Raras vezes nos contos tradicionais ouvimos a voz de Chapeuzinho Vermelho. Quando muito, pelo diálogo dela com o lobo da floresta, sabemos que a menina costumava andar cabisbaixa e cheia de cuidados, sem ver os verdadeiros encantos da natureza, o perfume das flores ou o baile das borboletas com a luz do sol cortada pela folhagem alta das árvores. Ora, essa Chapeuzinho ingênua e triste é uma personagem dos séculos XVII ou XIX. Outra Chapeuzinho inteligente e conectada ao mundo de hoje, com certeza, curtiria muito mais os passeios pela floresta nas diferentes estações do ano, saberia escolher os melhores morangos, mirtilos e framboesas doces e ácidos para uma geleia de frutas vermelhas, além de conhecer bem o hábito dos lobos em viverem em alcateias e o tanto que desagrada a eles o sabor de carne humana!
Com bastante humor e informação, a Chapeuzinho Vermelho do quadrinista Sergio García Sánchez e Lola Moral é uma personagem múltipla que tem um quarto no sótão, um gato chamado Flú, uma avó mais sábia que a Enciclopédia Britânica e conhece o Senhor Lucas que não é lenhador, nem caçador, mas um verdadeiro marinheiro do verde das montanhas...
Além dessas e outras mudanças sobre os atores do velho conto, este livro de Chapeuzinho Vermelho é apresentado no formato leporello, sanfona ou livro biombo de grandes proporções. As ilustrações são realizadas para impressão em duas cores, juntamente ao traço preto cartunesco, o que carrega de dinamismo as muitas vezes que os personagens aparecem em uma só cena. De um lado, encontramos a nova personagem apresentando a si mesma, seus parentes e hábitos, deixando bem pouco espaço para o lobo declarar alguma coisa; do outro lado, acompanhamos a narrativa tagarela de uma menina que hoje domina a sua história e nos mostra quão ridículo é um lobo vestido de velha!