Quando pensamos em Carnaval, o Brasil vem logo à mente. A festa é tão popular e tão enraizada em nossa cultura, de norte a sul, que parece até que nasceu por aqui. Mas não é bem assim: a festividade é europeia e foi trazida pelos portugueses no período colonial e, ao longo do tempo, foi sendo moldada pelas influências culturais de cada região do mundo. Suas raízes passam por diferentes celebrações, como os bailes de máscara das realezas europeias, as festas cristãs que antecedem a Quaresma, os rituais babilônicos e até as festividades romanas do solstício.

O Carnaval que conhecemos hoje no Brasil é o resultado de uma grande fusão dessas tradições com os costumes e expressões culturais indígenas, africanas e de outros povos que compõem nossa identidade.

Hoje, temos bailes, blocos, desfiles, escolas de samba….E a pluralidade das regiões do país fez com que cada local desse seu toque especial para a festividade, com músicas e danças próprias, formando um espetáculo diverso e cheio de identidade em cada canto do Brasil. Vamos conhecer essas diferentes formas de festejar a data?

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Foto: Canva / Arte: Clube Quindim
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1. SUDESTE

O Carnaval na região sudeste é um dos mais famosos do país. Ele se destaca pelos desfiles das escolas de samba, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo.

A folia que se estende pelas ruas dos estados da região, com blocos para todos os gostos, também merecem atenção. Além dos sambas-enredo na avenida, as ruas são tomadas por trios elétricos e bandas de marchinha que espalham alegria por cada bairro das cidades.

Nos blocos e também salões, as fantasias vão da criatividade do folião, passando das modernas e instagramáveis para as mais clássicas, quase centenárias. Segundo Luciana do Rocio Mallon, professora de literatura, redação, história e folclore, a mais tradicional nesse quesito é a bate-bola ou Clóvis — um tipo de palhaço mascarado que carrega bolas feitas de meias.

Essa fantasia surgiu em Veneza, na Itália, no século XVII. Os italianos usavam máscaras brancas e charmosas para aproveitar a festa carnavalesca. No entanto, apenas o apetrecho claro era permitido, pois o escuro era considerado disfarce do demônio.

“Só que arruaceiros e assaltantes começaram a ser combatidos por homens com fantasias coloridas e  que carregavam bolas feitas de bexigas. Na época, ingleses que visitavam a Itália, no Carnaval, passaram a chamar essas pessoas de ‘clowns’. Já os italianos apelidaram a fantasia de Clóvis”, explica Mallon. O conceito da vestimenta chegou ao Brasil por meio dos imigrantes italianos no final do século XIX e início do XX e, desde então, se popularizou na festa carnavalesca da região sudeste.

2. Nordeste

O nordeste é, provavelmente, a região com o Carnaval mais famoso e que atrai turistas de todos os lugares no mundo. E isso não é por acaso: há muita história por trás dessa grande celebração.

“Na Bahia tem os trios elétricos e também blocos como o Afoxé Filhos de Gandhi, que desfila no Carnaval há mais de 70 anos”, exemplifica a professora de folclore. Já em Pernambuco, o destaque fica para o frevo. A dança surgiu no século XIX a partir da competição de dois grupos: os militares e os escravizados que tinham sido libertos.

“Reza a lenda que, em um dos carnavais, uma banda de marinheiros se encontrou com uma de ex-escravizados. Só que como estava chovendo, os participantes dos dois grupos pegaram sombrinhas dos espectadores e, de uma forma divertida, começaram a brincar. Dançaram com o apetrecho de forma frenética”, relata Mallon.

No começo, o frevo era dançado com sombrinhas de tamanhos normais em referência a essa lenda. Com o passar do tempo, as sombrinhas menores foram ganhando espaço porque facilitavam os movimentos dos bailarinos. Já o nome “frevo” foi escolhido pelo jornalista Osvaldo Oliveira após ouvir frases como “ficarão com febre porque estão dançando na chuva” e “esses dançarinos parecem que estão fervendo” da multidão que via as pessoas dançarem com suas sombrinhas.

“Outra dança do Carnaval pernambucano é o Maracatu, que surgiu no período colonial brasileiro. Ele tem influências africanas, indígenas e portuguesas. Tradicionalmente, ele reflete a celebração do rei do Congo”, relata Mallon.

Os bonecos gigantes de Olinda também são uma tradição importante do Carnaval nordestino. Eles foram implementados pelos imigrantes portugueses. O primeiro mais famoso foi o Zé Pereira, em 1919. O segundo foi criado 20 anos depois, o Homem da Meia-Noite, e, desde então, a confecção deles não parou.

3. Norte

O Carnaval na região norte é marcado pelo carnoboi, festa popular que reúne o show carnavalesco e as toadas dos dois principais boi-bumbás: o Garantido (cor vermelha) e o Caprichoso (cor azul), em um folclore carregado de tradição e valorização da regionalidade.

Veja também: Bumba meu boi: conheça a história deste tradicional folguedo

Ainda no Amazonas, no Centro Histórico de Manaus, há um desfile de fantasias, que atrai competidores internacionais. A capital do estado brasileiro também tem dois blocos importantes: Banda do Boulevard e Galo de Manaus. Segundo Mallon, Porto Velho tem 35 dias de Carnaval com mais de 16 blocos.

“A segunda dança mais pedida pelos turistas da Região Norte depois do Bumba-Meu-Boi é o Carimbó, em que moças dançam com saias rodadas floridas e flores na cabeça. Há blocos especializados em Carimbó”, conta a professora de folclore.

No interior da região, há ainda o Lundun (também grafado como lundum), nome dado à dança e canto de origem africana que foram implementados com elementos portugueses, ciganos e indígenas. Há historiadores que dizem que o samba derivou do Ludun.

Como no Carimbó, as mulheres do Lundu dançam com saias longas, rodadas e coloridas, além de colocarem flores no cabelo. Todos esses detalhes contribuem para a dança ser envolvente.

4. sUL

“Pessoas desinformadas dizem que no Sul não existe Carnaval, mas isso é mentira”, frisa Mallon. Cerca de 25 dias antes do Carnaval em todo o Brasil, Curitiba, no Paraná, é palco do desfile do bloco Garibaldis e Sacis, que surgiu em 1990 para desmistificar que o sul não é uma região carnavalesca. É um evento que costuma homenagear figuras históricas da cidade.

Ainda na capital curitibana, acontece a Zombie Walk. Em uma mistura de Carnaval com Halloween, o evento atrai turistas no domingo do feriado nacional. “A caminhada acontece no centro de Curitiba e ela tem atrações como tendas com maquiagens artísticas, concurso Miss Zumbie Walk, perguntas sobre filmes de terror e concurso de fantasias para pessoas e animais”, relata a estudadora sobre o assunto.

Ainda trazendo jeitos inusitados de comemorar o Carnaval, em Florianópolis, Santa Catarina, há as festas carnavalescas que acontecem dentro de navios.

5. Centro-Oeste

O Carnaval na região centro-oeste pode ser celebrado em lugares privativos — como clubes que realizam blocos — ou na rua com bloquinhos e trios elétricos. “Alguns clubes, cerca de 25 dias antes do Carnaval oficial do Brasil, realizam uma festa pré-carnavalesca chamada Baile do Havaí com música pop, sertaneja, havaiana e marchinhas”, conta Mallon.

Vale saber também que em Caldas Novas, Goiás, o Carnaval traz exposições de bonecos carnavalescos gigantes para o público entrar no clima da festa e honrar a regionalidade.

“No interior do Centro-Oeste existe uma dança chamada Siriri, que também é dançada durante o Carnaval. Ela é folclórica e acompanhada por instrumentos como viola de cocho, ganzá e tamboril. As mulheres dançam com saias floridas, compridas e rodadas”, detalha a professora de folclore.

Estante QUindim

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Capa Frente A festa no ceu transparente e1719248870229
A festa no céu, de Angela Lago
Fevereiro (autora Carol Fernandes, editora Caixote)
Fevereiro, de Carol Fernandes
Bailinho (autor Carlos Eduardo Pereira, ilustrador Zansky, editora Baião)
Bailinho, de Carlos Eduardo Pereira e Zansky
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