Divórcio com filhos pequenos pode ser um grande desafio. Por isso, essa e outras mudanças que afetem a vida das crianças devem ser tratadas com bastante diálogo. Um dos livros selecionados pelo Clube Quindim aborda o tema, acima de tudo, de forma bastante sensível. Confira!
Se você pedir para alguém elencar os principais momentos de sua vida, é provável que todos eles envolvam uma grande mudança. Desde ter um filho, casar, separar-se bem como mudar de cidade. Mas transformar sua rotina ou sua rede de amigos de um momento para o outro não é algo simples. Imagine então como uma criança absorve esse tipo de revolução! Que pode abranger, por exemplo, uma mudança de casa, de escola, de cidade, a chegada de um irmãozinho ou irmãzinha ou a morte de alguém querido.
Uma das escolhas do Clube Quindim para o mês de julho, o livro Greg, o menino que morava em um trem, de Ana Luiza Badaró e Odilon Moraes, aborda essas questões com, sobretudo, sensibilidade. O personagem principal, Greg, mora com os pais em um vagão de trem. Tudo segue tranquilamente, mas os pais decidem morar em vagões diferentes. O menino então vê novas pessoas chegando ao seu trem a todo momento e aprende a conviver com todos esses novos personagens que fazem parte da sua trajetória. Contudo, constantemente o apego vira despedida e, aos poucos, Greg tem de se adaptar à vida longe dos amigos que passaram pelo trem.
Entre as mudanças que afetam os pequenos, uma se configura como cada vez mais comum no Brasil: o divórcio dos pais. Afinal, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados em dezembro de 2019 mostram que quase 47% das dissoluções de casamento no país foram de famílias somente com filhos menores de idade. A separação envolve não apenas pais em casas separadas mas toda uma nova realidade para a criança. Pode ser uma mudança de cidade de um dos genitores, a convivência com uma nova família que se apresenta, o nascimento de novos irmãos, entre outras. Mas os pais devem compreender que, mesmo separados, não deixam de ser os genitores dessa criança. Porém, para ela, ainda assim pode haver o sentimento de tristeza pela rotina da família não ser mais a mesma.
Diálogo e comunicação são as melhores estratégias para lidar com o divórcio com filhos
É importante que a criança participe de todos os passos da mudança (mesmo que ela não seja motivada por um divórcio, mas uma transferência da família de cidade, por exemplo), para que se sinta segura e confortável. E para que o rompimento da rotina anterior não seja algo tão doloroso. De forma prática, é fundamental que a criança entenda como será o novo processo, sua nova rotina. E, além disso, como a dinâmica familiar vai funcionar dali em diante.
Por isso, a comunicação entre pais e filhos deve ocorrer à medida que as decisões forem tomadas. A profundidade de informação, o nível de detalhes e, além disso, a forma como isso deve ser passado – de forma mais lúdica, objetiva – deve levar em conta a idade dos filhos. Pois cada período tem necessidades diferentes para entender as mudanças. No caso do divórcio, a Revista Crescer divulgou um guia para diferentes idades, a fim de conduzir o processo de transição.
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É preciso entender quais são os impactos para minimizá-los
Avaliar o impacto do divórcio na vida dos filhos não é tarefa fácil. Pois as consequências de uma ruptura sem diálogo podem trazer desdobramentos que se arrastam ao longo dos anos. Leila Maria Torraca de Brito, Mestre e Doutora em Psicologia e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), realizou uma pesquisa qualitativa com indivíduos que experienciaram a separação de seus pais, para tentar identificar então quais foram as mudanças em decorrência do rompimento conjugal. E principalmente como elas são percebidas pelos filhos ao ingressar na vida adulta.
Embora os entrevistados pela pesquisadora estivessem na faixa dos 20 anos, a separação aconteceu para cada um em idades diferenciadas, incluindo quando estes eram crianças ou adolescentes. Segundo de Brito, grande parte dos entrevistados não recebeu esclarecimentos sobre o ocorrido, ou um momento para que os pais pudessem conversar e responder dúvidas dos filhos. Assim, a comunicação do divórcio acontecia de forma unilateral, sem muitos detalhes. Muitas vezes dias após o transcorrido (a saída de um deles de casa, por exemplo).
A importância de incluir os filhos no processo
Outro dado levantado pela pesquisa é que muitas vezes num processo de separação corre-se o risco de desconsiderar os filhos como sujeitos de direito que possuem sentimentos e, além disso, necessidades próprias. “Na escuta dos que participaram da pesquisa, percebe-se que, para muitos, a separação não ocorreu apenas entre os pais. Mas estendeu-se ao relacionamento entre pais e filhos”, aponta a pesquisadora no documento. Uma das conclusões é que os filhos que continuaram com vínculo estreito com ambos, frequentando as duas casas, quando era o caso, tiveram desgaste emocional menor com o divórcio dos pais. Dessa forma, quando o contato diminui drasticamente com um deles, geralmente o pai, os impactos eram percebidos mesmo anos depois.
O importante é que, avaliando as necessidades de todos e estabelecendo uma nova dinâmica familiar que envolva na medida do possível as crianças nas decisões, com uma comunicação clara a todos os familiares, as reações tendem a ser mais positivas que negativas. No livro, a vida de Greg, assim como a metáfora do trem, vai seguindo sua rotina. Subindo e descendo colinas, com entrada e saída de pessoas com as quais ele aprende a conviver. A boa notícia é que o personagem encontra uma forma de manter o vínculo com todas as pessoas fantásticas que passaram pelo seu caminho e uma relação saudável tanto com o pai quanto com a mãe apesar da separação. Aprendendo também a lidar com suas emoções. Um livro interessante para começar uma discussão sobre o assunto!