Os avanços tecnológicos provocaram mudanças profundas no trabalho, nas relações, em casa e – com efeitos diversos – na aprendizagem das crianças e nas escolas como um todo. A sala de aula com carteiras enfileiradas e com a fala predominante do professor não representa mais o único método de ensino presente no país e mundo afora.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em vigor desde 2020, define os direitos de todos os alunos das escolas brasileiras e destaca as diretrizes que devem ser implementadas nos currículos, reforçando novas competências – como desenvolver a empatia, a cooperação e o pensamento criativo. O documento estabelece que o estudante seja apresentado a conhecimentos éticos, humanos e técnicos para ser capaz de refletir, analisar, comparar situações, além de utilizar o conhecimento na prática, por meio das tecnologias disponíveis.

Como escolher um método de ensino para o meu filho? Professora segurando um globo terrestres cercada por seus alunos.

Veja também: Competências gerais da BNCC: o que são e qual a sua importância.

Nesse contexto recente, modelos de ensino não convencionais, que focam o aprendizado a partir de diferentes projetos e habilidades, ganharam ainda mais atenção. “Um aluno sentado, recebendo informações em silêncio e sozinho, vai na contramão do desenvolvimento dessas competências”, explica Thatyana Gouvêa, professora do Instituto Singularidades. “A forma como interagimos com as informações e com o próprio conhecimento mudou muito. Se antes usávamos um método baseado na memorização e no acúmulo de conhecimento teórico, hoje entende-se que apenas guardar informação é irrelevante, pois máquinas já fazem isso.”

As principais diferenças

Os métodos estão divididos, principalmente, entre ensino tradicional e interacionista (ou progressista). Neste último, a aprendizagem ocorre por meio da interação entre o aluno e o que deve ser aprendido. Já na proposta tradicional, a aprendizagem é passiva, com o ensino centrado na figura do professor. “Os chamados métodos tradicionais surgiram nos séculos XIX e XX em diferentes países em decorrência da escolarização em massa. Esse modelo se baseou na ideia de transmissão de conhecimento, em que o professor era o ‘detentor’ do saber, e é marcado por disciplina, controle e consenso”, afirma Ana Paula Duboc, docente do Departamento de Metodologia do Ensino e Educação Comparada da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).

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O surgimento de propostas construtivistas e socioculturais (ou interacionistas) inaugurou um ambiente escolar mais participativo em que o professor passa a atuar como mediador. “Nas últimas décadas, é reconhecida toda a contribuição das propostas de natureza sociointeracionista, justamente por passarem a defender um papel mais ativo do estudante”, conta Ana Paula.

Quais são os métodos interacionistas?

O modelo construtivista, do biólogo suíço Jean Piaget, propõe que o aluno construa um novo conhecimento a cada dia, e o professor é um facilitador entre o que o estudante sabe e o que virá a aprender. Já o sociointeracionista, desenvolvido pelo psicólogo russo Lev Vygostky, enfatiza que a interação com o outro e o ambiente ao redor é primordial para a aprendizagem. Há ainda as escolas Waldorf, que valorizam o desenvolvimento de habilidades cognitivas por meio do contato com a natureza e diferentes experiências manuais, como artes, design e culinária. E a metodologia Montessori, da educadora italiana Maria Montessori, que destaca o desenvolvimento da autonomia dos estudantes desde os primeiros anos escolares, com mobiliário escolar do tamanho da criança e liberdade de o aluno escolher quais materiais gostaria de usar em diferentes momentos.

Por onde começar?

“A família precisa refletir sobre o projeto de vida que deseja para seus filhos para, assim, buscar uma escola”, enfatiza Thatyana Gouvêa. Para a professora do Instituto Singularidades, o mais importante é o alinhamento da família e da instituição escolar, mesmo havendo divergências pontuais. “Pessoas que buscam práticas mais naturais, sem o uso excessivo da tecnologia e das telas, podem estudar a filosofia Waldorf e entender se lhes agrada”, diz. Segundo ela, estilos muito diferentes dentro da escola e de casa podem ser prejudiciais para os alunos, gerando mudanças drásticas de ambientes.

Conforme a criança cresce, ela também pode ser ouvida sobre as suas percepções da escola, da aprendizagem e quais são seus próprios projetos de vida. “Uma escola muito conteudista, convencional, pode gerar sofrimento a uma criança que queira explorar o lado artístico, por exemplo, já que algumas instituições oferecem pouco tempo e espaço para essas expressões e reflexões.”

Mais do que o método de ensino em si, a forma como escolas e famílias encaram o próprio processo de aprendizagem e como desejam contribuir para a formação subjetiva de seus estudantes e filhos é central. “A busca por um método de ensino único e perfeito, com garantia de uma boa aprendizagem, é um mito. É sempre perigoso afirmarmos que um determinado método ou material didático é bom ou ruim, pois isso dependerá da realidade local de cada escola”, ressalta, por sua vez, Ana Paula.

Práticas dentro de casa

Pais e responsáveis também podem assumir o papel de mediadores no processo de aprendizagem. “Oferecer aos filhos o convívio e participação em diferentes práticas e eventos sociais, conversar com eles a respeito dessas experiências, incentivando-os a produzirem sentidos e formularem hipóteses sobre tudo o que veem, ouvem, leem e sentem contribui enormemente para a formação de sua subjetividade”, aponta a docente da USP.

Como escolher um método de ensino para o meu filho? Pai contando história para a sua filha, ambos sentados olhando para o livro.

Para Ana Paula, ler uma história e depois reencontrá-la em uma versão diferente em outro livro, no cinema, na televisão, em uma pintura, mostra cultural ou em um game pode instigar a criança ou o jovem a tecer relações, comparações e contrastes. “Beneficiar-se de uma orientação interacionista no ambiente familiar implica promover o encontro de nossos filhos com vivências diversas, mas, acima de tudo, certificarmos de que essa experiência é acompanhada de diálogo, escuta, troca, numa mediação menos feita de respostas e mais marcada por perguntas, instigando-os à curiosidade, à descoberta, à imaginação e a uma postura ética e responsável diante do outro.”

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