O Clube Quindim acredita na importância de se apresentar diferentes visões de mundo desde as primeiras leituras, e assim ampliar o universo do leitor. A literatura de temática indígena contribui nesse papel, pois promove a percepção da pluralidade cultural brasileira, desenvolve competências leitoras de textos de diferentes características, valoriza obras de diferentes tradições e visões de mundo e nutre o diálogo intercultural.
Por isso, no mês de abril – um mês comemorativo ao livro –, temos contos de fadas, mas o maior destaque dos livros selecionados por nossos curadores foram os que abordassem a temática indígena, já que no dia 19 de Abril é o Dia dos Povos Indígenas.
Estima-se que na chegada dos europeus ao Brasil, em 1500, havia 1.175 línguas indígenas. A grande maioria dessas línguas está extinta, sobreviveram apenas cerca de 274 línguas indígenas em todo o território brasileiro. Você sabia que me 2008 foi criada a Lei 11.465, que inclui no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”?
Seleção de livros do mês de abril, com destaque para a literatura indígena
Pré-Leitor
Tapajós
Nesta obra de Fernando Vilela, acompanhamos o cotidiano de Cauã e Inaê, que vivem em um vilarejo às margens do rio Tapajós. Eles moram em uma casa de palafitas, e o tempo é marcado pela estação das chuvas, quando eles têm de se mudar de casa. Além da narrativa do texto, há muito para se ver e conhecer sobre a vida das personagens nas ricas imagens do autor. Vilela apresenta nos detalhes da vegetação característica, nas roupas dos personagens, nas redes onde eles dormem, nos animais etc. Tudo isso compõem a nossa rica cultura e natureza brasileira.
Pé–de–bicho
Em forma de lengalenga, a diversidade da nossa flora aparece neste delicioso conto acumulativo chamado Pé-de-bicho, em que cada bicho que surge na árvore se transforma em um convite para explorar a ilustração. E se no começo é fácil encontrar os animais, ao longo da leitura vai se tornando cada vez mais desafiador! Livros de procurar, do estilo Onde está Wally?, são comuns nas mais variadas faixas etárias e permitem a exploração das imagens, fazendo com que muitas vezes o leitor descubra nas ilustrações muitos detalhes que passariam despercebidos.
Leitor Iniciante
Abaré
Este livro de imagem narra um dia de um índio mati e seus abarés (amigos). Os matis têm grande amor pela floresta e pelos animais, e para eles todos são abarés! A obra Abaré traz muitos animais da fauna brasileira. Em uma leitura compartilhada, é importante nomear com a criança os animais que aparecem na imagem, em um exercício de memória e linguagem. Nomes de origem indígena são desconhecidos por muitos brasileiros. Sofremos grande colonização cultural, temos “ursos” de pelúcia (mesmo não tendo urso de verdade no Brasil), mas por vezes pouco conhecemos da diversidade maravilhosa de nossa fauna.
Falando Tupi
Logo no início do livro Falando Tupi, o escritor Yaguarê Yamã se apresenta ao leitor e propõe um diálogo direto por meio de perguntas e respostas. Essa brincadeira cria uma certa curiosidade no leitor, que identifica em algumas palavras usadas no dia a dia a origem tupi. Você sabia que em tupi o Brasil se chama Pindorama? O ilustrador Geraldo Valério criou uma belíssima narrativa visual para esta história com o contraste dos recortes e colagens super coloridas no fundo branco. Essa técnica proporciona ao leitor uma sensação tridimensional das imagens do livro. Uma obra que diáloga com a cultura oral, que respeita e valoriza o convívio harmônico entre o homem, o animal e a natureza.
Leitor Autônomo
O pássaro encantado
A avó possui um papel muito importante na perpetuação da sabedoria e tradição de um povo. Como a figura feminina está muito associada ao cuidado dos mais novos, ela se torna em muitas culturas a responsável pela transmissão de costumes, memórias e ensinamentos que são levados por toda a vida.
A escritora indígena Eliana Potiguara narra uma história sobre luto, memória e ciclos, transmitindo a sabedoria, importância, magia, força e autoridade características das avós, mulheres que detém o conhecimento da história dos povos. As ilustrações de Aline Abreu trazem muitas informações que as palavras não apresentam. As formas e cores na obra O Pássaro Encantado contribuem bastante para ambientar a história.
Os pequenos verdes & outras histórias
Esta obra traz uma coletânea de contos clássicos do autor dinamarquês Hans Christian Andersen, considerado o pai da literatura infantil. Nesta edição foi respeitada sua liberdade poética e senso de humor. Aqui crianças e jovens não são tratados como menores e a literatura abraça a vida como ela é: com momentos de melancolia, sem moral da história e nem obrigação de final feliz.
A obra foi organizada e ilustrada pela premiada ilustradora austríaca Lisbeth Zwerger (ganhadora do Prêmio Hans Christian Andersen, em 1990 – o Nobel da Literatura infantil). Lisbeth faz parte do time dos ilustradores mais originais e imaginativos de nosso tempo. Sua estética suave e irreverente sensibiliza e atrai todas as idades.
Leitor Fluente
Chapeuzinho Vermelho
Este livro, em formato leporello (sanfonado) apresenta uma versão contemporânea e bastante divertida do tradicional conto Chapeuzinho Vermelho. A história ganha maior deleite se o leitor já conhecer uma das versões dos consagrados escritores Charles Perraul ou Irmãos Grimm já que este livro desconstruí, com muito humor, a aventura desta menina. Um olhar alinhado com o mundo contemporâneo sobre todos os personagens e elementos da narrativa. O formato leporelo proporciona uma leitura fragmentada da ilustração, por página dupla, ou como uma única imagem, quando o livro fica todo desdobrado.
Além disso, o formato ajuda na divisão do livro em duas partes, a primeira com a apresentação da versão contemporânea dos personagens, e a segunda com a releitura da história de Chapeuzinho Vermelho.
As serpentes que roubaram a noite
Esta obra traz uma antologia de mitos da tribo Munduruku, da qual faz parte o autor da obra. Através da voz do avô, o livro explica, por meio de narrativas simbólicas, de onde viemos, de onde vieram os cães, por que serpentes são venenosas e outras questões do mundo e do povo munduruku. O mito é uma narrativa simbólica, relacionada a uma cultura, que busca explicar a origem das coisas. Os mitos alimentam desejos e imaginação coletiva, e muito pode se descobrir sobre um povo ao conhecê-los. Para ilustrar esses mitos nada melhor que o olhar e o traço das crianças do povo Munduruku que desde muito pequenas ouvem essas histórias.
Conheça mais sobre os livros entregues pelo Clube de Leitura Quindim em 2017 e 2018. Faça parte de nosso clube e ajude a transformar o Brasil em um País de leitores!
*Imagem de capa retirada do livro Falando Tupi, de Yaguarê Yamã e Geraldo Valerio.
Adorei, Clube de LeituraQuindim
Um abraço de rinoceronte, Daniela ?❤️