Com tantas Histórias do folclore brasileiro, este é um ótimo tema para apresentar aos pequenos e dar asas à sua imaginação com fortes representações culturais do nosso país!
Fala sério: quem não se empolgava quando ouvia sobre as travessuras do Saci-Pererê, o charme do Boto cor-de-rosa, os gritos do Curupira e o papel do Boitatá na proteção das matas e dos animais? As histórias do folclore brasileiro encantam gerações!
É inegável que os pequenos são fascinados por livros de aventura e, embora haja uma infinidade de super-heróis mais “modernos”, as histórias folclóricas brasileiras reúnem vários elementos de interesse da criançada ao mesmo tempo em que valorizam uma cultura tão rica e valiosa que temos por aqui.
Isso significa que ler as histórias do folclore brasileiro ou falar sobre elas podem entreter bastante as crianças ao mesmo tempo em que passamos este conhecimento de geração em geração, assim como fizeram conosco quando éramos crianças.
Acompanhe o Clube de Leitura Quindim nessa leitura para aprender mais sobre a história do folclore brasileiro, a origem dessa palavra e os principais personagens folclóricos do Brasil, além de alguns pertencentes a outras culturas.
O que é Folclore?
A palavra é um aportuguesamento de folklore, que deriva do inglês folk-lore. Como folk significa “povo” e lore significa “conhecimento”, poderíamos traduzir o termo como “conhecimento do povo” ou “conhecimento popular”.
O termo folk-lore foi usado pela primeira vez em sua forma grafada em uma carta enviada em 22 de agosto de 1847 por William J. Thoms, um escritor britânico, à revista literária The Athenaeum, também de origem britânica, de acordo com um artigo disponível na plataforma JSTOR.
A etimologia da palavra Folclore nos ajuda a entender melhor seu significado, mas se você procura por algo mais técnico, então pode recorrer à definição de folclore de acordo com a Encyclopaedia Britannica.
De acordo com ela, em seu uso moderno, essa é uma disciplina acadêmica que compreende a soma de literatura, cultura material e os costumes de subculturas dentro de sociedades predominantemente letradas e tecnologicamente avançadas. Essa literatura, cultura e costumes são transmitidas oral ou imitativamente.
A enciclopédia também indica que, em seu uso popular, o termo “folclore” às vezes se restringe apenas à tradição da literatura oral.
Quando surgiu o Folclore no mundo?
Embora o termo tenha sido usado pela primeira vez em 1847, isso não significa que as histórias folclóricas tenham surgido apenas a partir da metade do século XIX. A mesma Encyclopaedia Britannica afirma que os estudos sobre o Folclore começaram no início do século XIX.
Os primeiros folcloristas se concentraram exclusivamente nos camponeses rurais, além de outros grupos relativamente intocados pelos métodos modernos, como os ciganos. Seu objetivo era o de traçar costumes e crenças antigas preservadas para, assim, traçar a história mental da humanidade.
Amplas coleções de materiais foram acumuladas no curso desses esforços. Inspirados pelos irmãos Grimm, cuja primeira coleção de contos de fadas foi lançada em 1812, estudiosos de toda a Europa começaram a recordar e publicar literatura oral de vários tipos, como os seguintes:
- Contos de fadas e outros contos populares;
- Baladas e outras canções.
- Épicos orais;
- Peças folclóricas;
- Enigmas;
- Provérbios, entre outros.
Um trabalho similar também foi feito nas áreas da música, dança e outras artes tradicionais. Foi nessa época, inclusive, que vários museus e arquivos foram fundados.
Quando surgiu o Folclore no Brasil?
No Brasil, o folclore teve vários elementos registrados e comentados por viajantes estrangeiros e cronistas desde o período colonial. Porém, ele passou a receber mais atenção, inclusive científica, por parte da elite nacional também em meados do século XIX, com forte influência do Romantismo, que estava em alta na época.
Renato de Almeida, musicólogo e folclorista, foi um personagem bem importante, pois foi um dos fundadores da Comissão Nacional do Folclore em 1947, entidade governamental brasileira dedicada ao estudo e fomento do folclore brasileiro, que vive até hoje.
Cabe ressaltar também a Carta do Folclore Brasileiro, conjunto de conceitos e recomendações sobre a proteção, divulgação, documentação e pesquisa do folclore no país. Ela foi produzida durante o VIII Congresso Brasileiro de Folclore, de 12 a 16 de dezembro de 1995, em Salvador (BA).
Uma curiosidade é que, em homenagem ao dia em que William J. Thoms usou o termo folk-lore, o dia 22 de agosto passou a ser considerado o dia do Folclore no Brasil por meio do Decreto nº 56.747, de 17 de agosto de 1965.
Veja também: 8 maneiras de enriquecer a cultura do seu filho
Quais são os benefícios do ensino do Folclore para as crianças?
Além de as histórias folclóricas serem tão cativantes, emocionantes e curiosas, elas ainda trazem uma série de benefícios aos pequenos, como os seguintes:
- Enriquecimento cultural. Por meio das histórias do Folclore, as crianças conseguem aprender sobre diferentes culturas, suas semelhanças e diferenças, a importância de determinados valores, as histórias dos povos e o efeito da geografia sobre elas. Você também pode conferir em nosso blog outras maneiras de enriquecer a cultura do seu filho.
- Criação de identidade cultural. As crianças também desenvolvem uma forte identidade com a sua cultura nacional, regional e local, o que pode, inclusive, trazer um sentimento de pertencimento.
- Estímulo às emoções. Da admiração à confusão, do medo à satisfação, da alegria à tristeza, as histórias do folclore brasileiro e mundial são ótimas fontes de emoções, as quais, por sua vez, ajudam os pequenos a lidar melhor com seus sentimentos. Você também pode conferir em nosso blog livros infantis que ajudam as crianças a lidarem com as emoções.
- Incentivo ao conhecimento sobre a diversidade. Falando sobre o Folclore brasileiro, temos personagens característicos de diferentes regiões do Brasil. A Cuca tem origens nordestinas (e também portuguesas), enquanto o Boto é uma lenda do Norte e o Negrinho do Pastoreio está associado ao Sul. Esse é apenas um exemplo de como as histórias folclóricas tratam sobre diversidade, não apenas regional como também de vários outros aspectos.
- Aprendizado sobre a história e a vida dos antepassados. O folclore está muito ligado à tradição e aos antepassados, inclusive na ambientação das histórias. Logo, essa é uma ótima forma de aprender sobre a vida de quem viveu antes dos pequenos.
- Desenvolvimento do amor pelas histórias. A contação de histórias tende a fascinar e cativar os pequenos a procurarem por cada vez mais literatura, e o folclore é uma excelente porta de entrada para esse universo literário.
- Desenvolvimento das habilidades de leitura. Além de tudo isso, os personagens folclóricos ainda fazem que as crianças trabalhem continuamente a qualidade de sua leitura, o que influencia positivamente no consumo de quaisquer outros meios literários.
Veja também: Livros para falar sobre diversidade com as crianças
O Folclore brasileiro levado ao mundo
O folclore brasileiro é muito rico, algo de que devemos nos orgulhar. Porém, nem todos os países e regiões do mundo têm o prazer de conhecer as histórias brasileiras, com tanto valor cultural quanto as lendas “internacionais”, como o Pé Grande (Estados Unidos), o Wendigo (Canadá) e o Lobisomem (vários países).
É no sentido da popularização da história do folclore brasileiro e de suas histórias que destacamos aqui uma série nacional da Netflix: Cidade Invisível, criada por Carlos Saldanha, diretor indicado ao Oscar, baseado na história de Raphael Draccon e Carolina Munhóz e estrelada por Marco Pigossi, Alessandra Negrini, Fábio Lago, Jéssica Córes e outros nomes.
Na história, Eric é um policial ambiental que sofre pela morte da esposa em um evento rodeado de mistérios. A partir de então, ele passa a criar sua filha sozinho e procura o culpado por esse crime, embora esteja vivendo entre a realidade e um mundo invisível cheio de seres fantásticos.
Francesco Civita e Beto Gauss, produtores da série, disseram em entrevista ao site Notícias da TV que o resultado ainda era uma interrogação. Porém, o sucesso foi enorme, já que o título ficou no top 10 de atrações mais vistas da Netflix em mais de 40 países e já teve sua 2ª temporada confirmada.
Essa é mais uma bela prova de que o folclore brasileiro é riquíssimo e merece ser defendido e transmitido por todos nós. Porém, vale ressaltar que Cidade Invisível tem classificação indicativa para maiores de 16 anos e, portanto, não é uma produção infantil, tudo bem?
Quais são as maiores histórias do Folclore brasileiro?
É tanta riqueza e variedade que fica difícil escolher algumas histórias do folclore brasileiro e deixar outras de fora. Porém, vamos mencionar aqui algumas das mais conhecidas e, se você quiser conferir outros seres não tão difundidos do nosso folclore, basta acessar em nosso blog o artigo sobre personagens do folclore brasileiro que as crianças precisam conhecer.
Boitatá
Também conhecido como Baitatá, Batatão, Biatatá e Bitatá, tem nome com origem tupi-guarani, cujo significado é “cobra de fogo”. Como o nome já diz, é uma grande serpente de fogo que protege as matas e os animais.
Boto
Também chamado de Boto cor-de-rosa ou Uauiará, ele aparece nas noites de festas juninas, quando sai dos rios e se transforma em um homem muito bonito, que atrai as mulheres para levá-las ao fundo dos rios e engravidá-las. Confira também em nosso blog outras histórias com a diversidade da Amazônia.
Veja também: 8 livros infantis com a diversidade da Amazônia
Caipora
Também chamada de Caipora do Mato, é uma figura que pode ser representada por um homem ou uma mulher, de acordo com a região do país, e é considerada a protetora dos animais e guardiã das florestas.
Quando sente que algum caçador está na floresta com o intuito de caçar animais, ela começa a uivar e gritar muito alto para assustar esses homens.
Há estudiosos que dizem que a história da Caipora derivou do Curupira, o que explicaria porque têm características tão parecidas, como a proteção da floresta e o fato de assustar caçadores e exploradores, por exemplo.
Inclusive, na versão em que Caipora é um homem, considera-se que ele seja primo do Curupira.
Cuca
Com origem portuguesa, mas bastante associada ao Nordeste brasileiro, a Cuca é representada por uma velha malvada que tem cara de jacaré e que dorme uma vez a cada 7 anos.
Com uma voz assustadora, ela captura crianças desobedientes e que não querem dormir. É por isso que a cantiga de ninar fala para as crianças dormirem antes que a Cuca as pegue.
Curupira
Menino de cabelos vermelhos e pés virados para trás que protege a fauna e a flora, assobia e deixa pegadas com seus pés virados, confundindo quem o persegue, já que acha que ele foi pela direção contrária. Embora faça travessuras na mata, é um protetor das florestas.
Veja também: Por que a flora e fauna brasileira deveriam estar mais presentes no livro infantil?
Iara
De origem tupi, seu nome significa “senhora das águas” e ela também é conhecida como Uiara. Antes de ser uma sereia, Iara era uma indígena muito bonita e inteligente que despertava inveja, a ponto de seus próprios irmãos tentarem matá-la.
Porém, é Iara que acaba os matando, e como punição, ela é lançada no encontro do Rio Negro com o Solimões. A partir daí, ela se transforma em uma sereia que tem o objetivo de matar os homens.
Guaraná
Um casal de indígenas que não tinha filhos pediu que o deus Tupã realizasse esse desejo. O pedido foi atendido e nasceu um menino muito bonito e repleto de saúde.
Porém, Jurupari, deus da escuridão, sentia inveja do menino e, um dia, enquanto o garoto colhia frutos na floresta, ele se transformou em uma serpente e o matou com seu veneno.
Tupã tentou avisou seus pais sobre o risco que o menino corria com trovões muito altos, mas não deu tempo de salvá-lo. Então, Tupã ordenou que os olhos da criança fossem plantados para nascer uma planta, cujo fruto daria energia a quem o consumisse.
No local em que os olhos foram plantados nasceu o guaraná, fruta que tem a aparência de olhos.
Mandioca (ou Mani)
Mani era uma menina muito alegre e querida. Neta do cacique, a gravidez de sua mãe entristeceu o chefe da tribo, já que ela não era casada com um bravo guerreiro.
Ela dizia que não sabia como tinha ficado grávida, e o cacique teve um sonho que o dizia para acreditar na filha, que ainda era pura. A partir de então, ele acredita na gravidez e fica feliz com a história.
Um dia, pela manhã, Mani foi encontrada morta por sua mãe. Ela enterrou a filha em sua oca e suas lágrimas regaram a terra, até que depois de alguns dias, nasceu ali uma planta diferente, cuja raiz foi chamada de mandioca, unindo os nomes “Mani” e “Oca”.
Mula sem cabeça
Monstro que se manifesta quando uma mulher namora um padre. Então, por maldição, ela se transforma em uma mula com uma tocha de fogo no lugar da cabeça, que assusta animais e pessoas.
Negrinho do Pastoreio
Esse menino era escravizado por um homem muito maldoso e, quando foi pastorear os cavalos, acabou perdendo um cavalo baio. Então, o fazendeiro o agrediu e jogou num formigueiro.
No dia seguinte, ele se depara com o garoto sem nenhum ferimento no corpo, montado no cavalo perdido e ao lado da Virgem Maria, sua padroeira.
Especialmente no Sul do país, existe a crença de que quem perder algum objeto pode acender uma vela perto de um formigueiro e, depois de pedir com muita fé, o reencontrará.
Saci-Pererê
Com nome de origem tupi-guarani, é um menino negro com uma perna só que fuma cachimbo e usa uma carapuça vermelha que o dá poderes mágicos.
Ele surge como um redemoinho e gosta de assustar pessoas, além de fazer várias travessuras, como trançar os cabelos dos animais, fazer objetos desaparecerem e assobiar para assustar os viajantes, além de atrapalhar o trabalho das cozinheiras.
Além disso, o Saci-Pererê é o guardião das ervas e das plantas medicinais.
Valorize as histórias do Folclore brasileiro e mundial e transmita-as para seus filhos!
Repletas de aventura e emoção, as histórias do folclore são parte integrante da cultura, tanto brasileira quanto mundial, e merecem ser compartilhadas para que nunca caiam no esquecimento, especialmente em meio a tantas outras histórias a que temos acesso atualmente.
Ao valorizar nossa cultura, também valorizamos nosso povo, o que é superimportante para fortalecer nossa identificação e, ao mesmo tempo, permitir que todas essas histórias vivam eternamente no imaginário das pessoas de todo o mundo. Por isso, o nosso clube de leitura se preocupa em enviar livros que valorizem a nossa cultura para crianças de todas as partes do país.
De quais histórias do folclore brasileiro você mais gosta? E do Folclore mundial? Acha que faltou alguma em nossa lista? Deixe sua opinião aqui nos comentários e até a próxima!
*As imagens deste artigo foram retiradas do livro Abecedário de Personagens do Folclore Brasileiro de Januária Cristina Alves e Berje (SESC/FTD)