berço, escolhemos os lençóis e instalamos uma cortina que irá proporcionar um grau de luminosidade ideal para os cochilos da tarde. E mais: lemos cartilhas, vemos vídeos no Youtube, conversamos com outros pais (e até com médicos), tudo numa tentativa de planejar e prever o sono antes da chegada do filho.

Mas aí, quando, de fato, aquele pequeno ser nasce e está deitado no bercinho, finalmente entendemos que é o dia a dia que vai ditar o rumo da nova rotina. E nem sempre a hora da “naninha” é simples como nos manuais. Ter informações é importante, claro, mas ficar engessado num cronograma de sono rígido pode mais atrapalhar do que ajudar, sabia? E a ansiedade em acertar logo de cara, pode render só mais tensão. Por isso, vamos com calma.

Sono do bebe como criar uma rotina de descanso mais tranquila para o seu filho meio1

“Não adianta, por exemplo, querer controlar as sonecas e fazer uma rotina com horário exato do sono para um bebê menor de 3 meses. É mais importante você se preocupar com o bem-estar desta mãe, com o vínculo na amamentação e, aos pouquinhos, você ir ajudando a criança a perceber quando é dia, quando é noite… Mas com paciência, porque é um processo que naturalmente demora”, explica a neuropediatra Luciane Baratelli, autora do livro Sono infantil sem neura.

Segundo a especialista, nesses primeiros meses, o ideal é ir trabalhando aos poucos a noção temporal do bebê antes de ter uma agenda estabelecida. E aqui cabe uma explicação: o ciclo de sono de um bebê é diferente do adulto. Ele é mais curto, tem ao redor de 50 minutos, enquanto do adulto é de 90 a 180. Além disso, os pequenos ainda não tem um ciclo circadiano, ou seja, o relógio biológico que regula a produção de hormônios de acordo com o momento do dia. “No recém-nascido, até os três meses, ele não tem essa regulação. Então literalmente ele vai dormir a qualquer horário do dia e da noite”, conta a neuropediatra.

Veja também: Meu filho não quer dormir e outros problemas com o sono.

Em busca de uma rotina

Nesse início da vida, o que podemos fazer é dar um “mapa do dia” pro bebê: por exemplo, passeios pela manhã e janelas abertas, com luz e barulho, para que a criança entenda que é dia. À noite, podemos fazer o caminho inverso, reduzindo ruídos externos, diminuindo a iluminação da casa e o ritmo da interação. “Conforme ele vai crescendo, isso vai ajudando o relógio biológico dele a se regular”, ensina Baratelli, dona do perfil @neurosemneura no Instagram.

Tá, mas e toda aquela conversa sobre criar uma rotina de sono da criança, que sempre escutamos por aí? Sim, é preciso – e vamos ajudar você a criar uma neste artigo –, mas tudo a seu tempo. Não existe fórmula mágica, trata-se de uma construção consistente. Mesmo porque o que funciona para uma família nem sempre dá certo para outra. A única métrica comum a todos é que o sono do bebê seja seguro, combinado?

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Parece pior do que é…

A expectativa natural é que a criança vá diminuindo seu despertar até conseguir dormir a noite inteira, mas isso pode não ser linear e acabar frustrando os pais. Afinal, quando algo não sai como o esperado no sono do bebê, parece que estamos diante de um problemão. E não é para menos: a somatória de bebê irritado + pais exaustos realmente resulta em dias e noites complicados. Isso gera uma espiral de cansaço para todos. Por isso, é um momento de paciência e constância nas ações, ainda que pequenas.

E, aqui, é interessante entender que o sono do bebê acompanha seus ciclos de amadurecimento e muda de ritmo com o passar do tempo. Aos 3 meses, por exemplo, o ciclo de sono do seu filho fica mais parecido com o do adulto, mas podem acontecer episódios em que ele volta a acordar muito no meio da noite. “Vão ter períodos que o bebê desperta mais, períodos que desperta menos, até chegar no sono maduro, mas não é uma evolução linear”, indica a neuropediatra.

Faz parte do crescimento. “E mesmo fazendo todas as estratégias, é preciso saber que, ainda assim, vão ter bebês que não vão conseguir dormir a noite inteira, tá? E, quando a gente aceita isso, entende como uma fase difícil, mas que vai passar. Isso torna tudo mais leve do que quando você fica tratando o sono como um problema que precisa ser resolvido a qualquer custo”, conta Luciane.

Veja também: Saltos de desenvolvimento do bebê: o que são e como lidar com as mudanças.

Bora criar uma rotina de sono pro seu bebê?

  1. Fique atento aos sinais de sono: Aos poucos, vamos aprendendo a decodificar os sinais que o pequeno dá quando quer descansar. Bocejos, chorinhos, mão nos olhos… Quando eles surgirem, apronte tudo pro cochilo, antes que o bebê fique mais cansado e agitado. Isso garante menos estresse, porque o comportamento da criança fica mais previsível.
  2. Crie um ambiente propício: Outro passo fundamental é manter o quarto do bebê com pouca iluminação, silencioso, bem ventilado e com uma temperatura agradável. A ideia é ficar aconchegante.
  3. Estabeleça uma rotina pré-sono: Você já ouviu falar de higiene do sono? Trata-se de pequenas ações que preparam a criança para um soninho mais tranquilo. Não precisa ser rígido, mas tente, na medida do possível, fazer algo similar todos os dias. Vá diminuindo o ritmo da casa, cortando as telas, reduzindo os barulhos e apagando as luzes. Depois, siga com o banho quentinho, massagem com hidratante, amamentação e uma canção de ninar. Tudo isso ensina o bebê a reconhecer quando é hora de ir dormir.
  4. A hora da leitura também ajuda a relaxar: Na preparação pro soninho, pode entrar a leitura para pavimentar esse hábito entre as famílias desde cedo. “Além de criar um momento de conexão, as crianças se sentem tranquilas quando estão próximas dos pais e é uma atividade que promove relaxamento”, indica Luciane. E, quanto mais calminho, menos o pequeno tende a lutar com o sono, não é mesmo?
  5. Atenção para os horários regulares: Não se trata de ter uma agenda restrita de horário – mesmo porque a amamentação em livre demanda nos primeiros 6 meses já impede essa rigidez –, mas é importante estabelecer algum padrão. Pense em janelas de tempo para a alimentação (que influenciam nas sonecas) e pro sono de todas as noites. O bebê se acostuma com a sequência das ações e isso também sinaliza que é chegada a hora de descansar. Vale lembrar que, até os 3 meses, o bebê costuma dormir por até 3 horas, por isso, tente organizar os horários de maneira que a soneca do fim de tarde não atrapalhe o sono da noite. À medida que a criança vai crescendo e passa a ir pra escola, isso muda. No mais, tenha em mente que, em alguns dias, o soninho demora mais pra chegar e está tudo bem! Acontece com todo mundo! Problematizar isso só vai trazer mais estresse.
  6. Não copie outras famílias: Cada bebê tem suas particularidades e está inserido em diferentes contextos, por isso, muito cuidado com a comparação. Não existe uma abordagem única quando falamos do sono do bebê. Ou seja, nem tudo que funcionou pro coleguinha vai funcionar para o seu filho. A dica de ouro é: seja consistente em suas ações, mas, principalmente, realista. Entenda o que funciona pra vocês e saiba lidar com ajustes no meio do caminho. Para dar certo, precisa funcionar para todos da família. 
  7. Quebras na rotina acontecem: É natural que, em uma viagem ou num dia de festa, por exemplo, as famílias saiam do cronograma. Só tenha em mente que as necessidades básicas precisam estar saciadas. Isso ajuda a criança a não ficar irritada e, assim, os pais também se divertem mais.
  8. E quando o bebê desperta muito?: Não é raro bebês acordarem chorando e não voltarem a dormir. Será que eles têm pesadelos? “A gente sabe que eles têm as fases do sono em que os sonhos ocorrem e que isso pode trazer emoções diferentes, mas é muito difícil falar em pesadelo, porque eles não conseguem contar o que sonharam”, explica a autora do livro Sono sem neura.

Segundo ela, nessa faixa etária, podem acontecer também distúrbios respiratórios ou posições incômodas que podem fragmentar o sono, assim como alguns hábitos que ele pode adquirir. “Se, por exemplo, a criança se acostuma a dormir no colo, sendo ninada, cada vez que esse ciclo de sono encerra, ela não consegue voltar a dormir. Isso a faz despertar muitas vezes e atrapalha a qualidade de vida, tanto dela quanto dos pais”, diz Luciane.

Ah, e se um dia você escutou que o melhor era deixar a criança chorando até ela se autorregular, saiba que ignorá-la só piora e causa mais irritabilidade – nos pais e na criança. O ideal é transmitir segurança, aconchegá-la, mas sem ficar estimulando ou brincando. Mais calmo, tente encaminhá-lo ao sono outra vez.

Veja também: Sono sem lágrimas: dicas para proporcionar um sono tranquilo para a criançada.

A mãe está bem?

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A chegada do bebê bagunça o sono dos pais, principalmente da puérpera que está cicatrizando o útero, produzindo leite e, muitas vezes, exausta do parto e da amamentação. Por isso, antes de tudo, olhe para o emocional da mãe, que precisa ser amparada e possuir uma rede de apoio e um companheiro ou companheira ativos.

“Estudos mostram que existe uma correlação entre os transtornos de humor materno e os distúrbios de sono do bebê. Será que os recém-nascidos despertam mais porque os pais têm um quadro de ansiedade ou será que os pais têm um quadro de ansiedade por conta da privação de sono? O mais provável é que seja uma via de mão dupla, que vai se retroalimentando”, diz a especialista Luciane.

Como deixar o sono do bebê mais seguro

Agora você já sabe que cada rotina de sono deve ser traçada individualmente, certo? O único fator que deve ser seguido à risca por todas as famílias é quando falamos da segurança do bebê.

Um estudo recente, “Risk Factors for Suffocation and Unexplained Causes of Infant Deaths”, publicado em dezembro de 2022, no periódico Pediatrics, mostra que fatores como o local e a posição que o bebê dorme podem ser os principais motivos tanto para sufocamentos quanto para a Síndrome da morte súbita infantil, uma condição multifatorial, sem causa exata, que pode provocar a morte repentina durante o sono. Apesar de não termos dados atualizados no Brasil, nos EUA a pesquisa estima que, em 2019, 3400 bebês perderam a vida por conta da tão temida síndrome.

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A seguir, baseadas nas diretrizes atualizadas da Academia Americana de Pediatria, de 2022, traçamos com a ajuda do pediatra Gustavo Antônio Moreira, presidente do Departamento Científico de Sono da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), pontos de atenção que você deve ter para que seu bebê não corra nenhum risco ao dormir:

De barriguinha pra cima

É a regra de ouro: o bebê deve dormir com as costas no colchão. Não, não pode de bruços nem de ladinho. Segundo a SBP, dormir de barriga pra cima reduz em até 70% o risco de morte súbita, por isso, desde os anos 1990, pediatras e sociedades médicas indicam que essa é a posição mais segura para prevenir a morte súbita de lactentes, principalmente nos primeiros 6 meses de vida. E, apesar disso ser amplamente divulgado, uma pesquisa conduzida pela PUC-RS constatou que metade dos pais entrevistados não adota as práticas recomendadas para um sono seguro.

A Academia Americana de Pediatria ainda pontua que o bebê só deve ficar de barriga para baixo – o famoso “tummy time”, posição importante para o desenvolvimento motor –, quando estiver desperto e sob supervisão dos pais.

Quanto mais simples, melhor!

Quanto menos objetos no berço, mais seguro estará o seu filho. Por isso, guarde as pelúcias nas prateleiras, dispense travesseiros e cobertores, cuidado com cordões de cortina, prendedores de chupeta e penduricalhos no berço. Ah! E nada de colocar protetores de grade ou almofadões. De acordo com o pediatra, qualquer item que possa cobrir o rosto ou causar sufocamento deve ser retirado. “E lembre que a superfície que o bebê dorme precisa ser plana e sem nenhum vão em que a criança possa ficar presa. O colchão precisa ter um tamanho adequado do berço”, diz Gustavo.

Lugar de bebê dormir é no berço!

Em casa, o bebê deve dormir no berço, mesmo nas sonecas. Eventualmente, é claro que ele pode adormecer no carrinho, no moisés ou na cadeirinha do carro. No entanto, isso só deve acontecer se ele estiver em deslocamento de um local a outro. “O tórax é pequeno e a barriga é muito proeminente, o fígado e o baço são grandes, então acontece que ele fica numa posição comprimida, que não é ideal”, indica o especialista em medicina do sono. A Academia Americana de Pediatria ainda orienta que não se deve colocar crianças para dormir em cima de almofadas, colchões fofos, sofás e cadeiras.

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Nunca compartilhar a cama…

Muitas vezes, para facilitar a amamentação ou para diminuir a insegurança de ficar longe do bebê, os pais o colocam para dormir com eles na cama. Os especialistas são unânimes em dizer que isso traz um risco de morte grande por sufocamento (o bebê pode escorregar para debaixo das cobertas), esmagamento (os pais podem rolar dormindo por cima) e queda.

…Mas pode dormir no mesmo quarto dos pais

Pode, desde que em leitos separados, seja no bercinho ou em apoios laterais específicos para bebês, com grades que se encaixam ao lado da cama dos adultos. Isso ajuda a monitorar e agir rápido diante qualquer sinal de desconforto respiratório, ronco, choros e movimentos bruscos.

Não amamente deitado

Durante a amamentação, ao sugar o leite, a criança é obrigada a respirar pelo nariz e isso auxilia no desenvolvimento do sistema respiratório. No entanto, esse importante exercício não deve ser feito com a criança deitada. Nem no peito, nem na mamadeira, já que aumenta o risco de engasgo e refluxo.

“O bebê ainda não tem controle da motricidade do esôfago, o tubo que liga a garganta ao estômago. Então, se ele mama deitado, o conteúdo que está no estômago pode subir rápido. Uma criança saudável é capaz de tossir e se desengasgar, mas o problema é que esse refluxo também aumenta a chance de ter infecção de ouvido”, explica o pediatra.

Recomenda-se, portanto, que o bebê sempre mame com a cabeça elevada, fique alguns minutos numa posição mais vertical após mamar, arrote e só então possa deitar.

Cuidado para não agasalhar demais!

Um dos maiores medos dos pais é que o filho passe frio durante a noite. Porém, para os bebês o ideal é vestir as roupas adequadas, mas não o cobrir com camadas de cobertores. Um truque é prender o cobertor na cama e passá-lo embaixo do braço do bebê. Saco de dormir também é uma opção, desde que não seja muito grande e que o pequeno não possa escorregar para dentro. Ah! E atenção para os gorros, já que a criança regula a sua temperatura corporal pela cabeça, além do risco de cair sob o rosto e sufocar.

Cigarro perto do bebê é proibido!

Hoje, há uma maior consciência dos prejuízos do cigarro, mas vale sempre pontuar: é proibido fumar perto de bebês, assim como usar qualquer substância ilícita. Segundo o pediatra da SBP, o tabagismo passivo, seja durante a gravidez ou depois do nascimento, é muito prejudicial para a saúde do bebê, que tem o sistema respiratório ainda fragilizado e pode desenvolver infecções, como bronquite e asma, além da fumaça potencializar a síndrome da morte súbita.

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E o que acontece quando a criança não dorme o suficiente?

Fato: os recém-nascidos passam mais tempo dormindo do que acordados. Quanto menor a idade, mais horas de descanso eles precisam. De acordo com a cartilha da Associação Brasileira do Sono de 2023, que segue as diretrizes da National Sleep Foundation, bebês até os 3 meses podem precisar, em média, de 14 a 17 horas de sono, enquanto crianças de até 1 ano necessitam de 12 a 15 horas, com a possibilidade de variação para mais ou menos em todas as faixas etárias infantis. E isso inclui as sonecas, tá?

E se, nos adultos, a falta de sono nos deixa letárgicos, nos bebês, o efeito é o oposto: eles ficam mais agitados e irritadiços. Isso sem falar que dormir menos tempo do que o necessário pode impactar a saúde infantil, já que é durante o sono que o corpo produz hormônios, há a reparação dos tecidos, regulação da imunidade e acontece o desenvolvimento cognitivo.

Um estudo de 2021, conduzido por pesquisadores da Universidade de Houston, mostrou que, além de problemas de aprendizado e concentração que já eram sabidos, o sono inadequado dos pequenos também influencia no desenvolvimento emocional e nos relacionamentos a longo prazo.

Por fim, o Clube Quindim não deixa de ressaltar os benefícios em ler para os pequenos desde cedo. Confira aqui!