O filho de Giovanna Ewbank foi diagnosticado com Transtorno do Processamento Sensorial (TPS), contudo, inúmeras crianças tais como ele também apresentam essa condição. Com isso, esse assunto importante, do qual poucas pessoas tinham conhecimento, veio à tona.

O TPS é uma condição neurofisiológica na qual a entrada sensorial (do ambiente ou do próprio corpo) é mal detectada ou mal interpretada. Sendo assim, uma criança com TPS sente dificuldade de processar o calor ou o frio, o cansaço, a fome, as luzes, e, por isso, sons e atividades simples podem ser desafiadoras.

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Para entender melhor esses casos, o clube de assinatura Quindim convidou para escrever este artigo a neuropsicóloga Jaqueline Sclearuc, mestre em saúde coletiva pela Unifesp, especialista no atendimento de crianças e adolescentes com dificuldades alimentares, TDAH, TOD e TEA. Especialista em Orientação de pais.

O TPS na prática

Era um domingo quando Davi acordou animado porque iria conhecer o palhaço do circo. Porém, assim que entraram no circo, a criança se agarrou na perna de sua mãe, começou a chorar, se jogou no chão e se recusou a entrar. A mãe relatou que estava perplexa com o comportamento do filho. Ele estava tão animado, como poderia fazer tamanha birra? O que será que aconteceu para uma criança que estava tão animada para conhecer o palhaço ter se recusado a entrar no circo?

A família do Rafael alugou uma casa de frente para a praia para passar o verão, mas o menino de 3 anos se recusava ir à praia. A mãe conta que era um estresse todo dia de manhã. A criança chorava, se jogava no chão, batia o pé. Os pais achavam que o filho se recusava a ir para a praia para ficar em casa e jogar no tablet. Tiraram o tablet e mesmo assim a criança permanecia irredutível. O pai, carinhosamente, convenceu o filho e o levou para a praia no colo. Rafa estava tenso e assim que seu pai o colocou na areia, paralisado, começou a chorar. Não houve acordo, retornou para casa.

Ana de 4 anos, além de birras intensas quando algo não saía como imaginava, os passeios de carro eram um verdadeiro tormento para a família. Recusava-se a usar a cadeirinha, se agitava muito, sem contar as noites mal dormidas, acordando com choros e berros sem motivo.

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Como é feito o diagnóstico?

Como psicóloga infantil, tenho me deparado com inúmeros “Davis”, “Rafas” e “Anas”. Muitos comportamentos que as crianças apresentam, se não existe uma causa fisiológica ou orgânica, é entendido como uma questão comportamental. Essas crianças têm sido taxadas como birrentas, mal-educadas, chatas, entre outros rótulos. Por isso, muitas pais e cuidadores têm procurado ajuda de psicólogos.

Nesses anos todos de prática no atendimento de crianças e adolescentes, pude ter um novo olhar para os comportamentos. Muitos comportamentos das crianças são respostas automáticas de estresse de informações percebidas pelo corpo.

Todo comportamento depende da percepção de informações provenientes do meio ambiente externo (sons, odores, luminosidade, cores etc.) e do meio ambiente interno, ou seja, informações do próprio corpo (fome e saciedade, sono etc.). Uma vez que essas informações são recepcionadas pelos órgãos dos sentidos, elas são enviadas para o cérebro para serem processadas e devolvidas como uma ação motora, ou seja, como um comportamento.

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O que vem acontecendo é que algumas crianças típicas têm tido uma percepção equivocada de algumas informações sensoriais. Quando isso acontece, a informação que chega ao cérebro é distorcida, com bastante impacto. Toda vez que uma informação chega ao cérebro com muita intensidade, pode ser interpretada como algo perigoso ou ameaçador, acionando um mecanismo automático de sobrevivência que todos nós temos conhecido como comportamentos de defesa, de luta, fuga ou paralisação.

Esse tipo de comportamento é automático e não tem intencionalidade nenhuma por parte da criança. Isso explica o comportamento do Davi, que estava animado em conhecer o palhaço, mas quando se aproximou do circo, se recusou a entrar. Davi apresentava uma sensibilidade por determinados sons. Os sons eram entendidos pelo cérebro do Davi como algo desagradável, fazendo que ele, sem intenção, se afastasse da experiência. O mesmo acontecia com Rafael, que apresentava uma sensibilidade tátil que trazia desconforto durante o contato da areia da praia.

O único profissional capaz, responsável e autorizado a realizar diagnóstico e tratamento é o Terapeuta Ocupacional com especialização em Integração sensorial. Mas é muito importante que outros profissionais da saúde compreendam essas questões e façam o correto encaminhamento!

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Vale ressaltar que muitos comportamentos que as crianças apresentam não são simples birras ou frescura. Nesses casos, alguns comportamentos não são passíveis de correção ou treinamento, porque acontecem sem intenção alguma, simplesmente de forma automática e que a criança não tem controle algum! Lembre-se: nem todo comportamento é intencional.

Veja também: TDAH: como lidar com o diagnóstico na infância?

Quais os sintomas do Transtorno do Processamento Sensorial?

Além de sensibilidade a determinados sons ou sensibilidade tátil, já citadas anteriormente, alguns outros sintomas que caracterizam o TDS podem ser:

  • Intolerância a algumas roupas ou texturas;
  • Intolerância a ruídos;
  • Aversão a alguns alimentos pela textura ou cor;
  • Dificuldade em usar as habilidades motoras finas;
  • Dificuldade com mudança de uma atividade para outra, mudança de ambiente;
  • Apresentam ansiedade e agressividade diante de algumas situações.

É importante ressaltar que crianças, adolescentes e até mesmo adultos com TPS são inteligentes quanto quaisquer outras pessoas. Seus cérebros são simplesmente conectados de forma diferente e, por isso, precisam ser ensinados a se adaptarem às informações e aos estímulos.