No livro infantil Os reflexos de Henriqueta, de Marion Kadi, que os assinantes do Clube Quindim receberam no mês de fevereiro, acompanhamos a história de uma menina que não está nem um pouco animada para ir à escola.
Nas páginas iniciais, enquanto vemos a personagem trocando de roupa e preparando seu material escolar para sair, o reflexo de um leão feroz a observa pela janela. Em breve, Henriqueta vai adotá-lo como seu próprio reflexo, e muito em sua rotina irá mudar.
A obra de Kadi tem muitas camadas, mas fala sobretudo sobre autoestima e autoconfiança, especialmente na infância. Será que você já conversou com as crianças da sua vida sobre isso?
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o que é autoestima e autoconfiança?
Para começar a conversar com as crianças sobre autoestima e autoconfiança, é bom esclarecer o que são esses sentimentos e habilidades. A autoconfiança, como a própria palavra já indica, é a confiança em si mesmo e em suas capacidades. Confiança de que será capaz de resolver algum problema, superar um desafio, encontrar um caminho, tanto no momento presente, quanto no futuro.
Já a autoestima é uma avaliação íntima que fazemos de nós mesmos. O quanto nos valorizamos e estamos satisfeitos com nossa maneira de ser, com nossas qualidades e defeitos, nossos gostos e preferências, nosso jeito de nos expressarmos e de viver.
Ainda que esses dois conceitos estejam profundamente interligados, eles não são a mesma coisa. Podemos dizer que a autoconfiança é construída pouco a pouco, todos os dias, tanto a partir de situações corriqueiras quanto daquelas imprevistas e inusitadas, e dos resultados que conquistamos a partir das nossas atitudes diante dessas situações.
Com isso, por sua vez, vamos fortalecendo a nossa autoestima. Ao ver que somos capazes, que somos fortes, corajosos, criativos, ousados, resilientes e persistentes, dentre várias outras coisas, descobrimos o prazer de sermos nós mesmos, um sentimento que pode e deve se fortalecer ao longo da vida.
Tanto a autoconfiança quanto a autoestima são fundamentais para qualquer pessoa enfrentar os desafios que, você sabe, a vida sempre nos traz. Mas não se engane: elas são importantíssimas, também, para desfrutar dos momentos bons, alegres e felizes, sem aquele sentimento de “eu não mereço tudo isso” que muitos de nós conhecem tão bem.
Os rótulos e seu impacto na autoestima e autoconfiança infantis
É na infância que a autoestima e a autoconfiança precisam começar a ser desenvolvidas, para que o indivíduo chegue à idade adulta com a melhor visão e entendimento de si mesmo possível.
Esse entendimento, como você pode imaginar, também está muito ligado aos rótulos que costumamos receber na infância, como ser taxado como a criança boazinha, a espertalhona, a bagunceira, a teimosa, e por aí vai. Esses rótulos, especialmente quando aplicados pelos cuidadores primários das crianças, podem influenciar decisivamente a visão que os pequenos têm de si mesmos e que carregam ao longo de toda a vida, se tornando cada vez mais difíceis de desconstruir com a passagem do tempo.
Daí, não raro surgem comportamentos e falas como “eu não consigo fazer nada certo porque sou desatento”, “sou desastrado, então não vou nem tentar” ou “sou burro e não consigo aprender”. É assim também que, frequentemente, os sucessos e as conquistas são caracterizados apenas como sorte ou acaso.
Uma das descobertas da personagem Henriqueta, no livro de Marion Kadi, é que nenhum de nós é uma coisa só, igualzinha, todos os dias, em todos os lugares e situações.
Nossas crianças podem se beneficiar muito ao ouvir de nós como somos todos diferentes uns dos outros e, mais ainda, como somos múltiplos em nós mesmos. Isso significa que a criança que costuma ser quase sempre corajosa um dia pode vir a sentir medo, também. Que aquela que parece ser mais sensível e delicada pode igualmente ser ousada e aventureira.
São tantas ideias a nosso respeito vindas de outras pessoas que, às vezes, pode ficar difícil descobrir quem realmente somos. A busca pelo autoconhecimento, afinal, é um trabalho para a vida inteira, mas a semente sem dúvida é plantada na infância.
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Como ajudar as crianças a desenvolver autoestima e autoconfiança
Para ajudar a desenvolver a autoconfiança e a autoestima das suas crianças não existe uma fórmula pronta, mas algumas dicas podem tornar esse aprendizado mais tangível e consistente.
Primeiro, vale dizer que todo mundo passa por momentos de insegurança e incerteza, e com as crianças não é diferente. Fale com elas sobre isso! Se você sente ansiedade e medo ao iniciar um trabalho novo, por exemplo, ou se fica receoso ao conversar com pessoas desconhecidas em uma festa, deixe que seus pequenos saibam disso.
Assim, pode ficar mais fácil para eles compreenderem que sentir medo antes de uma prova difícil na escola ou de uma competição esportiva é natural, bem como o frio na barriga chegando na festa na casa de um coleguinha ou chamando uma criança nova para brincar.
Veja, a seguir, outras dicas que você pode colocar em prática como uma maneira de incentivar o desenvolvimento da autoconfiança e da autoestima no seu pequeno.
1. Demonstre interesse genuíno pelas atividades e interesses da criança
Seu filho é um indivíduo com gostos, curiosidades e preferências como qualquer pessoa. Se interessar verdadeiramente pelos assuntos, atividades e brincadeiras que atraem a atenção do seu pequeno é uma maneira de demonstrar, na prática, que ele é importante para você, que sua opinião tem valor, que é capaz de fazer coisas importantes e úteis, para si e para os outros. Ajude seu filho a perceber que é capaz de vencer desafios, e que persistir, praticar e se dedicar pode levá-lo longe, seja lá o que escolher fazer.
2. Converse sobre sentimentos
Fale sobre como você mesmo se sente em determinadas situações, abrindo as portas para que seu filho faça o mesmo. E mais do que isso: quando a criança se expressar, valorize e respeite esses sentimentos. Jamais minimize ou faça pouco caso, dizendo coisas como “não foi tão ruim assim” ou “você não deveria estar triste por causa disso”. Todos sentimos coisas diferentes, e aquilo que não é tão importante para você pode ser para o seu filho. Aliás, vale lembrar: se seu filho não se sentir respeitado e valorizado por você, que é a pessoa mais importante do mundo para ele, certamente irá esperar o mesmo dos outros.
3. Elogie com sabedoria
Reconheça as conquistas do seu filho e, sobretudo, seu esforço e comprometimento. Pode ser que a criança não tenha tirado uma nota tão boa na prova, ou que não tenha chegado entre os primeiros colocados em uma corrida. Mas houve um esforço verdadeiro? A criança fez o melhor que podia, com tudo o que estava à sua disposição? Então, isso precisa ser reconhecido! Em vez de dizer “você não venceu porque o fulano correu mais rápido”, ou “você errou essa questão porque não prestou atenção”, foque no que é positivo e enalteça o fato de que seu filho fez o melhor.
4. A criança não é feia, mas a atitude pode ser
Todos nós somos capazes de cometer atos bons e ruins, altruístas e egoístas. Isso não faz de nós pessoas absolutamente boas ou más, apenas humanas. Então, quando seu filho fizer ou disser alguma coisa que não é legal, faça um esforço para separar a criança da atitude, ou seja, quem ela é do que ela fez. Assim, o pequeno não irá crescer achando que para ter valor e ser amado é preciso fazer tudo certo, sempre, ou que não é digno de receber afeto e atenção por ter se comportado mal um dia.
5. Estimule a autonomia
Quando uma criança percebe que seus pais confiam nela, na relação que construíram e nos acordos que estabeleceram, ela se torna muito mais propensa a se tornar independente e autônoma, na medida do que é possível para sua idade, fase da vida e características individuais. Para encorajar esse comportamento, incentive a participação nas tarefas da casa e nos cuidados consigo mesmo, como escolher a própria roupa e sapatos, ajudar a cuidar de bichinhos de estimação, organizar os próprios brinquedos, escovar os dentes etc.
6. Não compare com irmãos, primos ou colegas
Essa, talvez, seja uma das sugestões mais difíceis de seguir, pois muitos de nós nos comparamos com outras pessoas a todo momento. Com as crianças, que estão em plena fase de desenvolvimento e descoberta de si mesmas, ouvir coisas como “você poderia ser mais organizado, assim como seu irmão” ou “o menino tal da sua turma tirou uma nota maior na prova” pode ter um efeito devastador.
O contrário, como dizer que o desenho do seu filho está muito melhor do que o de outra criança, por exemplo, também não é necessário. Você não precisa estabelecer essas comparações para mostrar ao seu filho que todos têm o seu valor. O objetivo deve ser melhorar a si mesmo, e não ser melhor do que fulano ou beltrano.
Se preciso, busque ajuda
Em alguns casos, quadros de ansiedade infantil, medos e fobias de situações novas e inesperadas podem estar associados a questões mais profundas, gerando um impacto considerável no desenvolvimento da autoconfiança e da autoestima nas crianças.
Se você perceber que esse é o caso dos seus filhos, como se houvesse um sentimento de “não importa o que eu diga ou fale, ele não acredita em mim”, não hesite em procurar ajuda profissional.
Um psicólogo, ou psiquiatra em determinados casos, possui conhecimentos, estratégias e experiências específicas que podem ajudar no processo de acolhimento do seu filho, identificando eventuais transtornos e qual o tratamento adequado para cada caso. Quanto antes esse processo for iniciado, maiores são as chances de conquistar resultados positivos, e o quanto antes. Ofereça o apoio que seu filho precisa para se tornar a melhor versão de si mesmo.
Estante Quindim
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