A história é marcada pelo olhar infantil sobre a presença/ausência da mãe. Alice, como as crianças pequenas, está diante de muitas coisas pela primeira vez: separação da mãe e frustrações são algumas delas.
Alice vê a mãe como um ser especial, que transcende o físico e flutua pelos cantos da casa. É amor e carinho pra todo lado. Mas, quando sua mãe sai para trabalhar, a menina está diante do fato de que aquela mulher possui outras funções que não apenas a materna. E que a atenção da mãe não é exclusividade da filha. Entra em cena a figura paterna, que brinca, busca se conectar com a criança e compreende justamente a marca para o rompimento da relação simbiótica entre a mãe e o bebê. Essa relação geralmente estabelecida a partir do nascimento, quando na grande maioria dos casos, só a figura materna assume os cuidados: alimentar, banhar, ninar. Em relações heteronormativas, muitos homens se abstém de estar com as crianças com receio de não saber “fazer direito”, como se houvesse uma única maneira de cuidar da criança, algo que é cultural e reforçado também por mulheres.
É possível explorar a história por meio apenas das ilustrações, e tente não censurar a criança quando ela interromper a sua leitura para expressar algo que a espante ou a faça sorrir. As cenas com a mãe que não finca os pés no chão da casa são imagens metafóricas e tomam o leitor pelo braço, fazendo-o olhar sob aspectos diferentes cada vez que ler. Outras características interessantes nas imagens são: o pai sem rosto, o que pode remeter aos tantos casos de crianças brasileiras crescidas com pais desconhecidos; e as personagens negras numa história que não trata de preconceito racial.
O final do livro sugere que, ao ouvir essa história, as crianças possam elaborar medos e o que pensam sobre as relações com mães e pais. Ampliar, inclusive, as formas de ser filho e filha.