O Transtorno de Ansiedade Generalizada, ou TAG, é uma condição psicológica caracterizada pela preocupação crônica, excessiva e incontrolável a respeito de eventos futuros diversos, que podem dizer respeito tanto ao próprio indivíduo, como a escola, as relações com amigos e os eventos sociais, quanto ao mundo de maneira geral.
Cada vez mais diagnosticado em crianças, e um dos principais motivos que levam as famílias a buscarem auxílio profissional para os pequenos e também para os adolescentes, a ansiedade e o TAG podem se apresentar em diferentes graus de intensidade e com uma grande variedade de sintomas, tanto físicos quanto psicológicos.
O que há de comum em todos os casos, no entanto, é a importância de buscar ajuda profissional tão logo seja constatado que a criança está com dificuldades. Quanto antes for iniciado o tratamento, mais rapidamente será possível retomar uma rotina normal.
as Principais características do TAG
O TAG está entre os tipos mais comuns de ansiedade na infância e na adolescência. É caracterizado por manifestações psicológicas que indicam uma preocupação intensa com os mais diversos temas. Pode ser, por exemplo, com as guerras que ocorrem no mundo, os episódios de violência na cidade e no país, as intensas mudanças no clima e o aquecimento global, os acidentes que podem acontecer por toda parte, as condições financeiras da família etc.
Já numa perspectiva mais particular, o TAG pode estar relacionado com situações comuns, presentes no dia a dia, como a escolha de uma roupa para determinada situação social, as interações com outras crianças, as atividades da escola, a participação em festas de aniversário, os encontros espontâneos ou combinados na pracinha ou no parque perto de casa, dentre outras.
Diferentemente do medo de cachorro, de elevador, de altura ou de lugares apertados, que podem se transformar em fobias caso sejam muito frequentes e intensos, o TAG é caracterizado por um estado de alerta constante, em que a criança não relaxa nunca. A antecipação de eventos por vir, que pode ser natural e até saudável em outros casos, aqui se apresenta como algo extremamente exagerado e paralisador. As causas e a intensidade variam muito de acordo com cada indivíduo, e por isso é tão importante estar atento aos sinais.
Quais questões psicológicas estão relacionadas ao tag?
Ana Beatriz Mendes é professora de música, e dá aulas de piano para uma faixa etária bem ampla: seu aluno mais novo tem apenas 9 meses de idade, enquanto o adulto mais velho tem 88 anos. Ana é mãe de Hadassa, uma menina linda e muito esperta de 9 anos que foi diagnosticada com TAG.
Ana conta que, quando o mundo entrou na pandemia da Covid-19 em 2020, levando as escolas a fecharem e adotarem o ensino remoto, Hadassa, que já tinha recebido diagnóstico de TAG na época, passou por um período muito difícil. “Só na minha família nós perdemos oito pessoas, incluindo os dois avôs, o tio que levava ela para a escola todos os dias, e a tia com quem nós almoçávamos todos os domingos”, explica Ana.
Hadassa, que estava entrando no primeiro ano do Ensino Fundamental, teve um bloqueio de aprendizagem muito severo: foi de uma criança já pré-alfabetizada para outra que não conseguia mais reconhecer a letra A.
Ana e Hadassa seguiram juntas até o retorno das atividades presenciais nas escolas. Quando a instituição de ensino fez o acolhimento dos alunos, veio a confirmação: Hadassa parecia ser outra criança, uma menina totalmente diferente. Diante das crises de ansiedade, de falta de ar e do choro intenso, além de um comportamento calado e pouco interativo, foi feito o encaminhamento para a neurologista, seguido por acompanhamento com psicóloga, fonoaudióloga e psicopedagoga.
“Hadassa fez eletroencefalograma, ressonância, tomografia, e uma série de outros exames para tentar entender o que estava acontecendo. De lá para cá, ela teve três crises de ausência, sendo que a mais grave durou 22 horas: ela deitou para dormir num dia e só acordou no outro, já na UTI”, explica Ana.
As ausências, que são uma espécie de epilepsia na infância, estão sendo investigadas, e ainda não há uma causa definida. Segundo a mãe, os médicos não conseguem entender como o cérebro da menina entrou e saiu do processo, porque os exames não apontam nada, não há alterações fisiológicas. A suspeita, portanto, recai sobre questões psicológicas que estejam relacionadas com a ansiedade.
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Como A literatura pode ajudar como instrumento de apoio
Ana Beatriz conta que ao longo de todo o processo de tratamento e acompanhamento por profissionais de saúde diversos foi possível compreender que a origem do bloqueio de aprendizagem de Hadassa estava nos processos traumáticos relacionados com as perdas familiares pela Covid-19. “A questão do luto foi fundamental nisso tudo, por não saber lidar com o que tinha acontecido. O corpo dela sentiu o que a cabecinha não conseguia processar”, explica.
Com isso, Ana começou a buscar uma maneira diferente de se comunicar com a filha, que pudesse intermediar e facilitar os diálogos sobre como ela estava se sentindo. Como sempre gostou muito de literatura e usa, inclusive, livros como recurso nas aulas de musicalização, passou a utilizar a leitura em conjunto como uma maneira de acolher, entender e conversar com a criança.
Mãe e filha começaram a ler juntas todos os dias antes de dormir. Enquanto Hadassa diz que gosta muito dos momentos de leitura com a mãe, e que às vezes dorme pensando nas histórias, Ana sinaliza como a rotina vem ajudando a melhorar a qualidade do sono da filha, além de ter facilitado muito o diálogo sobre temas difíceis.
“Quando o Quindim enviou o livro ‘Menino Estrela’, a gente trabalhou muito a questão do luto. Inclusive, no final do livro tem a imagem de um senhorzinho em frente a um lago, com uma bengala, que ela olhou e disse: é o vovô! E não é que o livro seja triste, mas nos ajudou a entender e conversar sobre a trajetória do avô dela”, conta Ana Beatriz.
Nos dias em que a rotina é mais estressante, e que a mãe percebe agitação e angústia em Hadassa, a literatura ajuda a reverter a situação: “Eu consigo desconectá-la desse estresse e levá-la para um outro mundo antes que ela durma”, diz Ana, que complementa dizendo que também se beneficia dos livros.
“Quando recebemos ‘Um Senhor Notável’, eu fiquei pensando sobre como muitas vezes parece que a gente não está vivendo a nossa própria vida, mas sim a vida de outras pessoas. Me ajudou muito a me ver pela perspectiva da minha filha”, diz a professora.
Ana complementa dizendo, também, que a curadoria das obras enviadas pelo Quindim é valiosa. “Vocês precisam saber que o trabalho de vocês está fazendo muita diferença aqui, e tenho certeza que não é só na nossa família”, disse ela, que é assinante do Clube e está pensando, inclusive, em passar a receber dois títulos por mês.
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Principais sinais e sintomas do TAG
Como dissemos, o TAG pode se manifestar de maneiras diferentes em pessoas diferentes, e com intensidades variáveis também. Por isso é tão importante que o acompanhamento médico e psicológico seja procurado tão logo as mães, pais, professores e cuidadores primários identifiquem um ou mais sintomas nas crianças.
Dentre os sinais físicos mais comuns, podemos citar:
- dores de cabeça
- tensão muscular
- fadiga
- falta de ar
- palpitação
- suor excessivo
- náuseas
- enjoo
- diarreia
- dor abdominal
- mudanças no apetite (para mais ou para menos)
- tremores.
Já os sinais e sintomas neurológicos podem envolver dificuldade de concentração, insônia, irritabilidade, perda de memória, inquietação e medos irracionais.
Uma criança com TAG tende a se isolar, a ter queda no rendimento escolar e em atividades extracurriculares, a evitar contato com outras crianças, seja na escola ou fora dela, e a “fugir” das mais variadas situações que intensificam a sensação de ansiedade.
Atividades rotineiras, como dormir, ir à escola, brincar com outras crianças, passear com os pais e com os irmãos, tudo isso passa a ser demais para a criança com TAG, comprometendo seriamente sua qualidade de vida. Quadros como esse, quando não forem devidamente tratados, podem se agravar e levar o indivíduo à depressão.
Qual o tratamento para a ansiedade infantil?
Assim como outros transtornos, o TAG também tem tratamento. Geralmente, é composto por acompanhamento psicológico, com terapia (frequentemente cognitivo-comportamental), e em alguns casos pode envolver uso de medicação. O envolvimento da família e da comunidade escolar no tratamento é fundamental, para dar continuidade ao que o psicólogo orienta e combina nas sessões com a criança, cuja frequência por semana apenas o profissional poderá indicar qual deve ser.
Com relação aos medicamentos, os mais utilizados são os ansiolíticos e os antidepressivos. Com isso, o encaminhamento e o acompanhamento por um médico também se faz necessário, além do tratamento psicológico.
O acolhimento, sobretudo, faz toda a diferença: a criança precisa ter seus sentimentos respeitados e validados, precisa saber que o que está sentindo tem importância, e que seus pais ou cuidadores vão ajudá-la a superar todas as dificuldades. Ansiedade não é frescura nem bobagem. A criança não está sozinha, e não pode duvidar disso.
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A arte como mediadora das emoções
Manifestações artísticas em geral, como música, desenho, pintura e literatura, podem ajudar muito a expressar sentimentos e emoções que, por vezes, parecem nos dominar e ser maiores do que nós. No caso da literatura infantil, existem muitas obras que falam sobre emoções de maneira leve e sensível, e que podem facilitar bastante o diálogo da criança com TAG com os adultos que querem ajudá-la.
São muitos os títulos que falam de emoções tidas como negativas mas que, na verdade, são absolutamente naturais, necessárias e fazem parte da vida de todos nós. Medo, tristeza, insegurança, luto… Todos nós experimentamos esses sentimentos, e tudo depende de como lidamos com eles. Com as crianças, que ainda estão aprendendo a entender a si mesmas e ao mundo, os livros infantis podem dar um contorno para esses sentimentos, facilitando a compreensão sobre eles. Os desenhos e pinturas também podem ajudar a tornar mais tangíveis essas emoções.
Além da literatura, Hadassa também gosta muito de músicas, de desenhar e de colorir. Durante nossa conversa, ela esteve sempre atenta, foi muito gentil e compartilhou comigo vários de seus desenhos incríveis, alguns dos quais estão se transformando em histórias.
Hadassa me mostrou, orgulhosa, seu estojo e material escolar, e me deu dicas ótimas de livros e mangás para ler e assistir. Sua mãe, Ana Beatriz, disse que está pensando em colocar a filha em um curso de desenho, já que ela gosta tanto e demonstra ter aptidão.
Nós três combinamos que, de um jeito ou de outro, Hadassa não vai parar de desenhar e criar histórias. “Um dia, quero fazer meus próprios livros”, disse ela quando estávamos encerrando a entrevista. Toda a família Quindim está torcendo, Hadassa, e aguardamos por você.
Estante Quindim
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