Foram só algumas horas do dia longe, mas, ao buscar seu filho na escola, você quer saber tudo o que aconteceu na sua ausência. O que ele aprendeu? Do que brincou? O que comeu? Com quais amigos conversou? Lembrou de ir ao banheiro? Bebeu água? No entanto, ao fazer a clássica pergunta, “Como foi a escola hoje?”, é frequente receber de volta apenas um “Legal!” ou pior ainda: um “Ah, normal”. As tentativas continuam e você tenta ir um pouco mais fundo: “O que você fez hoje na aula com a turma?”. Então, escuta a inacreditável resposta: “Nada”.

Nada? Como assim, nada? Talvez seja melhor mudar de assunto ou apenas contemplar o silêncio. A rotina continua, jantar, banho e chega a hora de dormir. Porém, é só colocar a criança na cama, que ela começa a disparar a narração de tudo o que aconteceu na escola, com todos os pormenores. “Mamãe, sabia que hoje uma joaninha pousou na mão da minha amiga?” ou “Papai, a professora usou um carimbo roxo no meu caderno”.

Se você se identificou, saiba que não está sozinho (a) nessa. Acontece na grande maioria dos casos e pode haver explicações, segundo a psicóloga Cynthia Wood, de São Paulo (SP). Para começar, basta lembrar de como você se sente quando chega do trabalho ou termina alguma tarefa longa ou intensa. Certamente, vai querer se sentar e relaxar, antes de conversar ou mesmo de desabafar sobre o seu dia na escola. “Com a criança também é assim. A última coisa que se quer é receber um interrogatório neste momento, antes de descansar, comer, tomar um banho…”, diz a especialista.

É à noite, quando tudo se acalma, que a vontade de falar chega. “Na hora de dormir, eles costumam se sentir mais relaxados e sabem que os pais estão ao lado, na escuta, sem celular, sem interrupções”, descreve. Parece ser o momento perfeito para uma conversa. Porém, dependendo do horário, bate o desespero, porque o tempo passa, vai ficando tarde, o pequeno continua falando sobre o dia na escola e não pega no sono por nada. Já é possível prever a manhã seguinte arruinada. O que fazer?

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ajustes na rotina

Para a psicóloga, uma parte da solução pode ser adaptar a rotina, para incluir esse espaço de troca, em um momento que seja confortável tanto para a criança, como para os adultos, além de não atrapalhar o sono. “Uma ideia é tentar puxar o papo para a hora do jantar, por exemplo”, diz ela. “Ou, quando a criança e os pais se sentirem mais conectados e relaxados. Se for na hora de dormir, tentem se deitar um pouco mais cedo, contemplando esses minutos de bate-papo na cama”, orienta.

dia na escola
Foto: Canva

E como dizer à criança, que está toda animada, contando sobre seu dia na escola, que chegou o momento de dormir? “Fale abertamente que ama escutar o que seu filho tem a dizer, mas que, ao mesmo tempo, vocês não podem dormir tão tarde. Caso contrário, não terão energia para as atividades no dia seguinte”, recomenda. Pode ser difícil no começo, mas, com o tempo (e com muita paciência), eles acabam entendendo.

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Abordagem também conta!

Independente do horário que funcione melhor na sua casa, vale observar também a forma como está tentando iniciar essa conversa. Agora, você já sabe que o cansaço pesa e que, por isso, fazer um questionário assim que a criança chega não é a melhor estratégia.

Segundo Cynthia, o que pode ajudar é o modelo. “Se, durante o jantar, você, adulto, começa a contar para a criança como foi o seu dia — claro, com assuntos apropriados para a idade e de forma que ela compreenda, considerando a faixa etária —, com o tempo, ela vai aprender e vai querer falar também, vai querer resolver as situações de maneiras parecidas”, aponta. É um diálogo, não uma lista de perguntas que só seu filho precisa responder. Pode parecer um detalhe, mas faz toda a diferença.

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Foto: Canva

Isso, é claro, não é uma regra. A conversa não precisa acontecer exatamente no jantar. A escolha varia, de acordo com a realidade e as possibilidades de cada família. “O principal é buscar um momento em que a criança esteja relaxada e concentrada em você”, indica. E esta precisa ser uma via de mão dupla, viu?

Quando seu filho puxar assunto sobre o dia na escola e quiser te contar algo, por mais banal que pareça, preste atenção e ofereça escuta. Assim, ele vai aprender que você também está disponível. Em algumas ocasiões, pode ser que esteja ocupada e não consiga se concentrar nele, mas comunique isso de forma gentil, dizendo: “Agora preciso terminar essa tarefa, mas daqui a dez minutos eu quero muito que você me conte”.

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TRAGA PARA O DIA A DIA

Ferramentas externas também podem desencadear algum assunto, como um livro, um filme ou mesmo o desenho animado que a criança está assistindo. Você pode ver junto, prestar atenção e pinçar de lá algum tema que possa trazer para a vida real. “Um livro que fale de algo parecido com o que você pretende abordar também pode ser um bom estímulo para o diálogo”, afirma.

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Foto: Canva

Reformular as perguntas, transformando-as em questões mais diretas e simples, também facilita as respostas. “Tente fazer questões mais específicas, mas que exijam uma certa reflexão antes da resposta, em vez de perguntas de resposta ‘sim’ ou ‘não’”, orienta. “Por exemplo, em vez de perguntar: ‘Como foi seu dia na escola hoje?’, pergunte: ‘Me conta, qual foi a coisa mais divertida que aconteceu na aula hoje?’ ou ainda ‘O que foi mais chato?’”, completa.

Também é importante lembrar que você não vai saber de tudo. A escola é o espaço em que a criança começa a se entender como um indivíduo, longe do núcleo familiar. Faz parte da experiência e do aprendizado viver momentos que nem sempre serão compartilhados. Na maioria das vezes, quando a criança é pequena, isso ocorre simplesmente porque ela não se lembra mesmo de relatar tudo ou não sabe como resumir o dia na escola. Conforme vai crescendo, ela passa a decidir o que dividir com os pais – que, provavelmente, não vão desistir de tentar.

ESTANTE QUINDIM

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Eu fico irada!, de Sandra V. Feder e Rahele Jomepour Bell
Boa noite, Bo (escritora Kjersti A. Skomsvold, ilustradora Mari Kanstad Johnsen, editora Baião)
Boa noite, Bo, de Kjersti A. Skomsvold e Mari Kanstad Johnsen