Entender que não há um padrão para o que é ser mãe não é uma tarefa simples, principalmente diante das cobranças sociais que existem em relação ao que uma mulher deve ou não fazer para ser considerada uma boa figura materna. Com exigências sempre tão altas e pressões irreais, é fundamental compreender que existem diversas formas de maternar e que, cada construção deve ser individual entre aquela mãe e aquele filho. Não existe “bom” ou “ruim”,  “certo” ou “errado”, a jornada é muito mais profunda. 

Imagem do filme Tully.
Imagem do filme Tully. Crédito: Divulgação.

E, para ampliar o nosso olhar, o cinema é uma ótima ferramenta, repleto de obras que nos ajudam a entrar em contato com outras percepções – menos padronizadas – da maternidade. A seguir, separamos nove opções entre filmes e documentários, clássicos e contemporâneos, que refletem sobre o que é ser mãe e a potência que é entender que, afinal, cada maternar é único. Vem com a gente! 

Veja também: Nem boadrasta nem mãedrasta, é madrasta mesmo: expectativas e realidades desse tipo de maternar

1. Tudo sobre minha mãe

“Tudo sobre minha mãe”, de Pedro Almodóvar, rendeu o Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro de 2000. O filme retrata a história de Manuela (Cecilia Roth), que perde o filho Esteban (Eloy Azorín) após um trágico acidente. Ele havia ganhado um ingresso da mãe para assistir a peça “Um bonde chamado desejo” e, após o espetáculo, ele tenta pegar o autógrafo da renomada Huma Rojo (Marisa Paredes), mas acaba atropelado. 

Manuela embarca então em uma viagem para Barcelona para contar ao pai de Esteban, uma travesti chamada Lola (Toni Cantó) sobre o falecimento do filho. Nessa jornada, ela acaba encontrando figuras femininas potentes que a ajudam a compreender sobre empatia, solidão e luto. “Tudo sobre minha mãe” é um drama que dialoga sobre diversidade do que é ser mulher e mergulha no cotidiano para mostrar a potência e a luta de ser fiel a quem se é e ao que deseja para si, apesar das dificuldades do caminho. É uma produção para se despedir do preconceito e mergulhar em diálogos profundos sobre temas como transexualidade, violência de gênero e, claro, maternar. 

Onde assistir? Prime Video; Apple TV; YouTube; Telecine e Google Play. 

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2. Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

Dos diretores Daniel Kwan e Daniel Scheinert, “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” estreou em 2022 e, no ano seguinte, conquistou sete estatuetas no Oscar, inclusive a de Melhor Filme. 

O longa traz a história da imigrante chinesa Evelyn Wang (Michelle Yeoh), dona de uma lavanderia que está falindo. Ao mesmo tempo, ela tem que lidar com um casamento frustrante e um relacionamento conturbado com a filha única. A cereja do bolo caótico é que, para além de tudo isso, a mulher precisa se preparar para lidar com uma agente da receita federal que pode destruir tudo que ela conquistou até esse ponto de sua vida. 

Visualmente surpreendente, o filme traz uma imensidão de referências pop que transitam entre o surreal e o onírico, com toques de ficção científica, abordando fendas temporais e universos paralelos, tudo enredado em uma bonita e potente história sobre maternidade. 

O filme, entre outras tantas provocações interessantes, é também um convite para repensarmos sobre como a construção da nossa maternagem precisa considerar não só quem somos para além de mães, como quem nossas crianças são para além de nossos filhos. 

Onde assistir? Amazon Prime; Apple TV e Google Play. 

3. Juno

O filme de 2007, do diretor Jason Reitman, conta a história de Juno (Elliot Page) que, ao transar uma única vez com Paulie (Michael Cera), acaba engravidando aos 16 anos. Logo após descobrir a gestação, a adolescente pensa em abortar o bebê legalmente, só que acaba tendo uma experiência negativa na clínica. Então, ela passa a procurar, com a ajuda da amiga Leah (Olivia Thirlby), um casal para que possa entregar a criança após seu nascimento. É nesse processo que ela conhece Vanessa (Jennifer Garner) e Mark (Jason Bateman), um casal disposto a adotar a bebê de Juno.

Delicado, embora cômico, “Juno” agradou na época, porque conseguiu permear assuntos complexos, como gravidez na adolescência, aborto e adoção, com leveza e acolhimento. Através da gestação inesperada, a personagem descobre a importância do apoio de amigos e familiares, dialoga sobre responsabilidade e entende seus próprios processos ao longo da jornada da gravidez. 

Onde assistir? Amazon Prime Video; Apple TV; YouTube e Google Play Filmes.

4. Que horas ela volta?

Estrelado por Regina Casé, “Que horas ela volta?” foi lançado em 2015 e fez muito sucesso assim que chegou às telonas. O longa-metragem levou sete estatuetas para casa no 15º Prêmio do Cinema Brasileiro.

A produção de Anna Muylaert conta a história de Val, uma empregada doméstica recifense que mora há mais de dez anos na casa dos patrões em São Paulo. Ela é a dura representação do retrato antigo e problemático do empregado que é “quase da família”. Em outras palavras, ela criou os filhos do chefe como se fossem dela, mas nunca pôde sentar à mesa com eles ou aproveitar a piscina da casa. 

Mãe solo, a personagem faz todos os esforços a fim de dar condições melhores para a filha, que ainda mora em sua cidade natal. Tudo muda, porém, quando Jéssica (Camila Márdila) vem para São Paulo para prestar o vestibular e já chega levantando questões: ela coloca Val para refletir sobre o lugar que ela ocupa dentro daquela família que sempre teve como sua, mas que nunca a considerou da mesma forma. 

Onde assistir? Netflix.

5. Dançando no escuro

“Dançando no escuro”, de Lars Von Trier, é uma obra arrebatadora, do tipo que não dá para sair indiferente depois de assistir. O filme de 2000 traz a história da tcheca Selma Jezkova (Björk), uma mãe solo que tenta juntar dinheiro para que o filho Gene (Vladan Kostig) possa passar pela cirurgia necessária para não perder a visão devido a uma doença hereditária. A ironia é que, durante sua jornada exaustiva em turnos pesados numa metalúrgica, Selma também está ficando cega por conta da mesma enfermidade. 

A rotina massacrante da mãe – recheada de momentos surreais em que ela fantasia que está em musicais – no entanto, sofre uma triste reviravolta quando todo o dinheiro que ela vinha guardando para a operação é roubado e Selma é acusada de um crime. Considerado um musical pós-moderno, a obra, que rendeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes para Björk, é uma reflexão profunda sobre sacrifício, traição, amizade e maternidade, mas acima de tudo, sobre a condição humana. 

Onde assistir? Amazon Prime Video e Mubi. 

6. A filha perdida

Inspirado no livro de mesmo nome, de Elena Ferrante, “A filha perdida” estreou em dezembro de 2022 na Netflix e se tornou o filme de língua inglesa mais assistido na plataforma de streaming na época. 

O longa-metragem traz a história de Leda (Olivia Colman), uma professora universitária de 48 anos que decide fazer uma viagem sozinha para a Grécia. Nessa jornada, ela acaba conhecendo Nina (Dakota Johnson), uma jovem mãe que a faz reviver memórias dolorosas com suas próprias filhas e a faz repensar escolhas que fez no passado. 

Entre idas e vindas, a produção é um convite potente para refletir sobre tabus que rondam o ser mãe, como a abdicação dos desejos pessoais frente à maternidade, o machismo que se esconde entre as escolhas paternas e maternas, a ideia de que mães são perfeitas e a difícil pressão social de que todas as mulheres nasceram para maternar. Imperdível. 

Onde assistir? Netflix.

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7. Roma

“Roma”, de Alfonso Cuarón, passa em 1970 e traz a história de uma empregada doméstica indígena chamada Cleo (Yalitza Aparicio). Sua jornada começa com ela sendo responsável por realizar as tarefas da casa e cuidar de quatro filhos de um casal. Só que tudo muda quando ela engravida e é abandonada. Ao mesmo tempo, Cleo presencia o fim do relacionamento do casal para quem prestava serviço e se compadece da dor também daquela família, enquanto enfrenta suas próprias feridas internas. 

O filme retrata a correlação entre duas mulheres que, embora com classes sociais completamente diferentes, são abandonadas por seus parceiros, sendo obrigadas a lidar com responsabilidades que deveriam ser compartilhadas, mas acabam ficando restritas só ao feminino, como o maternar, levando a uma profunda sobrecarga da mulher

Onde assistir? Netflix 

8. Tully

O puerpério pode ser um período bastante solitário e há um sentimento constante de que ninguém ao redor é capaz de dimensionar esse turbilhão interno. “Tully”, dirigido por Jason Reitman, trata justamente dessa sensação. 

O longa traz a história de Marlo (Charlize Theron), uma mãe de 40 anos que está vivendo seu terceiro puerpério. Sobrecarregada, confusa e exausta, Marlo administra a rotina dos filhos sem rede de apoio e com pouca participação do marido, Drew (Ron Livingston). Ele, inclusive, espera indiretamente que a esposa também cumpra esse papel materno em sua vida, como se fosse obrigação dela gerenciar todos que estão ao seu entorno para ser validada. Para auxiliar Marlo, seu irmão Craig (Mark Duplass) decide contratar uma babá chamada Tully (Mackenzie Davis) para auxiliar a mãe de três. 

Com o apoio necessário, Marlo começa a sentir que está voltando ao prumo, ao mesmo tempo, em que Tully leva a patroa a querer entrar em contato com diferentes versões de si. O filme é um convite para refletirmos sobre os desafios do puerpério, a necessidade da rede de apoio e como é importante não se anular diante do maternar. 

Onde assistir? HBO Max, Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play Filmes e TV.

9. Mães do Pina

“Mães do Pina” é um documentário pernambucano que tem como intuito dar visibilidade a um grupo de mulheres religiosas do bairro de Pina, em Recife, mostrando a influência delas no local. Elas são mães de santo, do candomblé, religião de matriz africana que se desenvolveu no Brasil a partir do século 19. 

As mães de Pina são: Mãe Enésia da Oxum, Mãe Maria de Quixaba da Oxum, Mãe Helena de Xangô, Mãe Elda de Oxóssi e Mãe Laura de Xangô. 

O documentário reflete sobre a marginalização que os candomblecistas ainda sofrem, em especial mulheres/mães de santo, mesmo a religião sendo matriarcal. Ele reforça que a luta de resistência é árdua e constante, uma vez que a intolerância religiosa, o racismo, o machismo e o patriarcado ainda são desafios diários dessas mães. 

Onde assistir? Prime Video.

Estante Quindim

Conheça 3 livros que retratam a maternidade e a relação entre mães e filhos já enviados pelo Quindim:

Crec (autoras Nora Hilb e Marcela C. Hilb, ilustradora Nora Hilb, editora Pingo de Luz)
Crec, de Nora Hilb e Marcela C. Hilb
Nori e eu (autores Masanori Ninomiya e Sonia Ninomiya, editora WMF Martins Fontes)
Nori e eu, de Sonia Ninomiya, Masanori Ninomiya e Caeto
Milo imagina o mundo (escritor Matt de la Peña, ilustrador Christian Robinson, editora Pallas)
Milo imagina o mundo, de Matt de la Peña e Christian Robinson