Um homem muito rico tinha todos os seus desejos realizados, mas vivia sob uma maldição: sua barba azul, que afastava as pessoas dele. Para conquistar a confiança de uma futura noiva e de sua família, ostentou jantares e festas. Casou-se com a filha mais velha da vizinha.
Barbazul guardava um segredo rompido pela curiosidade – ou seria intuição? - de sua nova esposa, que tinha permissão para visitar todos os espaços do palácio, menos o quarto do último andar. “Confio em você e sei que saberá respeitar minha proibição”, disse. A mulher então deu de cara com a própria morte e até se livra dela, o clima é de muita tensão. Foi preciso coragem e uma rede de apoio cuidadosa para romper com um ciclo cruel de violência contra mulheres.
É possível ter medo do Barbazul só em olhar a capa desse livro. A proposta de Anabella Lopez para o reconto é densa e assustadora, e intensificou ainda mais a trama. A morte é prenunciada para o leitor no desenho de uma porta em forma de caixão na página de rosto. Por meio da paleta de cores sombrias, o texto foi banhado de suspense. A artista relata na publicação que passou “(...) vários meses dedicada à pesquisa, aos desenhos, esboços e experimentações gráficas para conseguir chegar ao conceito final do livro.”. Todo esse cuidado pode ser experimentado, desde o manuseio do próprio objeto livro, formato, tamanho às belíssimas ilustrações.
Originalmente publicado em 1697, por Charles Perrault, o conto é atual e importante para o debate sobre o autocuidado, muitas vezes, as faltas subjetivas são responsáveis por escolhas equivocadas. Em nome da “felicidade”, podemos suspender as evidências e apostar em relações que nos custam a saúde mental ou física, e até mesmo a vida.
Em culturas predominantemente machistas, as mulheres são levadas a crer que a obediência ao homem é uma obrigação e não por coincidência, o Brasil possui uma das maiores taxas de feminicídios do mundo, segundo dados da OMS/ONU. Discorrer sobre essa dura realidade por meio da literatura é uma maneira de fazer com que crianças, jovens e adultos se espantem diante da crueldade e não normalizem a violência, o que infelizmente vemos diariamente nas redes sociais, telejornais, comunidades... e famílias.