É comum ouvirmos de mães e de pais que a escola já oferece uma boa lista anual de livros literários e que, portanto, buscar outras escolhas de títulos foge às prioridades das famílias. Mas responsabilizar as instituições de ensino por toda a oferta literária à crianças e jovens não seria um equívoco? A formação leitora não iniciaria em casa ao ler por prazer?
A família de Angela, Humberto, Cecília (12) e Clarice (8), assinantes do Clube Quindim, contam sobre o hábito de ler transmitido de pais para filhas “sempre gostamos de ler, eu lia para as meninas ainda na minha barriga”, conta Angela. Pai e mãe reconhecem a relevância do trabalho literário da escola, mas não se contentam com apenas possibilidades para as meninas. Ao contrário, buscam alternativas para que tenham ainda mais acesso e motivação para ler por prazer. Explica o pai: “quanto mais livros, quanto mais literatura tiver, sempre é bom, sempre vai acrescentar ao repertório das meninas.”
A mãe complementa: “a leitura faz parte da formação cognitiva, mas faz parte também da formação cultural.” Para Angela, isso “amplia a visão de mundo, a percepção do outro e a empatia e também o olhar para si mesmo.” Afinal, são muitos os benefícios da leitura!
Angela ressalta sua admiração pelos artistas que dedicam metáforas à infância, diz que muitos livros ilustrados “(…) ajudam de algum modo na compreensão dos temas da vida, temas existenciais, abordam temas às vezes delicados, inclusive, a forma como chegam nas crianças deve ser muito delicada, tem uns livros bem bacanas nesse sentido, apresentam temas muito difíceis de uma forma sensível, cuidadosa, muito delicada.”
De fato, os símbolos criados pelas artes visuais e das palavras expressam fatos e verdades do mundo e nos cercam de instrumentos para chegar à crianças e jovens. Um exemplo interessante é a versão do conto clássico Barba Azul, criada por Anabella López, texto e ilustrações casados lindamente em torno de uma história cruel, mas também transformadora.
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A importância de incentivar seu filho a ler por prazer
Humberto e Angela contam que o interesse por assinar um clube de assinaturas partiu da própria Clarice que assistiu à propaganda de um clube. Após pesquisarem as opções no mercado, optaram pelo Quindim porque foi indicado por amigos assinantes, satisfeitos com a proposta.
Angela elogiou a diversidade proposta pelo Quindim, entre livros clássicos e contemporâneos e nos contou que “(…) há aqueles livros que ela adora, que ela lê e relê várias vezes, tem aqueles que ela gosta menos, mas que mesmo assim eu acho que vale a pena, tem livros difíceis que ela diz ‘mãe, não entendi foi nada!’. E eu incentivo que ela escreva no diário, que não gostou, explicando as razões, porque a formação do leitor passa também pela formação da crítica”.
Humberto contou que o pacote é muito aguardado em casa “É sempre uma festa quando Clarice recebe a correspondência com o nome dela”. O Clube Quindim trabalha o elemento surpresa como parte do encantamento pela leitura. Será um novo autor ou uma autora já conhecida? O livro terá mais textos ou mais imagens? E… Clarice vai amar ou não?
Clarice disse que gosta tanto dos livros recebidos pelo Quindim como os sugeridos pela escola. Já Cecília nos disse que passou a gostar mais de ler literatura a partir das indicações da bibliotecária e das escolhas feitas fora da escola “(…) prefiro os livros que eu compro, que eu escolho, que eu ganho de presente do que os livros da escola”, isso porque, segundo a jovem, os títulos sugeridos pela escola prezam pelos clássicos e pretendem ensinar algo relacionado à matéria estudada.
Bem, as escolhas e propostas metodológicas das escolas podem ser discutidas em outro momento, visto a complexidade do tema. Por hora, pontuamos que as formas com que as instituições de ensino apresentam a Literatura para crianças e jovens está diretamente relacionada à paixão ou indiferença pelos livros, o que diz muito sobre não somente à formação leitora, mas como nos constituímos como sujeitos críticos e transformadores. Daí a relevância de olhar para dentro de casa e apostar na oferta de livros diversos para se ler com prazer. Que crianças e jovens possam ter opções, caminhos para a construção do próprio repertório cultural.
Entre as listas propostas pelas escolas e toda a gama literária nacional e estrangeira, que as famílias permitam-se viver experiências literárias que as toquem e as transformem, porque antes mesmo dos muros das escolas há a casa que cada um habita, e essa, ao seu modo, sente sede de saberes e emoções. Todos os dias.