Em um mundo tão polarizado, com disputas políticas acirradas, conversar sobre esse assunto com os pequenos tem se tornado cada vez mais necessário. O que os olhos não veem, uma obra de prosa poética da grande Ruth Rocha, é uma ótima opção para iniciar uma reflexão em família sobre consciência política, autoritarismo, desigualdade social, cidadania e, além disso, representatividade política.

CONHEÇA O QUE OS OLHOS NÃO VEEM

O que os olhos não veem Capa
Escritora: Ruth Rocha
Ilustrador: Carlos Brito
Editora: Salamandra

Obra que vem conquistando gerações de leitores desde 1981, conta a história de um rei que, de repente, é acometido por uma doença estranha: só enxerga e ouve os grandes e fortes! Mas a gente pequenina, de voz fraca, fica esquecida. O povo aos poucos toma conhecimento dessa cegueira terrível, entretanto, encontra uma forma de se fazer ser visto. Assim, marcham contra a capital, exigindo ser ouvidos! E todos juntos, altos sobre pernas de pau, parecem para o rei uma assustadora floresta. E, confrontado pelas necessidades do povo, agora tão gigante, o rei foge sem nunca ouvir suas demandas.

No entanto, seu final fica aberto: o povo tomou o poder e passou a governar? Surgiu um outro rei? Será que o rei foi curado de sua doença e voltou a governar de forma justa? São muitas as possibilidades que a história nos oferece.





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o que os olhos não veem e as lutas populares

Podemos traçar vários paralelos entre O que os olhos não veem e momentos históricos que o mundo viveu, seja a Revolução Francesa ou o movimento Diretas Já, que lutou pelo fim da ditadura militar brasileira. Mas não precisamos voltar ao século passado para entender a importância e a força das lutas populares.

GEORGE FLOYD: um SÍMBOLO MUNDIAL

George Floyd, homem negro de 46 anos, assassinado em Minneapolis (estado de Minnesota, EUA) pelo policial branco Derek Chauvin, tornou-se símbolo do movimento Black Lives Matter (Vidas Pretas Importam) e da luta pelo fim da violência policial. Seu nome estampou cartazes que foram erguidos sobre multidões de milhares de pessoas, cujas vozes, clamando justiça, ecoaram por todo o mundo.

“Se a voz de um era fraca, juntando as vozes de todos mais parecia um trovão”

ruth rocha, em os olhos que não veem
O que os olhos não veem perna de pau

Mas essas vozes não ficaram apenas nas ruas: alcançaram o senado e as câmaras municipais e estaduais nos Estados Unidos que, por sua vez, criaram importantes propostas de lei para combater a impunidade em casos de violência policial, a discriminação racial e o uso excessivo de força. Frente a tantas injustiças, tantos casos de violência, a adesão em massa da população foi um ponto de virada para o movimento.

NOVOS GOVERNANTES, NOVAS INJUSTIÇAS

Como vimos, quando os apelos populares são ignorados, raramente há alternativa melhor (e mais efetiva) do que um levante do povo. Então, ao longo da História de todo o mundo, foram muitos os reis contagiados pela cegueira que acomete o personagem de O que os olhos não veem. E foram muitos os povos cujas vozes ganharam as ruas como trovões. Se quando os olhos não veem, o coração não sente, o povo entende que precisa ser visto para que sua dor seja sentida. E que esse ciclo se repete. Afinal, há sempre novos governantes, novas injustiças e povos dispostos a lutar pelos seus direitos:

“Todos naquele reino muito bem guardadas as
suas pernas de pau. Pois temem que seu governo
possa cegar de repente. E eles sabem muito bem
que quando os olhos não veem nosso coração
não sente.”

Ruth Rocha, em Os olhos que não veem
O que os olhos não veem reis fugindo

Ao lermos a história do rei, é muito provável que identifiquemos injustiças similares em nossa vida. O livro, entretanto, nos enche de esperança ao nos lembrar da força que é intrínseca ao povo. Uma força que se avoluma a cada década. A cada grito por liberdade.

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O QUE OS OLHOS NÃO VEEM e a coleção reizinho mandão

Autora há mais de 40 anos, Ruth Rocha é uma das escritoras de livros infantis brasileiras mais celebradas há gerações. E uma de suas coleções mais queridas é a Série Reizinho Mandão, da qual O que os olhos não veem faz parte.

Por meio da imagem do rei autoritário, que só ouve os fortes e grandes como ele, ou então que ordena silêncio até seus súditos perderem totalmente a voz, Ruth Rocha, com muito humor, traz à tona conceitos importantes para a formação do pensamento crítico e autônomo: democracia, relações de poder, liberdade, igualdade e tantos outros. São histórias muito potentes, repletas de camadas, que trazem reflexões tanto ao leitor criança quanto ao adulto com seu repertório.

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