Um jovem de blusa listrada, vermelha e branca, um gorro das mesmas cores e um par de óculos, perdido em meio a diferentes cenários, sempre muito detalhados. Se ao ler esta descrição você já adivinhou de quem estamos falando, é provável que já tenha tido algum contato com um livro caça-objeto – mesmo sem conhecer essa categoria. Onde está Wally?, criado pelo autor e ilustrador britânico Martin Handford, em 1987, virou febre entre pessoas de todas as idades e faz sucesso até hoje. Apesar disso, a origem dos chamados livros caça-objetos pode ser ainda mais antiga.

Para o autor, tradutor, pesquisador e crítico literário Peter O Sagae, um dos curadores do Clube Quindim, a ideia remonta às antigas revistas de passatempo, que traziam páginas com ilustrações de cenas cheias e detalhadas, em que a proposta era encontrar objetos que pertenciam ou não à situação representada. “Eu iria além, rumo às publicações do século 16, com os mapas fantásticos, cadernos de viagem e até mesmo livros de arquitetura, quando a paisagem e as cidades eram desenhadas a partir de uma visão do alto. Essa técnica é chamada ‘birds eye’, que é como se o mundo fosse capturado por um pássaro ou drone em pleno voo”, compara.

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Nem só de Wally: o que caracteriza um livro caça-objetos?

E você sabia que esse gênero pode ser considerado um tipo de livro brincante. “Os livros ilustrados para crianças são uma grande caixa ou categoria onde cabe muita coisa, como os livros de imagem e os livros brincantes, como têm sido chamadas algumas publicações que visam a interação do leitor, com um convite para se colocar em movimento ou movimentar o próprio livro. É quando a leitura e a brincadeira parecem dar as mãos”, explica Peter.

As obras que propõem essa análise das ilustrações em busca de personagens, objetos, detalhes, enigmas e acontecimentos, entre outras possibilidades, representam um chamado para brincar.

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Imagem do livro “Ao longo do rio“, de Magnus Weightman. Crédito: Clube Quindim.

Para ele, a principal característica de um livro caça-objeto é a simultaneidade em que os eventos acontecem. “Isso permite que o leitor faça um mergulho mais lento, atento, permitindo-se perder aqui e ali, os olhos em ziguezague e rodeios, sem uma direção predeterminada. Ou seja, a criança inventa o seu roteiro: pode ser um personagem, um objeto que vai passando de mão em mão, um bichinho, uma situação cômica e absurda”, acrescenta o pesquisador.

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Ilustração, brincadeira… e história

Nem todos os livros do tipo caça-objetos trazem uma história em texto, embora isso possa, também, ocorrer. Em alguns deles, os acontecimentos são contados pela própria imagem e a interpretação ainda pode variar, de acordo com quem interage com o livro. “A narrativa é construída com o olhar do leitor. É ele que se torna, muitas vezes, mais dono de uma história que o próprio autor”, diz Sagae.

O que é um livro caça-objetos_meio. Imagem do livro Os vizinhos
Imagem do livro “Os vizinhos“, de Einat Tsarfati. Crédito: Clube Quindim.

Enquanto procura os objetos propostos na cena ou analisa os detalhes, a criança contempla e explora as ilustrações, guiada pela curiosidade e pelo próprio repertório. Para Peter, obras com ilustrações panorâmicas detalhadas podem ser consideradas como caça-objetos também. “Tenho em mente o generoso Outra vez, de Angela Lago, que foi lançado em 1982. Não é uma beleza pensar em um autor-ilustrador brasileiro antes mesmo de Martin Handford chegar por aqui?”, questiona. No livro de Angela, que não tem texto, são as ilustrações que oferecem aos leitores a oportunidade de observar e criar a história como quiserem.

Para qualquer idade

Os livros caça-objetos são indicados para todas as faixas etárias, mas Peter lembra que a proposta funciona melhor quando o leitor tem outras experiências e referências, que podem ser desde outros livros, assim como diferentes jogos, desenhos e brinquedos.

O que é um livro caça-objetos_meio. Imagem do livro Aventura Animal
Imagem do livro “Aventura Animal“, de Fernando Vilela. Crédito: Clube Quindim.

“Se for muito pequena, a criança pode pontuar, nomear ou enumerar elementos isolados, sem exigir conexões fora de seu repertório, numa espécie de leitura de reconhecimento dos objetos. Com o tempo, poderá observar continuidades e tramar relações de causa e efeito, criar enredos e alimentá-los mais e mais: isto é o que chamamos leitura de construção”, completa.

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Quer ler um livro caça-objeto? Conheça 4 sugestões que vão conquistar os pequenos leitores

O Clube Quindim já enviou aos seus assinantes livros caça-objetos incríveis. Conheça 4 obras que fazem sucesso entre os pequenos leitores:

Achou? (autora Aline Abreu, editora Companhia das Letrinhas)
Autora: Aline Abreu
Editora: Companhia das Letrinhas
Faixa etária: 0 a 5 anos

Achou

Uma formiga que se perdeu da mãe, um pinguim saindo atrasado, um cachorro esquecido, um elefante guloso… O que mais você é capaz de encontrar?

AoLongoDoRio CapaTransparente e1741802286349
Autor: Magnus Weightman
Editora: Nanabooks
Faixa etária: 3 a 6 anos

AO LONGO DO RIO

Ah, não, a Coelhinha Branca deixou seu patinho de borracha cair no rio! E agora? Seus irmãos estão prontos para ajudá-la e ingressar juntos em uma grande aventura!

Os vizinhos (autora Einat Tsarfati, editora Pequena Zahar)
Autora: Einat Tsarfati
Editora: Pequena Zahar
Faixa etária: 0 a 5 anos

Os vizinhos

A personalidade dos moradores de um prédio transparece, quando observamos os objetos, as fotos, as cores das paredes, a arrumação e até mesmo o que parece ser uma bagunça, dentro de cada apartamento. O que esses detalhes diriam sobre você e sua família?

Aventura animal

Até parece uma brincadeira de pega-pega: foge de bicho, corre atrás de bicho, ninguém mais entende o que deve fazer, nem de onde vieram uma elefante, uma onça, um flamingo, um arara… existe alguma reserva animal perto desta cidade?