As histórias em quadrinhos infantis são apaixonantes e servem tanto como porta de entrada para o universo da leitura como uma nova estrada a ser percorrida dentro dele.
Ah, as histórias em quadrinhos para crianças. Embora elas existam por todo o mundo, nós, brasileiros, somos muito privilegiados neste sentido. Afinal, as tirinhas da Turma da Mônica, do genial Mauricio de Souza, alegram crianças, jovens e adultos desde 1959!
Também temos ótimas memórias de várias outras séries de histórias em quadrinhos, como Pato Donald, Zé Carioca e Tio Patinhas, além daquelas voltadas aos que são um pouco mais velhos, como Homem Aranha, Vingadores, Batman, Liga da Justiça e afins.
É só ler esses nomes que já somos transportados para a infância, quando íamos até a banca de jornal comprar nossos gibis preferidos ou esperávamos até que nossos pais, tios, avós ou responsáveis os trouxessem com eles assim que chegavam em casa.
É verdade que as crianças de hoje em dia ainda gostam de histórias em quadrinhos, mas a relação não é a mesma em boa parte dos casos. Portanto, é nosso papel incentivar a leitura das HQs infantis!
Além de serem divertidas, elas ainda trazem uma série de benefícios aos pequenos, o que pode influenciar diretamente no crescimento de seu vocabulário, no fortalecimento da memória e até mesmo em aspectos comportamentais.
Venha com o Clube de Leitura Quindim aprender mais sobre as histórias em quadrinhos infantis e juvenis e como elas são importantes para os pequenos, podendo, inclusive, se transformar em um hábito carregado também para a vida adulta, com histórias criadas especialmente para este público.
O que é história em quadrinhos?
Basicamente, as histórias em quadrinhos (ou HQs) são um tipo de arte sequencial, ou seja, uma forma de arte que recorre a imagens usadas em uma ordem específica para a narrativa gráfica ou a transmissão de informações.
Trocando em miúdos, são histórias contadas com palavras e imagens, as quais são colocadas dentro de quadrinhos (pequenos quadros), como o nome indica.
Nas histórias em quadrinhos, o texto e as imagens são indissociáveis. Ambos elementos se combinam para resultar nesse estilo tão amado e querido por pessoas de diferentes faixas etárias.
Qual é a origem das histórias em quadrinhos?
Essencialmente, a origem das histórias em quadrinhos está atrelada à origem da arte sequencial. Aqui, convidamos você para nos acompanhar em uma breve sequência histórica, tudo bem?
Quando olhamos sob o aspecto da arte sequencial, podemos encontrar uma série de referências, como as seguintes:
- Hieróglifos egípcios: combinam elementos alfabéticos, silábicos e logográficos e acredita-se que tenham se originado por volta de 3000 a.C.
- Frisos gregos: os espaços que ficam na parte superior do entablamento da arquitetura clássica, geralmente decorados com esculturas e inscrições. Há exemplos datados de 415 a.C., como o Templo de Hefesto, no centro da Atenas antiga.
- Escrita maia: sistema de escrita da civilização maia da Mesoamérica pré-colombiana que usa logogramas e glifos silábicos. As inscrições mais antigas datam do século III a.C.
- Coluna de Trajano: monumento em Roma construído sob a ordem do Imperador Trajano como forma de comemoração das campanhas militares contra os dácios. Foi construída entre 107 e 113 d.C.
- Iluminura: tipo de manuscrito suplementado com decorações, como letras capitulares, marginália e ilustrações em miniatura. Na definição estrita, o termo define apenas manuscritos decorados com ouro ou prata, mas tanto no uso comum quanto nos conhecimentos acadêmicos modernos, o termo é usado para qualquer manuscrito decorado ou ilustrado na tradição Ocidental. As primeiras iluminuras existentes são de 400 a 600 d.C.
- Tapeçaria de Bayeux: tapete enorme, com 70 metros de comprimento e 50 centímetros de altura, que descreve os principais eventos da conquista da Inglaterra por Guilherme II, da Normandia, além de fatos que antecederam a batalha. Acredita-se que tenha sido feito na Inglaterra, na década de 1070.
Já em um contexto mais “recente”, provavelmente, o primeiro exemplo seja o pintor e gravador brabantino Jeroen van Aken, pseudônimo de Hieronymus Bosch e também conhecido como Jeroen Bosch, que nasceu por volta de 1450 e foi sepultado em 9 de agosto de 1516.
Bosch pintou várias sequências narrativas, as quais podem ser consideradas como os protótipos dos quadrinhos, como as pinturas The Seven Deadly Sins and the Four Last Things e The Last Judgment.
Com o passar do tempo, nos séculos XVII e XVIII, as gravuras começaram a abordar aspectos da vida política e social, além de satirizar e caricaturizar. Um dos primeiros criadores britânicos de séries sequenciais de arte satírica foi William Hogarth (1697–1764).
Porém, foi no século XIX que vários elementos começaram a se transformar nas tirinhas da forma que conhecemos hoje, como os balões de diálogo, que começaram a ser usados para diálogos pelo autor e ilustrador Richard Felton Outcault (1863–1928).
Embora seja passível de discussão, é bastante aceito que a primeira revista em quadrinhos da história tenha sido a The Glasgow Looking Glass, publicada em 1826.
A publicação, que depois passou a ser conhecida como The Northern Looking Glass (em português, O espelho do Norte), satirizava os costumes e a política da época e tinha muitos elementos que compõem os quadrinhos modernos, como imagens com legendas que contam narrativas contínuas, balões de diálogo, sátira e caricatura.
Passado muito tempo, ficou comprovado como as HQs se tornaram um grande sucesso. De acordo com a 360 Research Reports, o mercado global de revistas de histórias em quadrinhos movimentou US$ 4,635 bilhões em 2019 e estima-se que este valor atinja US$ 4,686 bilhões no final de 2026.
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A história em quadrinhos no Brasil
Pode ser que você esteja pensando que o Brasil demorou para começar a produzir histórias em quadrinhos quando comparado com outros países, mas isso não é verdade!
De acordo com a Biblioteca Virtual de São Paulo, a origem das HQs no Brasil veio da vertente humorística da imprensa, em cartuns, charges e caricaturas, ainda no século XIX.
A primeira história em quadrinhos do Brasil foi publicada em 30 de janeiro de 1869, na revista Vida Fluminense. Criada pelo italiano Angelo Agostini, ela contava a história de Nhô-Quim, jovem caipira de 20 anos que visita a corte portuguesa no Rio de Janeiro.
Já a primeira revista em quadrinhos brasileira foi O Tico Tico, cujo primeiro número circulou em 11 de outubro de 1905. Depois de um ano, o sucesso já tinha se estabelecido, com uma incrível tiragem de 100 mil exemplares por semana.
A tiragem pode não parecer tão surpreendente hoje. Porém, de acordo com o IBGE, a população brasileira em 1912 era de 24,618 milhões de habitantes. Equivalendo aos dias de hoje, é como se a tiragem semanal estivesse em torno de 860 mil exemplares.
Um pouco adiante, em 1939, foi publicada a revista O Gibi. O nome era uma referência a uma gíria para menino (ou moleque) e trazia o personagem Charlie Chan na capa. A impressão era em preto e branco, mas algumas páginas eram impressas em vermelho e amarelo.
Inclusive, se você sabe o que é gibi, mas nunca soube o porquê desse nome, acabou de descobrir!
Em 1959, foi publicada a primeira tira de Maurício de Souza, do cãozinho Bidu. Com o passar do tempo, os outros personagens foram integrados à história, que sem dúvidas é a maior expressão de HQ brasileira.
Cabe ressaltar também que em 1960 foi lançada A Turma do Pererê, com texto e ilustrações de Ziraldo, outro personagem fundamental na literatura brasileira, e que trazia em suas páginas o personagem do folclore Saci Pererê.
Veja também: Histórias do Folclore brasileiro: ensine aos seus filhos e valorize a riqueza de nossa cultura
Quais são os benefícios da leitura de histórias em quadrinhos para crianças?
Além de serem histórias deliciosas de ler, as histórias em quadrinhos pra crianças ainda proporcionam uma série de benefícios aos pequenos. O site Reading Eggs separou alguns deles, e nós traduzimos para trazer para vocês. Confira:
1. Transforma leitores relutantes em leitores vorazes
Um dos maiores e mais claros benefícios dos gibis é que, para alguns leitores, eles podem ser mais atrativos de ler que os livros tradicionais, o que é um prato cheio para crianças que, de outra forma, não tinham tanto interesse em leitura.
2. Aumenta a inferência dos pequenos
A observação se refere a ver algo que está acontecendo, enquanto a inferência diz respeito a perceber algo baseado em evidências e raciocínios. Este é um componente importante para uma compreensão bem-sucedida e uma habilidade valiosa para os pequenos.
As histórias em quadrinhos podem aumentar a capacidade de inferência dos pequenos por encorajá-los a “ler nas entrelinhas”, ou seja, conseguir entender o que as imagens querem dizer.
Crianças que leem gibis geralmente precisam inferir o que não foi escrito pelo narrador, o que as ajuda a desenvolver essa habilidade. Além disso, as HQs ajudam os pequenos a se familiarizarem com sequências e a entender uma linguagem direta e sucinta.
3. Amplia o vocabulário
Quando se pensa em uma história em quadrinhos, nem todos consideram o grande volume de palavras usadas em todas as páginas ou a oportunidade de fortalecer as habilidades de vocabulário.
As HQs dão às crianças uma oportunidade única de adquirir novos vocabulários em combinação com o contexto, ou seja, informações das fotos e de outras partes do texto, o que as ajuda a decifrar o significado de palavras que ainda não conhecem. Você também pode conferir em nosso blog outros benefícios da leitura que vão muito além de aumento de vocabulário
Veja também: Benefícios da leitura: muito além de aumento de vocabulário
4. Dá mais confiança aos leitores
Os quadrinhos não intimidam tanto leitores que ainda não estão muito confiantes com a leitura como acontece com uma página que tem apenas texto. Geralmente, as frases são curtas e fáceis de ler, junto de outras dicas visuais e de texto, como as onomatopeias (barulho de portas batendo ou algo caindo no chão).
Eles também são bons para quem tem dificuldades de aprendizagem. Crianças com autismo podem aprender a identificar as emoções dos personagens que aparecem nas páginas, enquanto as crianças com dislexia podem ter uma sensação de dever cumprido ao ler páginas menores, que geralmente demora muito nos livros comuns.
Sem dúvidas, essa satisfação também é ótima para aumentar o amor pela leitura.
Veja também: Dislexia infantil – O que é e como identificar?
5. Pode ser uma companhia valiosa para o aprendizado de outras disciplinas
Com tanta variedade de gibis, de eventos históricos a contos clássicos, passando pela natureza, vida selvagem, relacionamentos positivos e afins, sua leitura pode ser um complemento valioso para diferentes áreas do conhecimento.
Por exemplo, se a criança está aprendendo sobre o Egito Antigo, uma história em quadrinhos que se passe nesse contexto pode ajudar a explicar detalhes importantes, como roupas, alimentos, rituais, agricultura, construção, comércio e costumes culturais e sociais, por exemplo.
Com a combinação de palavras e ilustrações, as crianças podem compreender o panorama mais facilmente e com mais entusiasmo do que se usassem apenas livros didáticos ou informativos.
6. Ampla variedade de gêneros e tópicos
Diferente do que se pode pensar, as histórias em quadrinhos não se resumem apenas a super-heróis e vilões, além de certamente não serem destinadas apenas aos meninos.
As HQs estão disponíveis em vários gêneros, como drama, comédia, ficção científica e fantasia, pensadas para vários gostos literários, idades e níveis de leitura.
Além das HQs, também há as Graphic Novels (ou romances gráficos), que são como HQs publicadas no formato de livros. Geralmente, elas são mais densas e possuem um maior número de páginas, além de terem a parte gráfica bastante valorizada, com páginas mais grossas e com maior qualidade.
Um exemplo de Graphic Novel é Maus: a história de um sobrevivente, de Art Spiegelman. O quadrinho retrata Spiegelman entrevistando seu pai, judeu polonês e sobrevivente do Holocausto, e relata suas experiências.
A obra, inicialmente publicada na revista Raw entre 1980 e 1991, mas com dois volumes publicados em 1986 e 1991, respectivamente, é a única história em quadrinhos a receber o conceituado prêmio Pulitzer. Você pode conferir mais em nosso blog sobre as competências que a HQ desenvolve na criança.
Veja também: HQ, 5 competências que as histórias em quadrinhos desenvolvem nas crianças
Histórias em quadrinhos para crianças: verdadeiras riquezas culturais e literárias
Com mais de 190 anos de existência em um formato mais próximo ao que temos hoje, mas com origens históricas que datam de mais de cinco milênios, as histórias em quadrinhos são manifestações de arte sequencial que aliam a literatura à ilustração.
Além de estarem disponíveis em uma ampla gama de assuntos, elas ainda podem ser uma porta de entrada para quem não é muito fã de leitura ou ainda não domina tanto essa habilidade, embora também possa ser consumida por pessoas de todas as idades.
Como se não bastasse, as histórias em quadrinhos infantis também permitem que nós, adultos, compartilhemos com nossos filhos, netos, sobrinhos e outras crianças algumas das histórias que líamos quando menores, em um delicioso exercício nostálgico.
A partir de hoje, olhe para elas com ainda mais carinho. Afinal, além de carregarem tanta história, elas servem tanto como complemento aos livros do clube de leitura do Quindim quanto como um incentivo para ajudar a construir o amor pela leitura, superimportante e que deve ser desenvolvido desde a infância!