Sofremos grande colonização cultural. Choramos pelo incêndio na Catedral de Notre-Dame enquanto já esquecemos o fogo que devastou o Museu Nacional. Demos aos nossos filhos ursos de pelúcia em vez de onças pintadas. Desenhamos árvores que são sempre macieiras, nunca ipês amarelos. E casas com chaminés bem diferentes das que vemos em nosso cotidiano.
Não à toa. Somos bombardeados com essas imagens norte-americanas e europeias em filmes, desenhos e propagandas. Precisamos de representatividade. Ver nossas plantas, nossos bichos. Em vez de buscar um simulacro mal-feito do outro – simulacro que busca o status de poder desse outro –, precisamos nos conhecer mais, para assim nos entender mais, e nos valorizar mais. Ou nos empoderar mais, como muitos dizem.
O livro infantil é um dos poucos espaços nas mídias destinadas à infância em que podemos encontrar a nossa grande diversidade representada. Mas muitas dessas obras, infelizmente, permanecem obscuras ao grande público, muitas vezes nem chegando às grandes livrarias – que acabam destinando obras de apelo mais comercial a suas estantes, ou seja, obras que retratam esses personagens estrangeiros licenciados aos quais as crianças já têm bastante acesso nas telas.
Por isso, o Clube de Leitura Quindim tem um cuidado grande em sua seleção para apresentar um pouco dessa diversidade de nosso País. O Brasil é o país com maior biodiversidade do mundo. E o maior bioma do país é a Amazônia.
Reunimos aqui uma lista com 8 títulos já enviados pelo Clube que retratam esse ambiente tão plural, onde também concentra praticamente metade da população indígena do país, em toda a pluralidade cultural. Confira!
8 livros enviados pelo Quindim para conhecermos a diversidade da Amazônia
Guayarê: o menino da aldeia do rio
A maioria de nós conhece bem a vida na cidade, mas como será a vida na floresta? Neste livro lançado exclusivamente pelo Clube Quindim, o pequeno Guayarê vai nos contar como é a vida em sua aldeia à beira do Rio Abacaxis, seus costumes, brincadeiras e tradições. O personagem pode até não ser real, mas, a partir dele, o autor nos traz informações sobre uma realidade que talvez não conheçamos. Guayarê fala de seu povo, de seu cotidiano e das suas brincadeiras. Os Maraguá vivem na Amazônia, assim como aproximadamente 50% dos quase um milhão de indígenas brasileiros. Mas grande parte dos brasileiros pouco conhece sobre eles. Conhecer realidades como essa amplia nosso universo, nos fazendo entender a pluralidade de realidades e olhares sobre o mundo.
Tapajós
Nesta obra de Fernando Vilela, acompanhamos o cotidiano de Cauã e Inaê, que vivem em um vilarejo às margens do rio Tapajós, um dos mais importantes da Amazônia. Eles moram em uma casa de palafitas, e o tempo é marcado pela estação das chuvas, quando eles têm de mudar de casa para regiões mais secas e construir suas novas moradias. Além da narrativa do texto, há muito para se ver e conhecer sobre a vida de Cauã e Inaê nas ricas imagens do autor. A vegetação característica, a textura da água que reproduz o momento das estações, as roupas dos personagens, as redes onde eles dormem, os animais etc. Tudo isso faz parte da nossa rica cultura e natureza brasileira.
Abaré
Este livro de imagem narra um dia de um índio mati e seus abarés (amigos). Os matis têm grande amor pela Amazônia, pela sua fauna e flora, e para eles todos são abarés! O livro de imagem é um livro sem texto, em que a narrativa acontece exclusivamente pela imagem. Ele desenvolve uma série de competências de leitura, pensando na leitura como a leitura de linguagens, e a imagem como uma linguagem. A criança precisa, por exemplo, compreender o tempo da narrativa pela sequência de imagens e entender as convenções dessa linguagem.
As serpentes que roubaram a noite
Esta obra traz uma antologia de mitos do povo Munduruku, do qual faz parte o autor da obra. Através da voz do avô, o livro explica, por meio de narrativas simbólicas, de onde viemos, de onde vieram os cães, por que serpentes são venenosas e outras questões do mundo e do povo munduruku. O mito é uma narrativa simbólica, relacionada a uma cultura, que busca explicar a origem das coisas. Por vezes, essa palavra é usada de modo pejorativo para se referir a crenças consideradas sem fundamento científico de diversas comunidades. Porém, os mitos dão significado à vida e criam um padrão cultural, servindo como uma espécie de ponte entre aquilo que é e aquilo que será ou poderia ser. Os mitos alimentam desejos e imaginação coletiva, e muito pode se descobrir sobre um povo ao conhecê-los.
Falando Tupi
Logo no início do livro, o escritor Yaguarê Yamã se apresenta ao leitor e propõe um diálogo direto por meio de perguntas e respostas. Essa brincadeira cria uma certa curiosidade no leitor, que identifica em algumas palavras usadas no dia a dia a origem tupi. Além do texto, o ilustrador Geraldo Valério criou uma belíssima narrativa visual para essa história com o contraste dos recortes e colagens super coloridas no fundo branco. Essa técnica proporciona ao leitor uma sensação tridimensional das imagens do livro. Esta obra sugere muitas atividades: ir para a cozinha experimentar a culinária indígena, buscar na família nomes que tenham origem indígena, pesquisar na internet povos indígenas que vivem no Brasil e suas lendas, plantar uma das inúmeras árvores brasileiras que aparecem no livro para preservar a natureza e também buscar filmes infantis que falam da temática indígena.
A boca da noite
O pôr do sol é um dos espetáculos mais bonitos de assistir. Mas o que acontece quando o sol vai dormir e dá espaço para a lua, as estrelas e a noite? Há muitas histórias que nascem com a noite. Histórias de heróis, de monstros, de príncipes, de bruxas e de indígenas como esta do curumim Kupai. Olhando para além de onde as pernas podem alcançar o menino Kupai questiona o movimento do universo e mostra a relação do homem com a natureza. Um trovão, um rio, um anoitecer podem trazer nossos medos, nossos questionamentos sobre perdas, sobre a finitude da vida. Mas também podem resgatar a importância da conversa, da convivência familiar. A ilustração neste livro ganha a força de um personagem com movimentos, formas e cores. Os elementos da cultura indígena estão presentes, não somente como adereços mas com a função de caracterizar e de ambientar um universo complexo que precisamos conhecer mais que é a Amazônia.
Conheça o projeto Amazônia Chama, iniciativa do Instituto Quindim para promover a preservação e a valorização dessa floresta.
Sou professora de educação infantil,adorei cada livro acredito que meu trabalho com os pequenos deixaram marcas positivas enquanto povos indígenas