O Clube de Leitura Quindim fala da importância da autonomia da criança e como criar pequenos que se tornarão adultos independentes.
Criar uma criança nunca foi nem nunca será fácil. São tantos questionamentos que os pais e cuidadores se fazem diariamente: será que estou fazendo o certo? Fui muito dura? Estou sendo muito maleável? Preciso pegar mais no pé deles? Essas são apenas algumas das inúmeras questões, além da opinião alheia, que deixa tudo mais complicado e confuso.
Uma das dores dos pais atuais está relacionada à autonomia da criança e até que ponto deixá-los ir ou fazer por eles? Esse assunto necessita de atenção, já que não incentivar uma criança a ter sua independência pode significar um futuro, como adulto, sempre dependente de alguém ou algo. O que é perigoso. Mas não é sobre “largar de mão”. Tudo é uma questão de equilíbrio, como diz a pediatra Stefanie Mencacci Lucas.
“Estamos criando crianças, não pessoas [adultas]. ‘Criança’ é uma das fases dela, mas ela terá outras. Quanto mais ela cresce, mais desafios ela terá e alguns deles precisarão ser enfrentados com pouca ou nenhuma ajuda dos pais. Criar um ser humano feliz, que tenha confiança em si é fundamental”, diz. E a pediatra Cristiani Ramalhoso completa: “autonomia ajuda no desenvolvimento motor e cognitivo, na autoestima, na autoconfiança e na responsabilidade. Um pequeno com independência é mais seguro de si e explora mais o ambiente e consequentemente aprende mais”, comenta.
Vale a ressalva de que dar autonomia não é largar a criança à própria sorte, pelo contrário. “Quanto mais confiança ela tiver em sua rede de apoio, mais se sentirá confiante para alçar voo pelo mundo”, reforça Stefanie.
A autonomia da criança conforme a idade
Antes de entrar nesse assunto, é importante não confundir, segundo Stefanie, habilidade com autonomia. “Quando um bebê acorda, se ajeita na cama e retoma o sono, isso é independência. Quando uma criança escolhe qual brinquedo quer dentro de duas opções, por exemplo, é autonomia da criança. Quando ela engatinha pela casa feliz de só explorar os vários caminhos possíveis da sala, é independência”, diz a doutora.
Já as habilidades variam muito entre crianças, e tem um espectro de idade grande nas quais podem ser adquiridos. Escovar os dentes, por exemplo: muitos pequenos de um ano já querem fazer sua própria escovação, mas não terão habilidade de fazer a limpeza correta ainda. Porém, participar do processo é expressar autonomia. Mesmo que a criança não tenha coordenação para se vestir, ela pode demonstrar preferência por uma roupa.
A doutora Cristiani comenta que a autonomia pode ser estimulada em todas as faixas etárias. “Vale lembrar que os bebês prematuros devem ser analisados em sua idade corrigida. Mas veja exemplos alguns: um bebê por volta dos cinco meses já consegue segurar sua mamadeira sozinho, por volta dos seis ou sete meses, consegue levar a comida até a boca. Uma criança de quatro ou cinco anos consegue colocar alguma peça de roupa sozinho sem ajuda, mas não todas de forma correta e tudo bem. Aos sete ou oito anos, já consegue escovar seus dentes sozinha de forma adequada, sem precisar de supervisão de um adulto após a escovação”, comenta a pediatra.
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O impacto da autonomia da criança em seu futuro
Não incentivar a autonomia pode prejudicar o futuro da criança, já que ela pode se tornar um adulto que depende de outras pessoas para tomar decisões. Para a doutora Stefanie, a falta de independência em alguns casos pode ser por superproteção. “Por mais que esse instinto seja compreensível, a mensagem que você passará é: você não consegue fazer as coisas sozinha. Isso pode gerar medo e insegurança, além de baixa autoestima. Se levado ao extremo, as crianças podem tornam adultos que têm medo de tomar qualquer decisão sem supervisão de alguém, além do medo de tentar coisas novas, de interagir com outras pessoas”, comenta. Mas incentivar autonomia não é difícil, o pequeno vai dar sinais de que quer liberdade, quer explorar e experimentar. Basta seguir suas pistas, aliada ao bom senso e, claro, às boas orientações de um pediatra de como fazer isso com segurança!
Segundo Cristiani, como hoje em dia os pais precisam trabalhar mais tempo do que no passado, a criança acaba sendo “terceirizada” para a escola, babá ou outros cuidadores. “Esse comportamento faz com que os pais não tolerem ver a frustração de seus filhos e tendem a fazer ‘tudo’ por eles no pouco tempo que convivem. Isso implica em algumas situações que não estimulam a autonomia”, afirma.
Ela dá um exemplo de uma criança que quer amarrar os sapatos sozinha na hora de sair de casa e os pais não têm tempo para esperar a filha e acabam amarrando os sapatos por ela. Ou, até mesmo, não deixam o filho ajudar no preparo do jantar porque levará muito mais tempo para a comida ficar pronta. “É importante apoiar o pequeno ao longo de todo o processo de ganho de autonomia com constância e paciência”, finaliza a doutora Cristiani.
Créditos
Stefanie F. L. Mencacci Lucas
Médica pediatra formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa e especializada em Neonatologia pela Faculdade de Medicina da USPAtualmente trabalha com consultório de puericultura e neonatologia e sou médica diarista da UTI Neonatal do Hospital SepacoRedes:
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https://www.drastefanielucas.com.br
Cristiani Nascimento Godeguez Ramalhoso
Médica Pediatra
Risanare Pediatria: http://www.risanarepediatria.com.br
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