Henriqueta não andava nem um pouco empolgada para ir à escola. Enquanto trocava suas roupas e arrumava seu material sem ânimo algum, o reflexo de um leão feroz a observava pela janela. Ela ainda não sabia mas, em breve, aquele seria o seu próprio reflexo e tudo iria mudar. Ou melhor, quase tudo.
A história mágica de Marion Kadi possui muitas camadas. Afinal, nenhum de nós é uma só coisa, igualzinha, todos os dias. Se nem os mais corajosos têm coragem sempre, da mesma maneira, os mais tímidos também não são assim todos os dias. Essa multiplicidade, inerente aos seres humanos, nos faz questionar tanto os rótulos que aplicamos aos outros e a nós mesmos, quanto a maneira como lidamos com diferentes pessoas e situações. Quem aqui já foi uma fera no trabalho; conquanto, entre amigos, ficou mansinho, mansinho…? E que criança, conhecida como boazinha, não deixou todo mundo de queixo caído quando defendeu a si mesma e falou mais firme?
Com muitos detalhes e personagens secundários, cheios de expressão e com suas próprias histórias para contar (preste atenção no gatinho que aparece em várias cenas), as ilustrações da própria Marion Kadi nos ajudam a pensar sobre a construção da nossa própria identidade e buscar ver como isso está se dando com nossas crianças. A obra propõe diversas reflexões sobre as máscaras sociais que usamos, e a importância de alcançar um equilíbrio para não sermos nem leão nem cordeiro na vida afora. De que maneira é possível modular isso, para não ferir nem a nós mesmos nem aos outros?