O Clube de Leitura Quindim fala sobre a ansiedade infantil intensificada pela pandemia, seus efeitos e como lidar com ela de forma saudável.
Os tempos atuais pedem atenção à saúde mental. Nunca se falou tanto da importância de cuidar da mente, de fazer atividades que tragam realizações e felicidade. O tema, no entanto, não é amplamente discutido quando falamos das crianças. Nossos pequenos vivem momentos de muita ansiedade, assim como os adultos, e a pandemia ainda intensificou a ansiedade infantil.
Muitos, ainda sem entender ao certo o que aconteceu no último ano, se viram trancados em casa, longe das escolas, dos amigos, família, em um novo método de ensino à distância – isso quando essa condição de estudar on-line está dentro da realidade. Muitas crianças, infelizmente, estão sem aulas por falta de equipamentos e acesso à internet. Tudo isso pode causar alterações comportamentais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país mais ansioso do mundo, o que também se reflete na população entre 0 e 17 anos. Estima-se que 1% a 3% da população nessa faixa etária apresentam sintomas de ansiedade, o que corresponde a 8 milhões de crianças e adolescentes ansiosos.
Dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontam que todos os indicadores relacionados à infância retrocederam, após um ano da declaração da pandemia. Com o isolamento social, o número de crianças ansiosas aumentou. Um estudo do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), com 7 mil pais, apontou um número preocupante: 27% deles apontaram sinais de ansiedade infantil e até mesmo depressão. Para esclarecer algumas dúvidas sobre o assunto, o Clube Quindim conversou com o psicólogo Elder Frota Silva e vamos tirar algumas dúvidas sobre o assunto a seguir.
CLUBE QUINDIM: COMO A PANDEMIA INTENSIFICOU O QUADRO DE ANSIEDADE INFANTIL?
Elder Frota Silva: A pandemia tem representado um grande desafio para toda a sociedade, principalmente para as crianças, que têm sofrido imensamente com as medidas de isolamento social. É importante destacar que elas não possuem os mesmos recursos emocionais e adaptativos que os adultos para lidarem com essas mudanças. A socialização com outras crianças é fundamental nessa fase do desenvolvimento, em que elas estão construindo o seu repertório social a partir dessas interações.
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C.Q.: QUAIS SÃO OS SINTOMAS? COMO ENTENDER ATÉ QUE PONTO A ANSIEDADE INFANTIL É NORMAL?
E.F.S.: Não é tão comum se ouvir falar sobre transtornos de ansiedade em crianças nos meios de comunicação. No entanto, é importante notar que elas também estão suscetíveis a esse quadro conforme seus desafios crescem.
Em tempos sem pandemia, além do período em que passavam na escola, muitas delas ainda faziam aulas de reforço, balé, música, futebol, entre outras atividades que lhes exigiam disciplina e bom desempenho. No entanto, nem todas estavam aptas a lidar com essa rotina exaustiva e toda a expectativa criada ao seu redor, o que poderia resultar em frustração e em sintomas de ansiedade. Destacam-se entre os principais sintomas a dificuldade para dormir, a baixa no desempenho escolar, dores de cabeça frequentes, retraimento social, alteração no apetite, medo e preocupação sem motivo aparente, entre outros.
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C.Q.: QUAL A IMPORTÂNCIA DE FALAR COM AS CRIANÇAS SOBRE OS SENTIMENTOS?
E.F.S.: É essencial que os pais e responsáveis conversem com as crianças sobre o que elas estão sentindo. Acolhimento e escutar o que elas têm a dizer sem julgamentos são o caminho. Desse modo, os pequenos entendem que está tudo bem compartilhar os seus anseios, medos e inseguranças.
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C.Q.: A ROTINA É UMA ALIADA NA LUTA CONTRA A ANSIEDADE INFANTIL? POR QUÊ?
E.F.S.: A rotina é importante para que a criança aprenda a se organizar e a adquirir noção de responsabilidade, porém, ela também pode ser prejudicial se for muito rígida e fechada. Ela precisa compreender a utilidade e os benefícios que a rotina traz à sua vida em curto, médio e longo prazo. Quanto às atividades extracurriculares, vale a pena consultá-la sobre quais são as que lhe interessam e que correspondem aos seus anseios pessoais. Assim, os pais poderão planejar uma rotina funcional e, ao mesmo tempo, agradável para os pequenos.
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C.Q.: QUAIS SÃO AS SUAS DICAS ADICIONAIS PARA LIDAR COM A ANSIEDADE DAS CRIANÇAS?
E.F.S.: É essencial que os adultos compreendam a criança a partir do seu contexto, se atentando às mudanças de comportamento e de humor, por mais sutis que possam parecer. Afinal, esses sinais podem indicar sofrimento emocional, apesar de eles não conseguirem verbalizar isso de maneira clara, como se esperaria de um adulto. Para finalizar, eu aconselharia pais e responsáveis a estarem atentos e abertos ao que as elas comunicam, seja pela verbalização propriamente dita, pela expressão lúdica ou pelos sintomas físicos. Se os pais observarem alterações de humor recorrentes, ou alguns dos sintomas citados acima, devem buscar orientação profissional o mais rápido possível, para que a criança possa ter um desenvolvimento psíquico saudável.
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