É muito comum ter dúvidas na hora de distinguir se um livro é adequado para o bebê ou não. Os livros para bebês são definidos pelo seu material? Pelo seu formato? Pelo tamanho do texto? Pelo estilo das ilustrações? A verdade é que o livro para bebês pode ter muitas formas, com textos mais longos, mais curtos, ilustrações coloridas, sóbrias ou apenas em preto e branco. A seguir, vamos discutir as especificidades desses livros!
Livros para bebês devem ser livros cartonados ou de pano?
Para incentivar a leitura, nada mais rico que a literatura. Porém, livros de pano ou livros cartonados nem sempre trazem uma literatura potente, tendo muitas vezes a durabilidade do material como ponto principal. No mercado editorial brasileiro, até mesmo por uma limitação técnica das nossas gráficas, a literatura de qualidade está em sua maioria nos livros de papel. E, assim sendo, os livros de pano ou livros cartonados nem sempre serão a melhor opção para incentivar a leitura.
É bacana um livro que resiste à exploração do pequeno sem amassar ou rasgar, mas oferecer apenas esse tipo de livro ao bebê o fará perder muito da diversidade da literatura infantil, além de tirar a oportunidade de seu filho praticar a motricidade fina que pede o manusear de livros de papel.
E se meu filho “estragar” o livro?
Essa é uma preocupação que pode surgir quando nos deparamos com um livro para bebê feito em papel. Mas, além de livros produzidos em materiais mais resistentes, como os de pano, dificilmente trazerem qualidade literária, precisamos lembrar que a criança só vai conseguir testar a intensidade de sua força se tiver acesso a diferentes livros. Portanto, livros que não são cartonados precisam estar ao alcance dos pequenos. Só assim a motricidade fina necessária para o virar das páginas, por exemplo, será desenvolvida pela criança desde cedo.
É claro que alguns (ou muitos) incidentes podem ocorrer no caminho. Mas a diversidade e as oportunidades de experiências estéticas e sensoriais também são fundamentais na formação de um leitor. Então, se a criança morder, babar, rasgar, riscar, pisar em cima, se enrolar no livro, não fique triste. Isso mostra que ela está desenvolvendo uma relação com o objeto e com as possibilidades que ele fornece. E provavelmente serão essas obras, muitas vezes cheias de remendos, que ele guardará na memória. Afinal, livro bom é livro gasto.
Veja também: Qual a importância da bibliodiversidade para crianças?
Livros para bebês precisam ser livros-brinquedo ou interativos?
Quando oferecemos ao bebê um livro-brinquedo cheio de abas, botões e lugares para serem apertados, podemos até achar que estamos oferecendo ali um livro repleto de estímulos interessantes. Porém, é preciso atenção: esses livros-brinquedo tem qualidade literária? Ou apenas uma interação mecânica? Há muitos livros-brinquedo interessantíssimos, porém a grande maioria ofertada no mercado editorial brasileiro acaba sendo mais uma espécie de passatempo motor do que um espaço para a exploração da leitura: são obras reativas, e não interativas.
Reativas porque essa troca entre leitor e objeto se encerra numa única ação (abra esta aba, puxe esta seta etc.), e não explora a pluralidade de interlocuções que a literatura traz.
É fácil identificar esse livro-brinquedo duvidoso: geralmente, são livros importados, com ilustrações genéricas ou de algum personagem da televisão que faz sucesso entre as crianças no momento, e sequer apresentam o nome do autor na capa.
Quando temos acesso a uma obra de qualidade literária, seja ela um livro-brinquedo ou não, a cada leitura podemos encontrar algo novo naquela narrativa, ao mesmo tempo em que mobilizamos novos repertórios para lê-la. Não seria essa troca com o texto literário muito mais interativa e estimulante do que a exploração de um livro-brinquedo sem qualidade literária?
Então, se você vai investir em uma obra como essa, nossa dica é: procure um livro-brinquedo que não tenha apenas atrativos no seu formato ou materialidade. Tente aliar isso com a qualidade literária, com o cuidado com a linguagem, com a poética, buscando obras que tenha espaço para o leitor se colocar, que não sejam fechadas, repletas de clichês e com lições moralizantes.
Um livro de literatura é extremamente potente em muitos aspectos, inclusive no estímulo ao jogo e à fruição literária. Vai oferecer à criança uma real interação a cada leitura, repleta de possibilidades e, por isso, constituir um repertório de palavras, imagens, estimular seus movimentos, seu imaginário. Inclusive, se estiver precisando de dicas de livros para bebês, é só conferir em nosso blog!
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Livros para bebês precisam ser coloridos?
Cuidado! Buscar só livros infantis coloridos e que combinam com a “aura de suavidade da infância” pode levar a escolhas estereotipadas. Aliás, é equivocado associar a infância apenas à suavidade, à cor e à alegria. Se lembrarmos da nossa, perceberemos que as crianças também sentem dor, perda, infelicidade, ciúme, medo.
Não adianta categorizar sentimentos como positivos ou negativos.
Todos os sentimentos fazem parte de nós e ao longo da infância e da vida teremos de lidar com eles. A literatura em sua potência é um espaço que permite vivenciá-los. Ao imergirmos em um texto poético, experimentamos alegria, nos apaixonamos, mas também podemos nos sentir ansiosos, com raiva e inveja. As ilustrações contribuem igualmente nessa ambientação que desperta tantos sentimentos, e entregar apenas livros “fofos” fará com que vocês deixem de vivenciar uma pluralidade de emoções na leitura.
Além disso, construir uma biblioteca diversificada em casa, com obras com diferentes estéticas, vai também auxiliar a furar um pouco da bolha em que cada um de nós está inserido. Por isso, não tenha medo de ler com a criança edições com cores escuras, ou só em preto e branco: isso não quer dizer que sejam mais, ou menos, apropriadas para crianças e você ainda pode se surpreender descobrindo uma obra que o seu pequeno vai amar mesmo tendo cores sóbrias.