Se você é mãe, pai ou cuidador direto de meninos, pare um minutinho para refletir: as orientações passadas para eles sobre cuidados íntimos e com a higiene masculina são as mesmas dadas para as meninas, tanto no que diz respeito ao conteúdo quanto em relação à frequência?

Se você acha que a resposta para essa pergunta é não, infelizmente, deve ter razão. De maneira geral, homens não cuidam da saúde da mesma maneira que as mulheres, e essa diferença tem origem em hábitos formados bem cedo, enquanto ainda são crianças.

Menino sob o chuveiro tomando banho. A importância do incentivo à higiene masculina

O clube de assinatura Quindim, preocupando-se com essa mudança de mentalidade necessária para preservar a saúde das crianças, propõe-se a falar a respeito da importância da higiene diária masculina, sobre como explicar, orientar e reforçar esses cuidados que os meninos devem ter com o asseio do próprio corpo e como isso, de maneira alguma, significa que eles são “menos homens”.

O que é a higiene íntima masculina

A higiene íntima masculina consiste, principalmente, em cuidar do pênis, dos testículos, da virilha e do ânus todos os dias, para que se mantenham limpos. Essa higiene deve ser feita com água corrente e sabão, e indivíduos que possuem prepúcio precisam redobrar os cuidados.

Nesse caso, é preciso retrair a pele que cobre a glande do pênis para remover o chamado esmegma, uma secreção branca formada por células descamadas e óleos naturalmente produzidos pelo corpo, mas que em excesso provocam mau cheiro e favorecem as infecções provocadas por fungos e bactérias.

Atenção: antes de fazer esses procedimentos em uma criança, é preciso consultar um pediatra. Nem sempre há indicação de retrair o prepúcio para realizar a higiene infantil, especialmente no caso dos bebês. Converse com o médico que faz acompanhamento do pequeno para saber a melhor maneira de proceder no caso dele.

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Outras ações de higiene que vão além do banho

Além dos cuidados que mencionamos, é preciso orientar os meninos sobre a importância de lavar as mãos depois de fazer xixi, bem como de secar o pênis para remover restos de urina que contribuem para o mau cheiro e a proliferação de fungos e bactérias. Essa secagem pode ser feita com um pedaço pequeno de papel ou, então, o pênis pode ser lavado, caso seja possível.

A troca diária das cuecas também é um fator muito importante para preservar a saúde íntima do homem. Ainda que os cuidados com a higiene estejam em dia, o calor e a transpiração fazem que a roupa íntima fique úmida, então é preciso trocar pelo menos uma vez por dia.

E, por falar em cuecas, é fundamental utilizar aquelas de tamanho adequado, que não fiquem nem grandes nem pequenas demais, já que cuecas muito apertadas podem pressionar a bolsa escrotal. O tecido também é importante, e deve ser o mais natural possível para favorecer a ventilação local e evitar a umidade. Algodão costuma ser uma boa opção.

No caso dos meninos adolescentes que já possuem pelos pubianos, os adultos podem orientá-los a aparar os fios em excesso para facilitar a limpeza da área. Não se trata aqui de defender uma depilação completa, visto que essa é uma escolha que somente um adulto pode fazer. Mas, sim, um encorajamento para manter os fios em tamanho médio, de maneira a evitar que retenham suor, restos de urina e secreções, pois isso pode contribuir bastante para a manutenção da higiene local.

Veja também: Criança que não toma banho: e agora?

Cuidados para os adolescentes que iniciaram a vida sexual

Pai orientando filho adolescente com a mão em seu ombro. A importância do incentivo à higiene masculina

Falar de sexo com os filhos ainda é considerado difícil e delicado para muitos adultos, mas isso precisa mudar urgentemente. Ao dar orientações claras e bem fundamentadas, ajudamos nossos jovens a se proteger e ter vidas mais saudáveis, inclusive no que diz respeito às doenças sexualmente transmissíveis.

Por isso, se você tem um jovem em casa que já iniciou sua vida sexual, fale com ele sobre a importância de lavar o pênis logo após as relações para evitar que resíduos de sêmen fiquem no local, o que favorece muito o aparecimento de fungos e bactérias.

Os fluidos corporais que naturalmente estão presentes nas relações sexuais, tanto com homens quanto com mulheres, também devem ser removidos com uma boa higiene depois da relação para evitar problemas. Até mesmo o lubrificante contido na camisinha pode ser prejudicial, então é preciso ficar atento.

Veja também: Por que a educação sexual deve ser tratada nas escolas.

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Higiene masculina e seu papel na prevenção do câncer de pênis

Um levantamento realizado pelo Ministério da Saúde e divulgado pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) em março de 2022 apontou que nos últimos 14 anos foram realizadas 7.213 cirurgias de amputação provocadas pela doença.

Com média de 515 procedimentos por ano no Brasil, esse número representa uma alta de impressionantes 1.604% de casos da doença. Ainda que seja mais comum em homens a partir dos 50 anos, é importante dizer que o câncer de pênis foi registrado, também, em indivíduos entre 12 e 39 anos de idade.

Dentre os principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença, estão:

  • higiene inadequada;
  • fimose;
  • tabagismo;
  • contaminação por HPV;
  • excesso de prepúcio;
  • lesões não tratadas.

Já dentre os sintomas, estão ardor, coceira, secreção com pus, vermelhidão e feridas que não cicatrizam.

Machismo X higiene masculina

Ainda segundo a SBU, ações simples como a conscientização da necessidade de higienizar o pênis diariamente já seriam capazes de prevenir a maior parte dos casos, mas é justamente aí que esbarramos em outro problema: o tabu.

De acordo com um estudo inédito divulgado pela própria SBU, meninos de 12 a 18 anos de idade vão a consultas com um médico urologista 18 vezes menos do que meninas da mesma faixa etária vão ao ginecologista.

Crianças lavando as mãos. A importância do incentivo à higiene masculina

Muitas Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), como sífilis, HPV, gonorreia e herpes, dentre outras, apresentam sintomas e manifestações locais que, quando diagnosticados precocemente, podem ter o tratamento iniciado e resultados positivos o quanto antes. Mas isso só é possível quando as consultas ocorrem, quando há diálogo e o jovem se sente acolhido e seguro para conversar sobre o assunto com a família.

Infelizmente ainda é muito comum o discurso que afirma que homem que se cuida é “maricas”, que homem que é “homem de verdade” só vai ao médico quando está doente e por aí vai. Esses pensamentos reforçam comportamentos que fazem que os meninos percebam o autocuidado como fraqueza, e é justamente por isso que se torna tão importante mudar essa percepção o quanto antes.

Cabe aos adultos, pais, responsáveis e cuidadores diretos dos meninos explicar sobre a importância da higiene íntima adequada e garantir seu acesso a consultas regulares com pediatras para acompanhamento da saúde. Quando atingirem a adolescência, o próprio pediatra poderá encaminhar os jovens para um urologista caso seja necessário.

Precisamos mostrar para os meninos, urgentemente, que o cuidado com seu próprio corpo é fundamental para a saúde, o bem-estar e a felicidade. Sobretudo, é preciso mostrar que buscar por isso nada tem a ver com fraqueza, vulnerabilidade ou sexualidade, mas, sim, com amor-próprio.