Figurando na lista dos filmes de princesa mais amados por crianças (e adultos) desde o lançamento do longa-metragem de animação da Disney, em 1991, a Bela e a Fera teve várias outras versões antes de conquistar o mundo com castiçais, relógios e peças de louças decoradas que cantam e dançam.

Além das versões francesas que inspiraram diretamente aquela que é a narrativa mais conhecida deste conto de fadas, existem também um conto chinês, um sul-africano e um norueguês, sem contar os fatos históricos que podem ter influenciado diretamente a criação dos personagens.

Veja também: Contos infantis e suas muitas versões: A Branca de Neve.

A versão de Madame de Villeneuve

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Livro infantil da Walter Crane’s Toy Books de Beauty and the Beast, ilustrado por Walter Crane e impresso por George Routledge and Sons em 1874.

Como já dissemos aqui algumas vezes, pode ser difícil precisar quando e qual foi a primeira versão de um conto de fadas, tanto por serem registros muito antigos quanto por sofrerem muitas alterações com o passar dos anos, bem como a cada vez que são passados adiante. No caso de A Bela e a Fera, a primeira versão teria sido escrita por uma francesa chamada Gabrielle-Suzanne Barbot de Villeneuve, conhecida como Madame de Villeneuve, e lançada em 1740.

Nela, uma fada se casa com um rei e é expulsa de seu reino porque isso violava as regras. A fada leva a filha do casal, Bela, para substituir o bebê de um mercador humilde que havia falecido e, assim, a jovem é criada como se fosse uma pessoa comum, quando na verdade é uma princesa.

Sabe aquele rei que se casou com a fada? Pois bem. Uma fada má, curiosa e com inveja do sentimento verdadeiro entre ele e a fada boa, resolve conhecê-lo e se encanta também. Para se aproximar da família, ela vai até o castelo vizinho, onde mora uma rainha (que não por acaso é irmã do tal rei), e se oferece para cuidar do príncipe nos períodos em que ela estiver longe.

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Conforme o tempo passa e o príncipe cresce, o sentimento que a fada malvada tem por ele se transforma, e ela resolve que os dois devem se casar. Mas, adivinhe só, é claro que nem o príncipe nem a rainha concordam com isso, então a fada quase-bruxa lança um feitiço transformando-o numa besta fera incapaz de ser gentil. E, sim, é isso mesmo o que você entendeu: a Bela e a Fera eram primos!

A fada boa, para tentar arrumar essa confusão toda, faz que o mercador, pai da Bela, entre no castelo para pegar uma rosa, pois sabe que a garota, boazinha e altruísta, vai trocar sua liberdade pela segurança e bem-estar da família. Assim, durante seus dias no castelo Bela é muito bem tratada, e durante as noites sonha com um príncipe magnífico por quem se apaixona.

Quando a Fera permite que Bela volte para casa para passar um tempo com sua família, a jovem passa a se sentir ingrata por tudo o que recebeu e de que desfrutou no castelo, e também pelos benefícios concedidos à sua família. Quando decide voltar, Bela encontra a Fera já quase morta de fome e tristeza pelo tempo em que ficou longe dela.

Assim, Bela decide aceitar o pedido de casamento, mas não por amor, pois ela ainda está apaixonada pelo homem que encontra apenas em seus sonhos, e sim pelo dever com sua família e em gratidão pela generosidade com que a Fera sempre a tratou.

É somente depois que os dois passam a primeira noite juntos que o feitiço é quebrado e Bela descobre que a Fera, na verdade, era o príncipe misterioso que encontrava apenas em seus sonhos.

A versão de Madame Beaumont

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Crédito: © Karin de Oliveira 2021

Dezesseis anos do primeiro conto, em 1756, Jeanne-Marie LePrince de Beaumont revisitou o trabalho de sua conterrânea francesa e deu uma enxugada na história, por assim dizer. Sem tantas reviravoltas (e enrolações desnecessárias e tediosas, segundo alguns especialistas), Madame de Beaumont reduziu a família de Bela pela metade e cortou também as fadas.

Nessa versão do conto de A Bela e a Fera, a jovem é mesmo a filha de um homem muito humilde que, voltando de viagem, rouba uma rosa de um jardim particular. O restante da história você já conhece: a Fera aprisiona o homem e só concorda em libertá-lo caso um de seus filhos tome o seu lugar.

A versão do conto chinês

O conto chinês, chamado A Serpente Encantada, fala de um pai de três meninas que sai em busca de flores para presentear suas filhas. Ao fazer isso, adentra o jardim de uma serpente que fica irada com a invasão do homem, forçando-o a prometer uma de suas filhas em casamento como maneira de reparar a desfeita, enquanto guarda jejum até que a união aconteça. Ao chegar em casa e ser questionado pelas filhas a respeito do comportamento estranho, o homem confessa o que aconteceu, e a filha caçula concorda em ficar com a serpente.

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Depois de um tempo cuidando da casa e do marido, um dia a menina percebe que a serpente está passando sede e vai até ela para oferecer água. O gesto quebra o feitiço e o réptil, então, se transforma em um belo príncipe.

A versão sul-africana

O conto africano A cobra de cinco cabeças é bem parecido com a versão chinesa. A filha mais nova de um homem muito simples, trabalhador e humilde, se casa com uma serpente de cinco cabeças e passa a executar, sem se queixar, todos os trabalhos do lar e do casamento. Provando que seu coração é livre de orgulho e vaidade ao servir seu esposo, ela quebra a maldição e liberta do corpo em forma de serpente um valente guerreiro que estava aprisionado por um feitiço.

A versão norueguesa

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Crédito: http://www.artpassions.net/dulac/dulac.html

O conto norueguês, chamado Leste do Sol, Oeste da Lua, fala de uma jovem que é oferecida pelo próprio pai para que se case com um urso polar gigante em troca de riquezas e poder. Durante o casamento, a garota suspeita de algo estranho, pois quem se deita para dormir ao seu lado é um homem, e não um urso.

Um dia, curiosa, ela acende uma vela e descobre um belo príncipe ao seu lado em vez da fera que estava esperando. O príncipe, que se despia das peles de urso todas as noites antes de dormir, fica revoltado com a jovem e vai embora, mas ela consegue reconquistar sua confiança depois de realizar uma série de desafios.

Possível inspiração real: Pedro González

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Existe uma chance bastante real de que o conto de fadas original de a Bela e a Fera tenha sido inspirado na história de um homem chamado Pedro González. Ele nasceu na Espanha, em 1537, e tinha uma síndrome que hoje conhecemos como hipertricose, que provoca o crescimento excessivo de pelos por todo o corpo, incluindo mãos, pés e rosto.

Por suas características físicas, Pedro teria sido “dado de presente” para o rei da França, Henrique II, visto que ele “colecionava” em sua corte pessoas incomuns. Depois de anos sendo tratado como um animal, Pedro passou a ser instrumento de um experimento social.

Seu nome foi trocado para Petrus Gonsalvus, ele recebeu roupas novas, e foi educado para se comportar como um verdadeiro nobre. Depois da morte do rei, a rainha Catarina fez Petrus se casar e ter filhos, na expectativa de que sua condição rara pudesse ser transmitida também para as crianças.

A escolhida para se casar com Petrus foi a filha de uma das criadas da rainha. Com ela, Petrus teve sete filhos, quatro dos quais nasceram com a mesma condição do pai. Ainda que os relatos indiquem que o relacionamento dos dois era harmonioso, todos eram tratados como propriedade da rainha e, por isso, os filhos com hipertricose foram presenteados a outras cortes da França.

Animação e live-action da Disney

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Crédito: Disney/reprodução

A animação de a Bela e a Fera da Disney, de 1991, e o live-action lançado em 2017 foram baseados na versão mais curta do conto de fadas, de autoria da Madame de Beaumont. As principais diferenças entre a história da escritora francesa e dos estúdios Disney são o personagem Gaston – que funciona tanto para dar mais emoção à história quanto para mostrar que nem tudo o que reluz é ouro, e também os móveis e objetos do castelo, que cantam, dançam e oferecem conselhos, sempre buscando ajudar os dois protagonistas a encontrarem, enfim, o seu felizes para sempre.