Mães que amamentam seus filhos certamente já passaram por alguma situação constrangedora ao oferecer peito ao bebê. Geralmente são olhares julgadores ou opiniões alheias – acompanhadas por frases opressoras, como “basta colocar um paninho para cobrir”. Amamentação em público gera, ainda, muito desconforto em uma sociedade que sexualiza o corpo da mulher.
O pediatra Carlos Correa, que atua em atendimentos humanizados às mães e aos bebês, comenta sobre o ato tão comum, que se transforma na erotização por meio dos seios que alimentam. “A sociedade recebe uma propaganda de sutiã, por exemplo, de uma maneira natural e a amamentação é vista de outra forma completamente distorcida. Há países em que a mulher pode até ser presa por amamentação em público”, afirma.
Ele ressalta, ainda, que esse tabu está muito relacionado ao interesse de uma indústria que precisa vender a incapacidade do corpo da mulher, o que, claro, acaba desmotivando a mãe e tornando a amamentação em um processo mais difícil. “A indústria de leite, que custa caro, atua com uma estratégia de marketing agressiva. Mas ela concorre com o leite natural, que não dá alergia, que sempre está na temperatura ideal, que não tem prazo de validade e que não causa infecção. A mulher é capaz de gestar, parir e nutrir”, ressalta Carlos.
Importante relembrar também que o aleitamento materno exclusivo é essencial até os seis meses do bebê, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Repressões, de forma geral, podem atrapalhar e levar a mulher a desistir de oferecer seu leite. Para o doutor, é essencial os familiares apoiarem incondicionalmente a amamentação em livre demanda e em qualquer lugar. “A pandemia permitiu a proximidade de algumas famílias, ajudando nesse importante acolhimento. Contudo, ainda estamos a passos lentos rumo a uma rede de apoio ideal às mães”, enaltece o doutor.
Em uma realidade sem pandemia, é preciso alertar também sobre a reclusão da mulher puérpera. Para muitas mães, o período pós-parto é um momento mais difícil, de solidão. O direito de sair e poder amamentar seu filho – em qualquer lugar, com tranquilidade e sem olhares julgadores – se torna ainda mais necessário nesse momento.
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Amamentação em público é direito assegurado por lei
Não é incomum encontrar notícias que retratam repressões a mães que amamentam seus filhos em ambientes públicos. Mas a lei assegura o direito à lactante amamentar em qualquer espaço, basta seu filho ter fome. Simples assim. Está na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que trata o Estatuto da Criança e do Adolescente. Pessoas que proibirem ou gerarem qualquer ato de constrangimento estão sujeitas à pagamento de multa.
Movimentos em prol da amamentação
Há diversos movimentos que buscam levar informação ao público sobre a importância do leite materno aos bebês. Um de grande relevância é a Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM), idealizada pela OMS. Realizada em agosto desde 1999 no Brasil, a iniciativa tem como principal premissa a redução da mortalidade infantil. As ações são realizadas com base no documento “Declaração de Innocenti”, que segue quatro grandes objetivos macros operacionais, e os países precisam atuar de forma ativa para cumprir suas metas. São elas:
*Estabelecer um comitê nacional de coordenação da amamentação;
* Implementar os 10 passos para o sucesso da amamentação em todas as maternidades;
* Implementar o Código Internacional de Comercialização dos Substitutos do Leite Materno e todas as resoluções relevantes da Assembleia Mundial de Saúde;
* Adotar legislação que proteja a mulher que amamenta no trabalho.
Mesmo com movimentos tão relevantes, como a SMAM, o assunto precisa ecoar com muito mais potência, para que as mulheres possam realizar a amamentação em público com tranquilidade e sem preocupação. Portanto, seja você uma pessoa da rede de apoio de uma mãe e a ajude nessas empreitadas tão intensas e deliciosas que são a maternidade e a amamentação.
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