Além do mundo desafiador do Patinho Feio e do perseverante Soldadinho de Chumbo, outros contos escritos por Hans Christian Andersen guardam uma simpatia pelos seres e coisas pequenas, minúsculas, quase imperceptíveis no corre-corre da vida. Onze narrativas do autor foram selecionadas pela própria ilustradora Lisbeth Zwerger e são apresentadas na versão integral dos textos publicados entre 1835 e 1867, com um timbre romântico e rebuscado. Este é um livro que exigirá um ritmo de leitura mais delicado — como se as palavras pintassem quadros em câmara lenta e aquarela.
A fim de atrair um público mais experiente e crianças de um mundo veloz e digital, a seleção traz alguns contos amplamente mais divulgados, em meio a outros que permaneceram inéditos para certos leitores. Basta lembrar as desventuras da Polegarzinha; a exagerada sensibilidade de A princesa e a ervilha; o canto melodioso ouvido tão distante de O rouxinol; o riso que denuncia o ridículo de Os novos trajes do imperador; a intensa fragilidade de A menina dos fósforos. São narrativas carregadas de magia e tristeza, mas também um forte sentimento de esperança.
Talvez a novidade fique agora por conta de conhecermos o cuidadoso João Pestana que inventa histórias para os meninos dormirem e viajarem (mas apenas os bem comportados ou ainda corrigíveis); o truculento trato de uma bruxa matreira com um soldado ganancioso que desce às profundezas da terra para dar a ela O isqueiro mágico; uma divertida disputa entre os senhores Pulga, Gafanhoto e o Osso Pula-Pula, no conto Mestres do salto; a visita inesperada de O menino travesso na casa de um poeta numa noite de temporal; um príncipe muito pobre porém esperto que é O porqueiro imperial e vive a cantar a balada “Ai, querido Augustin” para por todo mundo para dançar; por fim, Os pequenos verdes que vivem nas roseiras e são tratados como gado pelas formigas, mas, mesmo assim, diz uma fada ao poeta, devem ser chamados por seus verdadeiros nomes...