Os meses de janeiro e julho são marcados pelas férias escolares. Isso significa mais tempo das crianças em casa e, muitas vezes, com a sensação de não ter o que fazer. Enquanto isso, muitos pais continuam com suas rotinas de trabalho, o que pode tornar esse período um verdadeiro desafio: conciliar as demandas do dia a dia com a tarefa de entreter as crianças parece ser uma missão exaustiva. Mas será que é mesmo indispensável? As crianças precisam estar ocupadas o tempo todo? Elas precisam ser constantemente guiadas e gerenciadas?

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Foto: Canva

A comunicação das crianças pequenas é diferente da dos adultos, pois elas, em geral, necessitam de algum nível de apoio ou mediação dos adultos cuidadores para se expressarem ou compreenderem determinadas situações. “Só que nem sempre eles vão ter disponibilidade de tempo ou emocional para isso, o que acaba deixando-os frustrados, achando que precisam entreter o filho”, reflete Bárbara Catarinnâ, psicóloga infantil e familiar.

Catarinnâ, no entanto, explica que, quando os cuidadores não estimulam a criança a se entreter sozinha, surge um primeiro problema: mesmo após crescer, ela continuará demandando cuidados dos pais como se ainda fosse pequena. No entanto, um desenvolvimento saudável busca incentivar a capacidade das crianças de se tornarem independentes, dentro do que é apropriado para cada faixa etária.

“O ambiente é muito importante para que os pais e filhos consigam se expressar da melhor maneira possível. Em outras palavras, se há um local seguro, onde os adultos não precisam ficar com medo e vigiando a criança, isso facilita o processo para que ela explore livremente o espaço”, esclarece a psicóloga infantil e familiar.

Nesse ambiente seguro, o pequeno consegue brincar no tempo dele. Ele terá seu momento de observar o entorno, decidir o que quer fazer e estimular a própria criatividade para transformar o brinquedo, objeto de experiência ou atividade escolhida em diversão.

Veja também: “Posso fazer sozinho!”: como os pais podem estimular a autonomia infantil desde cedo

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Os prejuízos de entreter as crianças o tempo todo

Catarinnâ explica que, quando a criança não tem liberdade para agir por conta própria, os principais impactos são na sua capacidade de pensar de forma autônoma e, consequentemente, desenvolver a própria independência.

“Quando a criança depende do outro, o tempo inteiro, para iniciar uma brincadeira, se manter entretida ou ter uma ideia, isso dificulta que ela desenvolva habilidades de solucionar problemas e, principalmente, de saber aproveitar a própria companhia”, reflete a especialista.

A longo prazo, essa dependência em relação ao outro na infância pode acarretar em um adulto que sempre depende da opinião de terceiros para realizar algo, o que pode ser associado à insegurança e, consequentemente, baixa autoestima.

Esse tipo de comportamento também pode levar a quadros de ansiedade e depressão, pois o indivíduo pode ter dificuldade em gerenciar desafios, sentir um vazio diante do tempo livre ocioso e não saber como aproveitar a própria companhia. Na prática, estar sozinho acaba se tornando uma experiência angustiante.

“O ócio é fundamental para o desenvolvimento da independência, autoconfiança, da capacidade do ser humano criar e, principalmente, se desenvolver emocionalmente, conseguindo lidar com a própria vida e solidão de uma maneira independente”, reforça Catarinnâ.

Veja também: A importância do tédio para a saúde e a criatividade

Como ajudar a criança a lidar com o tempo livre sozinha?

Ainda que seja importante o pequeno vivenciar o tempo de ócio e saber extrair o possível dele, isso não significa que ele trilhará essa jornada sozinho. Afinal, ainda estamos falando de uma criança. Mas é possível que a intervenção seja mínima para apenas ajudá-la a dar o primeiro passo e, então, ela seguir o próprio caminho. A seguir, veja como fazer isso!

1. Gerencie o tempo de telas da criança

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A discussão sobre o uso de telas está longe de um fim e é preciso que os pais estejam cientes dos desafios que essa geração enfrenta com o consumo excessivo. Contudo, é importante destacar que as telas em si não são inimigas, desde que utilizadas com moderação e com educação midiática, tanto por parte dos pais quanto das crianças. Hoje já se sabe que, em excesso, o uso dos aparelhos eletrônicos pode acarretar problemas de visão, distúrbios de sono, dificuldades de aprendizagem e até impactos no desenvolvimento infantil.

Como pontua Catarinnâ, “quando a criança não está ocupada, ela nos ocupa. E, muitas vezes, não temos disponibilidade de tempo e, cada vez menos, emocional para estar com elas”. Com isso, o adulto acaba recorrendo às telas para ocupar o tempo dos pequenos.

No entanto, a psicóloga infantil e familiar reforça a importância dos pais gerenciarem o tempo de telas dos filhos. O consumo da televisão, celular e tablet é extremamente passivo, o que acaba sendo uma distração para o pequeno em que ele não tem nenhuma habilidade motora estimulada.

Assista no Instagram: Como tornar a relação das crianças com as telas mais saudável?

2. Construa um ambiente seguro para a criança

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Não é necessário transformar um cômodo inteiro em uma brinquedoteca, mas é essencial que a criança tenha um espaço definido, seguro e com recursos disponíveis para brincar livremente.

O excesso de brinquedos também não é necessário, pois a bagunça dificulta a organização mental da criança durante o brincar. O mais importante é o direcionamento: conhecer os interesses do pequeno ou pequena, sabendo o que o entretém verdadeiramente. Por exemplo, se ele gosta de quebra-cabeças, disponibilize duas ou três opções para que ele escolha qual quer montar naquele dia e aproveite o momento de diversão.

3. Incentive o hábito da leitura

Ferias e preciso entreter as criancas o tempo todo Incentivo leitura
Foto: Canva

Os livros oferecem ao leitor a oportunidade de conhecer novos mundos e ampliar conhecimentos, estimulando profundamente a criatividade. Por isso, incentivar a leitura durante os momentos de ócio das crianças é uma estratégia valiosa para mantê-las entretidas de forma ativa e enriquecedora.

A leitura também aprimora a interpretação de textos, fortalece a concentração, estimula o raciocínio, enriquece o vocabulário e ajuda a reduzir o estresse e a ansiedade. Tudo isso ajuda a criança a perceber que o entretenimento pode ter diferentes camadas: não precisa ser sempre intenso. Parar, respirar e dedicar um momento à leitura de um livro também é uma forma valiosa de se divertir e relaxar.

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4. Proporcione momentos da criança na natureza

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A conexão com a natureza é uma excelente forma de ajudar a criança a se sintonizar com o presente, lembrando tanto os pequenos quanto os adultos da importância de desacelerar para observar e ouvir a vida ao redor. Além disso, as atividades ao ar livre ensinam que se entreter é mais simples do que se pensa. Às vezes, basta deitar na grama e admirar o céu ou correr livremente num espaço aberto.

Quando essas brincadeiras acontecem em grupo, também há o desenvolvimento social da criança, estimulando sua criatividade e a habilidade de resolver impasses e conflitos com os outros.

Veja também: Brincadeiras fora das telas: preservar tempo e espaço para atividades é fundamental

5. Tenha tempo de qualidade com o pequeno

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Catarinnâ explica que, mais importante do que dedicar horas infindáveis à criança, é fundamental que os pais estabeleçam momentos de qualidade com os filhos. Na prática, isso significa que é mais valioso estar com os pequenos por um período mais curto, mas completamente presente e inteiros, do que passar horas com eles divididos em outros afazeres, como ler um e-mail do trabalho, fazer almoço ou realizar muitas tarefas ao mesmo tempo, algo muito comum entre pais, enquanto cuidam dos filhos.

“Quando se nutre momentos de alta conexão e qualidade, a criança tende a demandar menos, porque os pais já nutriram a presença [que os filhos necessitam]”, reflete a psicóloga infantil e familiar.

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