Quem nunca riu do barulho de um pum levante a mão! Se as coisas que são produzidas pelo nosso corpo, como sons e cheiros, naturalmente despertam a nossa atenção, imagine a das crianças pequenas, que estão começando a descobrir o mundo?

O barulho e o cheiro do pum, as características do xixi, do cocô e das melecas do nariz são apenas alguns exemplos de conteúdos que costumam despertar a curiosidade das crianças que passam pela fase escatológica e até um certo encantamento por parte dos pequenos. Mas você já parou pra pensar de onde será que vem esse interesse todo? E, ainda que essas descobertas possam gerar momentos muito engraçados em casa, o que fazer quando a coisa parece sair de controle e o pequeno começa a exaltar o comportamento em público?

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O que se inicia na curiosidade e se fortalece pela reação dos pais

“Acho que desde [que são] muito pequenas, os pais brincam com as crianças sobre o cocô e o pum delas. Duvido que exista um pai ou uma mãe que não deu risada quando o bebê soltou um pum, ou fez uma careta junto com risadas e gestos brincalhões fingindo que o cheiro cocô do filho é pior do que parece”, diz Blandina Franco, autora da série de livros Quem soltou o Pum?, em parceria com o ilustrador José Carlos Lollo. Nas histórias, os autores falam do pum na escola, na banheira, do pum da prima e até do piriri do vizinho em situações hilárias que arrancam gargalhadas mesmo dos leitores mais sisudos.

Imagem do livro "Quem soltou o Pum?", de Blandina Franco e José Carlos Lollo. Crédito: Clube Quindim.
Imagem do livro “Quem soltou o Pum?“, de Blandina Franco e José Carlos Lollo. Crédito: Clube Quindim.

Boa parte do que os adultos acham engraçado, divertido e encantador nas crianças é justamente a naturalidade e a falta de filtro que elas têm ao manifestar sua opinião sobre pessoas, coisas e situações. Se sua criança já disse, com toda tranquilidade, que achou a roupa de fulano feia e o nariz de ciclano engraçado, ou perguntou por que aquele tio é careca – bem na frente dessas pessoas – você sabe do que estamos falando.

Embora situações como essas possam trazer um certo embaraço para os adultos, nós geralmente olhamos para as crianças e rimos, não é? O mesmo acontece com o cocô e o pum. Afinal, não dá pra negar: aquele corpinho diminuto soltando um pum enorme, barulhento e fedorento é muito engraçado! “Isso cria vínculo, é uma coisa carinhosa, uma brincadeira divertida. Os adultos, quando são acusados pela criança de soltar um pum, fingem se esconder, fingem vergonha, brincam com as crianças, e isso torna o ato divertido”, diz Blandina.

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fase escatológica: Uma curiosidade natural

Não há nada de anormal no interesse das crianças pelas produções do seu próprio corpo. Os pequenos tendem mesmo a se sentir intrigados pela origem de tantos cheiros, sons e texturas, além de empoderados por aquilo. Afinal, o xixi, o cocô, a meleca e tudo mais foi feita por eles, saíram de seu corpo e de mais ninguém. Mas o que fazer quando surge a vergonha relacionada a essas coisas, que são naturais e todo mundo faz?

Imagem do livro "Da pequena toupeira que queria saber quem tinha feito cocô na cabeça dela", de Werner Holzwarth e Wolf Erlbruch. Crédito: Clube Quindim.
Imagem do livro “Da pequena toupeira que queria saber quem tinha feito cocô na cabeça dela“, de Werner Holzwarth e Wolf Erlbruch. Crédito: Clube Quindim.

Para Blandina, “a vergonha relacionada a esse assunto aparece quando crescemos, e acho que começa entre as crianças mesmo. Quando ainda são pequenas e não foram moldadas pelo socialmente correto, soltar pum, fazer cocô fedido, está mais para uma brincadeira do que para uma vergonha social. Depois, as crianças aprendem que não podem bater nem morder o coleguinha, e é fácil entender o porquê disso, mas qual a razão de ser proibido falar de xixi, cocô, peido, se tudo isso é uma coisa normal para o nosso corpo?”, questiona a autora.

“Nós não lemos Freud o suficiente para falar da relação entre a psique e as necessidades fisiológicas da criança, mas acreditamos que, a partir dos 3 anos, essa curiosidade pelo assunto está mais relacionada à reação dos adultos ao serem confrontados com as palavras proibidas do que com a escatologia em si. A curiosidade sobre o tema é uma provocação da criança, e cabe aos pais perceber o limite do saudável nisso tudo”, afirma.

Como com qualquer outro assunto relacionado ao comportamento infantil, o melhor é sempre conversar a respeito. As famílias podem explicar que todas as pessoas fazem essas mesmas coisas, e que até os bichinhos soltam pum, fazem xixi e cocô. Por ser natural, é justamente por isso que o objetivo é educar, e não reprimir ou fazer com que a criança se sinta envergonhada e constrangida.

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Orientação com gentileza, afeto e leveza

Se o comportamento estiver exagerado e acontecendo na frente de pessoas de fora do núcleo familiar também, vale a pena não incentivar (e segurar o riso, embora a gente saiba que isso pode ser bem difícil!). Assim, a situação tende a perder a graça e, consequentemente, a criança perde o interesse.

Imagem do livro "Banana!", de Bernardo P. Carvalho. Crédito: Clube Quindim.
Imagem do livro “Banana!“, de Bernardo P. Carvalho. Crédito: Clube Quindim.

“Existe um caminho divertido para a criança falar de pum, cocô e xixi, o assunto é uma maneira de ser escatológico sem ser ofensivo; é como falar um palavrão, mas do tipo que não ofende o outro, uma contravenção que está mais para a risada do que para a bronca, é uma forma saudável da criança testar um pouco os limites sociais”, diz Blandina.

Dito isso, vale lembrar que, para a criança, tudo não passa de uma grande brincadeira. Seu objetivo é encontrar o riso, a diversão e o carinho dos pais relacionados a essa situação, da mesma maneira como já aconteceu antes. Por isso, procure levar a conversa com leveza.

“Nós, como autores de livros, só sabemos que o assunto é engraçado, e essa diversão pode aproximar a criança dos livros. Na grande maioria das vezes a resposta das crianças sobre o assunto é positiva e saudável”, finaliza.

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Estante Quindim

Que tal, então, aproveitar livros com essa temática como uma oportunidade para conversar com a criança sobre o conceito de privacidade? Esses são aprendizados bastante úteis quando os pequenos começam a circular em espaços compartilhados, como a escola, o parque e as pracinhas. Veja alguns títulos já enviados pelo Quindim para as famílias e que trazem temas como esse:

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Apertado, de Guido Van Genechten
Quem soltou o pum? (escritora Blandina Franco, ilustrador José Carlos Lollo, editora Companhia das letrinhas)
Quem soltou o Pum?, de Blandina Franco e José Carlos Lollo
DanielBacterias CapaTransparente e1744896330375
Daniel e as bactérias, de Flavio Alterthum e Fernando Vilela