A ansiedade de separação é o termo pelo qual chamamos a tristeza, o desconforto e o medo que muitas crianças sentem ao serem afastadas da mãe, do pai e de outras pessoas que sejam seus cuidadores principais.

Geralmente esse afastamento é acompanhado de muito choro e angústia e pode ser incrivelmente intenso, mesmo que a ausência dos pais seja breve. A ansiedade de separação pode acontecer até mesmo quando estão todos no mesmo cômodo, mas a criança é passada para o colo de uma outra pessoa.

Apesar de ser natural e esperado para o desenvolvimento infantil, vale a pena saber mais um pouco sobre o assunto e descobrir algumas atitudes que podem ajudar a amenizar o sofrimento dos pequenos e das famílias que estão enfrentando os desafios da ansiedade de separação.

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O que é a ansiedade de separação

Quando os bebês nascem, e durante vários meses logo no começo das suas vidas, eles não são capazes de compreender que são indivíduos, ou seja, seres independentes da mãe, do pai ou do cuidador principal. Sendo assim, entendem que os adultos que estão ali, garantindo a sua sobrevivência, cuidando, alimentando, protegendo e suprindo suas necessidades durante as vinte e quatro horas do dia são literalmente uma extensão de si mesmos.

Conforme vão crescendo, os bebês percebem que são pessoas diferentes dos seus pais, e é justamente aí que surge a ansiedade de separação. Alguns especialistas acreditam que o choro, os gritos e o medo que os bebês sentem quando os pais se ausentam são manifestações instintivas, como uma demonstração do receio intenso que sentem de serem abandonados.

A ansiedade de separação é bastante comum em crianças até cerca de dois anos de idade, mas pode acontecer também com as crianças um pouco maiores, e mesmo com aquelas que já estavam acostumadas a se afastar dos pais por determinados períodos de tempo mas, por algum motivo, voltam a ficar tensos com esse cenário.

Quando acontece a ansiedade de separação

Em crianças com idade média de até dois anos, o desconforto, choro e tristeza pela separação dos pais pode acontecer a qualquer momento. Pode ser quando o cuidador sai do campo de visão da criança por poucos segundos, quando a mãe entrega o bebê para outra pessoa e vai tomar banho, ou quando a criança é levada até a porta da creche ou escola para ficar pelo período de algumas horas (por isso a importância da adaptação escolar).

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Em crianças maiores, a ansiedade de separação pode acontecer após longos espaços de tempo exclusivamente com os pais ou cuidadores (como no período imediatamente depois das restrições impostas pela pandemia de Covid-19, por exemplo), e também diante de alterações significativas, como a mudança para uma casa ou uma escola nova, a perda de um familiar querido ou de um bichinho de estimação, ou mesmo a chegada de um novo bebê na família.

A ansiedade de separação não se manifesta apenas pelo choro, gritos e tristeza. Ela pode vir acompanhada, também, por dores de cabeça e na barriga, náuseas, vômito, falta de ar, agressividade, entre outros sintomas. Algo muito importante a se reforçar é que não necessariamente veremos quadros como esses apenas quando crianças e adultos estiverem em locais fisicamente separados, como em casa e na escola, ou no trabalho e na creche. Muitas vezes, a ansiedade pode ser um fator determinante para que uma criança tenha dificuldade de dormir sozinha no próprio quarto, por exemplo.

Mesmo sendo algo totalmente natural e parte do desenvolvimento infantil, é preciso estar atento para buscar ajuda profissional caso a situação se prolongue para além do esperado. E, aqui, vale a ressalva: o esperado é uma referência, mas cada criança é de um jeito e merece ter seu tempo de adaptação respeitado e avaliado individualmente. Sendo assim, caso o choro, a tristeza, e o medo excessivo permaneçam por muito tempo, sejam recorrentes, ou não sejam amenizados por mais que os adultos façam todo o possível para isso, e caso você perceba que situações específicas desencadeiam reações como essas na sua criança, não deixe de buscar apoio médico para ajudar seu pequeno a melhorar o quanto antes.

Como ajudar as crianças a lidarem com a ansiedade de separação

Existem algumas atitudes que os adultos podem adotar para ajudar as crianças a lidar com a ansiedade de separação, principalmente auxiliando-as a compreender que o afastamento é temporário, e não definitivo.

O clube de assinatura Quindim relacionou a seguir algumas sugestões que você pode colocar em prática na sua casa. Lembre-se de que a paciência, a repetição e a constância fazem toda a diferença quando buscamos ensinar qualquer coisa para as crianças.

1 – Exercite o conceito de separação desde cedo

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Brincar de esconde-esconde com bebês e crianças pequenas pode ser uma ótima maneira de ensinar sutilmente que você pode até não estar presente em alguns momentos, mas que logo vai voltar.

Com bebezinhos, basta esconder o rosto atrás de algum objetivo e fazer o divertido “cadê? achou!”. Com crianças maiores, que já sabem engatinhar ou andar (mesmo que com auxílio de outro adulto, ou se apoiando), vale se esconder atrás de portas e cortinas e convidar a criança para a brincadeira.

2 – Nunca saia escondido

Sabemos que para as mães, pais e cuidadores pode ser bem difícil dizer tchau também, principalmente quando a criança começa com aquele choro sentido e magoado. Mesmo assim, é muito importante ser o adulto da relação e se despedir, em vez de simplesmente desaparecer.

Explique para onde vai, porque a criança não pode ir junto, e dê uma previsão de quando vai voltar. Como crianças pequenas ainda não dominam o conceito da passagem do tempo, você pode usar referências como “depois do passeio na praça com a vovó”, “depois do jantar”, “depois do seu desenho favorito” e por aí vai.

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3 – Não prolongue as despedidas

Você já entendeu que não deve sair escondido, mas sofre com a criança na hora de dar tchau (ou até mais do que ela). Se você demonstrar que também está sofrendo, levando um longo tempo para se despedir, voltando várias vezes para dar mais um abraço e mais um beijinho, e fazendo cara de sofrimento, sua criança vai ter ainda mais dificuldade de lidar com a sua ausência, e assim a ansiedade de separação vai ganhar força.

Por isso, procure estar tranquilo, calmo e seguro na hora da despedida. Explique para onde vai, quando volta, dê um abraço, um beijo e diga até logo. Se você expressar culpa, incerteza e tristeza nesse momento, seu filho vai ter certeza de que a separação momentânea de vocês é a pior coisa do mundo e nada vai conseguir convencê-lo do contrário.

4 – Demonstre confiança na pessoa que vai ficar com a criança durante a sua ausência

É mais do que natural que os pais fiquem ansiosos e preocupados quando se afastam da criança nas primeiras vezes, mesmo que o pequeno vá ficar com alguém de absoluta confiança. Isso pode acontecer também quando a criança está doentinha, ou quando vai participar de algo novo, como a primeira aula de inglês, de ballet ou no futebol com os amiguinhos.

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Para evitar que essas inseguranças e preocupações dos adultos sejam transmitidas para as crianças, os combinados para o período de ausência dos pais, como aqueles que envolvem o horário do sono, das refeições e das brincadeiras, bem como a lista do que pode ou não pode, devem ser feitos em particular, longe dos pequenos.

A criança não precisa participar desse momento, pois frases simples como “cuidado pra ele não engasgar com o suco enquanto estiver vendo desenho” podem fazer com que a criança sinta que você não confia no cuidador designado.

O mesmo vale para crianças que vão para a creche ou escola: solicite uma reunião com os profissionais da instituição (professores, auxiliares, mediadores e coordenação infantil) a sós, sem que a criança precise ficar ouvindo todas as recomendações e pedidos que você tem a fazer.

5 – Proponha atividades para ocupar o tempo

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O período de afastamento entre você e sua criança pode passar mais tranquilamente caso ela esteja dedicada a alguma atividade interessante e desafiadora. Por isso, uma brincadeira com massinha, uma pintura, blocos de montar, livros e jogos podem ajudar o pequeno a se distrair enquanto aprende e se diverte.

Na escola, o encontro com os amigos e a condução da professora, das auxiliares e dos demais profissionais educacionais naturalmente já devem direcionar a atenção da criança para atividades enriquecedoras enquanto vocês estiverem afastados.

6 – Procure não reforçar o comportamento

Muitas vezes o sofrimento e a tristeza dos nossos filhos são tão grandes que nossa vontade é fazer tudo o que for possível para amenizar essa dor imediatamente. É natural, então, que alguns pais se sintam tentados a compensar os períodos de ausência e afastamento das crianças de alguma maneira, como: dormir junto com eles mesmo quando já estão adaptados ao próprio quarto, permitir que faltem à escola, dar presentes todas as vezes que vão sair e deixar as crianças etc.

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Mesmo que pareça uma forma de acolher a tristeza dos pequenos, tome cuidado, pois essas respostas na verdade podem reforçar o comportamento, e tendem a aumentar ainda mais a ansiedade de separação ou gerar uma expectativa equivocada de que haverá algum tipo de “recompensa” sempre que houver o afastamento.

É claro que aqui, assim como em qualquer outra situação envolvendo crianças, é necessário discernimento e atenção. Não vale a pena deixar de acolher sua criança em momentos difíceis apenas para “seguir uma regra”. O importante mesmo é buscar o equilíbrio no dia a dia, mantendo atenção aos efeitos das mudanças de comportamento a curto, médio e longo prazo.

7 – Acolha o choro da sua criança

Crianças choram. Nós, adultos, precisamos entender e aceitar isso como a manifestação natural das emoções infantis, oriundas de pessoas que ainda não aprenderam a expressar seus sentimentos com palavras.

Se nós, que já somos bem crescidinhos, muitas vezes temos muita dificuldade em colocar em palavras aquilo que estamos sentindo, como podemos querer exigir isso das crianças? Além de não fazer sentido, não é justo, não é mesmo?

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Então, quando sua criança chorar porque vocês vão ter que ficar um período de tempo separados, não brigue com ela, não repreenda, não coloque de castigo nem ameace puni-la de maneira alguma.

Diga que entende, que é difícil mesmo vocês ficarem separados e que você também sentirá saudades, mas que é necessário pelos motivos tal e tal (vale a pena explicar para as crianças maiores), e que muitas coisas boas e interessantes podem acontecer durante esse período.

Combine de conversar depois sobre o que você fez e o que viu durante o afastamento e encoraje sua criança a fazer o mesmo. Essa pode ser uma prática recorrente de vocês.

8 – Permita que a criança escolha um objeto de afeto ou de transição

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Muitas crianças encontram em um bichinho de pelúcia, um travesseiro, um paninho ou alguma outra coisa o suporte emocional necessário para lidar com a ansiedade de separação.

Algumas vezes essa escolha acontece naturalmente, quando vemos que a criança já tem predileção por um desses objetos e o leva consigo para onde quer que vá. Em outros casos, você mesmo pode orientar essa escolha, dizendo algo como “vamos escolher um brinquedo para você levar para a escola hoje?”.

Esses objetos podem representar para a criança a segurança que ela sente quando está com os cuidadores principais, então permita que ela fique com o objeto quando não estiver com você ou nas situações novas em que se sente insegura.

9 – Use a literatura infantil a seu favor

Livros são recursos incríveis para ajudar famílias a atravessar momentos difíceis e desafiadores ao longo de toda a infância, e com a ansiedade de separação não é diferente. Você pode contar histórias para o seu pequeno em que os personagens estejam, de alguma maneira, passando pela mesma situação de separação momentânea, e contribuir, assim, para que a criança compreenda seus próprios sentimentos, facilitando a lida com eles.

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Aqui no Clube Quindim temos dois títulos excelentes que falam sobre o assunto: o primeiro é “Porcolino e mamãe”, de Margareth Wild, com ilustrações de Stephen Michael King e tradução de Gilda de Aquino. Nesta obra, o pequeno Porcolino se afasta de sua mãe na fazenda e fica desesperado. Enquanto tenta entender e processar seus sentimentos, encontra diversos outros animais com quem aprende coisas novas, se distrai e passa o tempo.

O segundo título é “A mãe que voava”, de Caroline Carvalho, com ilustrações de Inês da Fonseca. Neste livro, vemos uma mãe que pode ser vista em toda parte da casa, fazendo mil coisas, ao mesmo tempo em que cuida da filha com todo amor e carinho. Quando a mãe precisa sair para trabalhar, a menina descobre que outras coisas demandam a atenção da mãe além dela, e precisa compreender e enfrentar essa nova situação.

10 – Seja paciente, esteja presente e mantenha-se atento

Assim como tantas outras fases do desenvolvimento infantil, a ansiedade de separação, um dia, passa. A criança vai crescendo, entendendo que há muitas coisas incríveis no mundo a explorar e aprende que os períodos de tempo em que está longe dos pais são apenas isso mesmo, períodos, que, por outro lado, guardam em si inúmeras possibilidades de experimentar e descobrir coisas novas por si mesmo.

No entanto, quando estamos no meio da tormenta, é fácil acreditar que a angústia vai durar para sempre. Se há dias mais difíceis do que outros, alguns deles chegam a parecer intermináveis.

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Faça o melhor que puder, e busque apoio da melhor maneira possível para você. Nem sempre você vai querer ou conseguir seguir as sugestões que demos aqui, e tudo bem, faz parte. Procure adaptá-las ao seu cotidiano, à realidade da sua família e, sobretudo, às necessidades da sua criança.

O mais importante é você estar presente, com regularidade e constância, mostrando na prática para a sua criança que ela pode contar com você, chova ou faça sol, sorrindo ou chorando. Quando ela compreender verdadeiramente isso, verá que nenhuma distância no mundo pode, efetivamente, ficar entre vocês.